Obesidade pode dificultar diagnóstico e tratamento do câncer de mama

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 19:28
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:34
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Estudo com 2 mil suecas mostrou que obesidade mascara a presença de nódulos malignos nas mamas

Mulheres obesas precisam de mais cuidados na prevenção do câncer
de mama, segundo um estudo sueco do Instituto Karolinska, apresentado no
encontro anual da Sociedade Radiológica da América do Norte.

O trabalho mostrou
que aquelas com índice de massa corporal (IMC) acima de 30 correm o risco de
descobrir os tumores apenas quando eles já estão grandes e, portanto, mais
difíceis de tratar e curar. Assim, os pesquisadores sugerem que pessoas com o
perfil realizem a mamografia com mais frequência. Médicos brasileiros, porém,
questionam essa recomendação.
Para realizar o estudo, os cientistas coletaram dados de mais de 2 mil mulheres
diagnosticadas com câncer de mama em Estocolmo, na Suécia, entre 2001 e 2008.
“Realizamos essa pesquisa para entender por que algumas mulheres não são
diagnosticadas até que o tumor esteja grande”, afirma Fredrik Strand, principal
autor do trabalho. “Examinamos muitas possíveis causas e descobrimos que o
índice de massa corporal e a densidade mamográfica estão relacionadas a isso”,
explica.

Segundo o pesquisador, a descoberta de que o IMC elevado torna
difícil a detecção dos tumores, mesmo nos exames, foi uma novidade.

Os pesquisadores acompanharam as pacientes até 2015 e concluíram
que tumores em mulheres com IMC elevado ou com a mamária densa não foram
detectados até que já tivessem chegado a 2cm, o tamanho de um amendoim. Esse
parâmetro é importante, pois é o que separa o estágio 1 do 2 da doença. Além
disso, trata-se do tamanho em que o nódulo se torna palpável, o que favorece o
diagnóstico precoce.

O mastologista José Roberto Filassi, chefe do Setor de Mastologia
da Divisão de Clínica Ginecológica da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (USP), esclarece que a densidade da mama é o que dificulta o
diagnóstico da doença e lembra que algumas mulheres não obesas também podem
apresentar esse problema. “A mama densa não tem sensibilidade, assim fica mais
difícil rastrear o tumor. Então, quem precisa de uma vigilância maior são
mulheres com a mama densa, sendo elas obesas ou não”, diz.

Por outro lado, já se sabe que o peso excessivo e o sedentarismo
são fatores de risco para o câncer de mama, o que aumenta o alerta para
mulheres que estão com índice de massa corporal elevado. “A recomendação é que
a pessoa tenha um peso corporal adequado para diminuir o risco do câncer”, diz
Arn Migowski, epidemiologista e chefe da Divisão de Detecção Precoce do
Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Estrogênio

A associação entre obesidade ou sobrepeso com o câncer de mama acontece
porque a gordura transforma outros hormônios em estrogênio, ou seja, quanto
mais gordura, maior concentração do hormônio. “O estrogênio é um dos fatores
que precisam estar presentes para que ocorra o câncer”, esclarece José Roberto
Filasse.
Segundo o Inca, a necessidade de fazer a mamografia é de uma vez a cada dois
anos entre 50 e 69 anos, o que se aplica também às pessoas obesas. Entretanto,
aquelas que fazem parte de grupos de risco precisam começar o rastreamento mais
cedo e com maior frequência, de acordo com a recomendação médica. Mulheres com
histórico familiar da doença (parentes de primeiro grau), aquelas com
determinadas mutações genéticas e que já foram diagnosticadas com outros
tumores malignos estão entre as com risco aumentado.


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