Pais com enxaqueca têm 75% de chance de ter filho com o mesmo problema

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 5 de maio de 2018 às 01:11
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:43
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Cientistas usaram essa descoberta para criar uma pontuação capaz de avaliar predisposição genética

Uma forte dor de cabeça, sensibilidade
à luz, enjoo, quase sempre misturados, são todos sinais de uma enxaqueca. A
doença é considerada uma das mais incapacitantes pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) e tem na predisposição genética um fator importante para o seu
surgimento.

Segundo a Fundação Americana de
Enxaqueca, se pelo menos um dos seus pais tem o transtorno, sua chance de
desenvolvê-lo fica entre 50% e 75%. Para entender melhor quais os mecanismos
genéticos que transmitem a doença dentro de uma família, pesquisadores da
Universidade Helsinki e do Instituto Broad — que reúne cientistas da
Universidade Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts — realizaram
um dos maiores estudos sobre o tema, publicado ontem na revista Neuron.

A pesquisa usou o histórico médico
e informações genéticas de 1.589 famílias finlandesas que sofrem com a doença,
totalizando mais de 8.300 indivíduos. Um estudo anterior, com 59 mil
participantes, realizado pela mesma equipe, identificou 40 variantes genéticas
que aumentam consideravelmente o risco de se desenvolver enxaquecas, além de
centenas de outras mutações que têm um impacto mais sutil.

Os cientistas usaram essa descoberta para criar uma pontuação capaz de avaliar
a predisposição genética de uma pessoa para desenvolver o transtorno, e a
aplicaram nas famílias finlandesas. Os resultados mostraram que, para todos os
tipos de enxaquecas, os casos familiares são resultado de uma combinação de
diversas variantes que se acumulam ao longo do tempo. “Tanto as variações genéticas raras e de alto impacto quanto aquelas mais
comuns, com impacto menor, podem contribuir para a agregação da enxaqueca em
uma família”, disse Padhraig Gormley, do Instituto Broad, principal autor do
artigo. “Nesse estudo, nós queríamos encontrar quais delas são mais
importantes, e se a carga genética é mais alta em alguns tipos do transtorno”,
acrescentou.

Combinações

Existem vários subtipos de enxaqueca, entre eles: com ou sem aura;
e hemiplégica. A última é uma forma mais rara, causa dor extrema e sintomas
parecidos com os de um derrame ou um ataque epiléptico. Entre os participantes
do estudo, 2.420 foram diagnosticados com enxaqueca com aura, e 540 com a forma
hemiplégica. As informações genéticas dos membros das famílias foram comparadas
com o de uma amostra populacional de 15 mil finlandeses, com 1.100 casos do
transtorno.
Pesquisas anteriores atestaram que a doença pode afetar famílias de duas formas
diferentes, de acordo com o seu tipo.

Na herança poligênica, a enxaqueca surge como uma combinação de
diversos genes que se acumulam de geração em geração. Já na variedade
hemiplégica, acreditava-se que duas cópias de um gene herdado do pai e da mãe
eram suficientes para o seu surgimento.


Porém, o estudo mostrou que a herança poligênica é o mecanismo mais forte em
todos os tipos de enxaqueca, e o fator mais importante para o seu surgimento
está na quantidade de variações genéticas, e não a presença de mutações
poderosas, que foram identificadas em apenas quatro famílias com casos hemiplégicos.

Os pesquisadores observaram que, nos casos de enxaqueca com histórico familiar,
os pacientes possuem uma maior predisposição genética do que nos casos do
transtorno presentes na amostra populacional. Além disso, existe uma diferença
evidente entre as variantes genéticas comuns presentes nos diferentes subtipos
da doença. Indivíduos com o subtipo hemiplégico apresentaram o maior número de
mutações.

Também foram encontradas significativamente mais variações genéticas
em pacientes que desenvolveram o transtorno antes dos 20 anos de idade, em
comparação aos casos mais tardios. “Nosso estudo apoia a hipótese de que os subtipos
de enxaqueca são doenças geneticamente heterogêneas, e que a variação
poligênica comum contribui significativamente para a agregação do transtorno em
famílias, tanto nos casos comuns quanto nos raros”, afirma Aarno Palotie, da
Universidade de Helsinki e um dos autores do estudo. “Nós nos surpreendemos com
o impacto das variantes comuns nas famílias. Porém, grande parte da
predisposição genética a enxaquecas permanece sem explicação. É provável que
estudos futuros revelem mais variantes de risco”, opinou.

“Está claro que um tratamento focalizado,
personalizado baseado nas propriedades individuais dos pacientes será mais
seguro, eficiente e econômico do que escolher um medicamento através de
tentativa e erro”, disse Mikko Kallela, que também participou do estudo. “Esse
trabalho nos deixa um passo mais perto desse objetivo.”

“Nós nos surpreendemos com o impacto das variantes comuns nas famílias.
Porém, grande parte da predisposição genética a enxaquecas permanece sem
explicação. É provável que estudos futuros revelem mais variantes de risco” 

Sintoma prévio

Cerca de um terço dos pacientes com enxaqueca sofre com um
conjunto de sintomas, chamado de aura, que pode se manifestar como flashes de
luz, manchas escuras ou dormências e formigamentos em partes do corpo. A aura
acontece geralmente antes da dor de cabeça.


+ Saúde