Maioria das cirurgias de amigdalite são desnecessárias, diz estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de novembro de 2018 às 22:20
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:09
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Remover as amígdalas na infância pode triplicar o risco de doenças respiratórias como asma

Você provavelmente
conhece alguém que já fez cirurgia para retirar as amígdalas. O procedimento é
tão comum que gerou até uma polêmica: afinal, é mesmo necessário tirar essa
parte do corpo?

Um estudo mostrou
que remover as amígdalas na infância pode triplicar o risco de doenças
respiratórias como asma, pneumonia e gripe na vida adulta. Agora, uma pesquisa feita
na Inglaterra crava uma afirmação ainda mais surpreendente: nove em cada 10
operações para remover as amígdalas das crianças podem ser desnecessárias.

Antes de tudo, é bom lembrar o que são as tais das
amígdalas: órgãos do sistema linfático localizados na garganta, que estão
cheios de glóbulos brancos, ou seja, células de defesa. Durante a infância,
quando o sistema imunológico da pessoa está em desenvolvimento, as amígdalas
são essenciais no combate a agentes nocivos, como vírus e bactérias.

Os especialistas da Universidade de Birmingham
alertam que o procedimento de retirada desses órgãos pode fazer mais mal do que
bem. O estudo se baseou em um banco de dados que contém registros médicos
de todo o Reino Unido, e analisou os dados registrados entre 2005 e 2016 a
respeito de pessoas com até 15 anos. No total, foram considerados dados de mais
de 1,6 milhão de pacientes. A equipe descobriu que, em poucos desses casos,
havia sinais claros e inequívocos de que a operação era necessária.

Segundo os autores do estudo, essas evidências são
basicamente duas: uma condição rara chamada PFAPA (que inclui não só inflamação
nas amígdalas, mas também febre periódica, estomatite aftosa, faringite e
adenite cervical) ou um padrão de episódios graves e frequentes de dores na
garganta por causa das amígdalas.

Baseados nisso, os cientistas constataram que apenas
11% das crianças apresentavam os sintomas necessários para a cirurgia. O autor
do estudo, Tom Marshall, disse que o procedimento é usado em excesso, pois “não
há realmente uma base de evidências que diga que eles vão ver um benefício. Os
pacientes correm mais risco de ser prejudicados do que beneficiados”.

No Brasil, a cirurgia de amígdala também é
extremamente comum. Segundo Fausto Nakandakari, otorrinolaringologista do
Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, o procedimento é indicado apenas quando
há “amigdalites de repetição”, ou seja, 3 ou mais lesões graves em um período
de 3 anos consecutivos; ou em casos de inchaço do órgão — quando ele acaba
obstruindo as vias aéreas e causando ronco, apneia do sono ou respiração bucal.
O médico afirma que uma cirurgia feita nessas condições é muito benéfica, pois
evita que o paciente se submeta a um uso massivo de antibióticos.

Mas é essencial ter certeza que de fato há um
problema que justifique a cirurgia — e não sair por aí retirando órgãos
desnecessariamente.


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