O ESTUDO DE PIANO TERAPÊUTICO

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 12 de maio de 2017 às 20:34
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
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O piano: um escultor da alma

Não foi por acaso que escrevi este livro e foi publicado há 3 anos.

Não há como desvincular a pessoa, seus sentimentos, suas emoções, seu desenvolvimento, seus traumas, suas características pessoais, do estudo do piano.

Antigamente tínhamos que aprender a ler as notas e tudo o que viesse indicando uma partitura e interpretá-la. Bastava.

Não existiam porquês, somente ações.

Por um lado era bom porque o fato de estar sempre se perguntando  algum porquê gera mudança, reflexão, autoconhecimento e muitas vezes não queremos adentrar este campo.

Mas por outro lado, todas as emoções contidas ou massacradas vão explodir em determinado momento da vida.

Vamos por partes; no meu caso, quando meu pai morreu no ano de minha formatura de piano, eu não sei definir o que eu senti naquele ano. Eu só queria desaparecer. Acabou o sentido. Tinha terminado o Ensino Médio e estava fazendo somente o Cursinho pré-vestibular para prestar Psicologia. Minha mãe pagando o curso de piano e o cursinho , escola da outra filha, mandando dinheiro pro filho em SP e tudo foi ficando muito difícil. Abandonei o cursinho pré-vestibular. E na metade do ano abandonei o piano também. Foi um pânico geral : – como abandonar um curso faltando 4 meses para terminar? Um curso que durou 11 anos … Eu não tinha mais forças. Me deixaram descansar um mês , sem frequentar as aulas todas de matérias teóricas , piano, etc. Mas assim que passaram os 30 dias vieram me implorar pra continuar o curso, em nome do esforço da professora, dos pais, enfim… Então me joguei no estudo de uma partitura no mês de Setembro. Eram 8 horas por dia estudando piano. Isso me fez mergulhar num outro mundo . O mundo real estava muito sofrido, eu não tinha condição de enfrenta-lo sem meu pai. Então o piano foi minha grande e fabulosa válvula de escape !

Com isso, na vida, meus problemas sempre caminharam a meu lado e não dentro de mim. Sempre o piano me salvava. O baú que cada um guarda dentro de si muito bem fechado, só pode ser aberto e limpo retirando aquilo que não mais é necessário, quando a pessoa estiver preparada para fazer esta limpeza e muitas vezes ela vai embora deste mundo com ele ainda fechado.

O estudo de piano provoca o autoconhecimento de tal forma que a pessoa se depara consigo mesma em todos os seus talentos e dificuldades. É incrível e parece milagroso mas não é.

A aprendizagem , o raciocínio lógico, as capacidades de dedução, abstração, concentração, domínio de corpo, domínio das emoções. Coordenação motora, sensibilidade, persistência, garra, enfrentamento do novo a todo instante, decodificação de símbolos transformando-os em sons imediatamente, e muito mais aspectos que vão aparecendo durante o estudo de piano oferecem esta visão de si mesmo e construção de um novo ser.

Então, como o piano pode servir apenas para o estudante ser um intérprete de outras pessoas? Não é somente isso e ao mesmo tempo é tudo isso. Só que ele vai sendo também intérprete de si mesmo.

*Esta coluna é semanal e atualizada aos domingos.


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