Luto animal: como vivenciar a dor da perda do pet e superar sua ausência?

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  • Publicado em 16 de novembro de 2017 às 10:49
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:26
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Perder um animal de estimação costuma ser tão sofrido quanto perder um parente ou amigo

Quem já perdeu o melhor amigo – seja ele qualquer animal – sabe que, além da dor do luto, terá de enfrentar a incompreensão social. Apesar de os pets fazerem parte da família, muitas pessoas são incapazes de compreender que o sofrimento com a morte do bichinho costuma ser tão intenso quanto o causado pela morte de um parente.

A empresária Melissa Soares conhece esse sentimento. Em novembro, a gatinha Nina, companheira de 10 anos e a quem ela tinha como filha, foi diagnosticada com um câncer incurável. Depois de três meses, o organismo sinalizou que não estava suportando mais os medicamentos. A empresária teve de tomar uma decisão: deixar a quimioterapia e começar o tratamento paliativo, que, se por um lado encurtaria a vida da gatinha, por outra, garantiria maior qualidade de vida. Depois de quatro meses o câncer voltou. Para evitar mais sofrimento, Melissa decidiu pela eutanásia. “Tive todos os sintomas que temos quando uma pessoa morre. Nos primeiros três dias, recebi apoio, mas depois era aquela coisa de falarem ‘era só um gato”, relata. Inconsolável, ela procurou um terapeuta, quando ouviu uma lição preciosa: “Ele me disse que as pessoas não veem problema de chorar por causa de um iPhone quebrado, mas não entendem alguém que chora por causa de um animal”. As sessões foram fundamentais para Melissa enfrentar o preconceito.

Ressignificado

Segundo a psicóloga Vitória Faleiros, o luto é uma resposta natural a qualquer perda importante na vida. O luto é ausência do que foi perdido, seja uma pessoa ou um animal. “Essa ausência precisa ser vivenciada e não evitada. Todos estes sentimentos são reorganizados, ressignificados no processo do luto. É importante que a pessoa passe por essa fase naturalmente”, observa ela, que reconhece que as pessoas têm dificuldade em lidar ou falar da morte e, quando se trata de um animal de estimação, existe preconceito em relação ao luto pelo animal. “Já ouvi muito: ‘mas que bobagem, parece que morreu um parente’, não levando em conta o papel que o animal exercia em nossas vidas”, conta. 

Segundo a psicóloga Vitória Faleiros, o luto é uma resposta natural a qualquer perda importante na vida

Vitória explica que cada indivíduo vai vivenciar a morte de uma forma única. Assim como a vida, o morrer é encarado de formas diferentes, os sentimentos oscilam entre raiva, negação, aceitação, tristeza e, muitas vezes, depressão. “Reconhecer que nada é permanente e que tudo está em constante transformação nos ajuda a diminuir o grau de sofrimento que nutrimos diante das situações que vivemos, além de gerar um nível de desapego e um grau de discernimento que ajuda a compreender a natureza das coisas que nos cercam”, pondera.

Os pequenos sentem

E quando a perda de um bichinho envolve uma criança? Para os pais, é natural poupar seus filhos, porém a psicóloga alerta que é na infância que as perdas precisam ser trabalhadas. Por isso, colocar a criança a par do que esta acontecendo faz com que ela, quando adulta, possa encarar a morte como um processo natural. “Na ânsia de evitar o sofrimento da criança, o pai compra outro animal. Isto pode até acontecer, desde que esteja claro que um animal não substitui o outro e que o luto não pode ser evitado”, salienta Vitória, acrescentando que os pais devem ajudar a criança a elaborar esse momento e a fechar esse ciclo. “O ajudar através do respeito pelos seus sentimentos, observando suas mudanças de comportamento, como o choro, a raiva, que são formas como a criança pode expressar o que está sentindo. Fazer com que ela tenha a liberdade de expor seus sentimentos e fazê-la entrar em contato com eles de uma forma clara, a ajudará no seu fortalecimento emocional”, orienta.

NO FOCO

Vitória Faleiros – Psicóloga

CRP 06/112680

Telefone (16) 3721-6342