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Retomada do setor pode não ser capaz de corrigir desigualdades. Conquistar um financiamento continua difícil
Setor que mais sofreu com a pior recessão pela qual passou o Brasil, com 20 trimestres seguidos de queda até agosto deste ano, a indústria da construção civil começa a sair do atoleiro.
O crescimento, mesmo em cima de bases negativas, é surpreendente, afirma Luís Fernando Melo Mendes, economista, consultor e ex-diretor da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC). “Foi uma retomada realmente boa. Ainda assim, é possível que não corrija as desigualdades”, destaca.
“O que se percebe é que, mesmo com juros mais baixos para comprar imóvel, as condições para conseguir o financiamento não são propícias. É preciso ser cliente especial, ter seguro, aplicação, financiamento ou ser funcionário público”, lamenta. Com isso, a desigualdade permanece e a população com menos recursos continua sonhando de longe com a casa própria.
Outro desafio de conquistar um imóvel próprio, segundo Jucenar Imperatori, economista e consultor imobiliário, é enfrentar a economia da indivisibilidade, que esteriliza os recursos. “Se a pessoa tem renda limitada, pode ter problema futuro quando precisar abrir mão do bem. Significa ter um imóvel que custa caro e ser obrigado a esperar pela vontade de terceiros”, destaca. Mas o especialista reforça que é importante ter o conforto e o prazer de ser proprietário, além da alegria de fugir do aluguel, sem se esquecer das despesas — água, luz e condomínio.
A técnica judiciária do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) Helena Rodrigues Marino, 37 anos, venceu os desafios de comprar a casa própria. “Hoje, a prestação cabe no nosso bolso. É uma conta com a qual já me acostumei. Meu salário é alto e não chegamos a passar por dificuldades por conta das parcelas”, conta. Após morar com os pais por 30 anos, Helena conheceu o seu marido, Bruno. O casal decidiu morar junto e a busca por financiamento começou em maio de 2012. O sonho da casa própria se realizou em janeiro de 2013.
O apartamento em Águas Claras foi comprado por R$ 260 mil, financiado em 299 meses com juros de 7,9% ao ano. Helena diz que houve diversos problemas com a documentação. “Iniciei o processo na Caixa, mas optei por fazer tudo de novo no Banco do Brasil. Valeu à pena, apesar da tremenda burocracia. Tudo vai para São Paulo analisar. Deu problema umas três vezes. No total, foram nove meses para finalizar tudo e ter meu cantinho.”