Jovem atendido pela APAE Batatais na década de 90 cursa medicina em ‘federal’

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  • Publicado em 18 de outubro de 2018 às 17:03
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:06
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No curso desde o início do ano, Fábio Soffiati Filho, de 21 anos, busca realizar o sonho de ajudar pessoas

Desde pequeno Fábio sonha em ser médico (Foto: Arquivo Pessoal)

Desde o mês de abril, o jovem batataense Fábio Soffiati Filho, 21, tem uma nova morada. O estudante universitário mudou-se para Uberaba para cursar medicina na Universidade Federal do Triângulo Mineiro, depois de anos dedicados aos estudos.

Fábio frequentou a APAE Batatais desde o seu nascimento até os nove anos de idade, retornando mais tarde entre os 14 e os 16 anos para acompanhamento. Ele foi diagnosticado com uma paralisia cerebral, possivelmente decorrente de prematuridade, que resultou no comprometimento dos seus membros inferiores.

Durante sua passagem pela instituição, recebeu atendimentos nas áreas de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, neurologia, psiquiatria e terapia ocupacional. Atendimentos que, segundo Fábio, foram cruciais para o seu desenvolvimento. “Foi na APAE que tive o primeiro contato com pessoas como eu, onde minha deficiência foi tratada para que as sequelas fossem minimizadas e onde eu aprendi a lidar com essa situação toda”, ressalta.

Foi também na APAE que ele entendeu a importância da participação da família na vida das pessoas com deficiência. “Um fator extremamente importante pra mim, e que pretendo trabalhar no futuro, é que os pais saibam lidar com a deficiência. Todo mundo tem limitações, mas o jeito de lidar com isso se transforma em estímulo. Eu consegui me desenvolver e chegar onde cheguei porque eu tive pessoas da minha família que disseram que eu era capaz”, diz o rapaz.

A deficiência, conta o jovem, sempre foi uma motivação para dedicar-se aos estudos e alcançar o sonho de ser médico. “Eu aprendi a ler com cinco anos. Eu lia e leio muitos livros. Sempre gostei de estudar e acredito que quanto mais você aprende, mais tem a aprender. É isso que me faz amar o que faço”, afirma o estudante.

Apesar de toda determinação, o futuro médico diz que sofreu e ainda sofre com o preconceito e pensou até em desistir do sonho. Fábio relata que muitas pessoas o enxergam na condição de doente, frágil e impossibilitado de cuidar. O período escolar também não foi fácil. Segundo ele, o ensino e a escola não são inclusivos e, até hoje, é ele quem se adapta. “Muitos diziam que eu não ia conseguir e deveria optar por profissões mais ‘fáceis’. Sofri muito, mas a dor me ensinou muitas coisas. O importante é transformar esse sentimento em alguma coisa produtiva”, aconselha.

Fábio é, sem dúvidas, um exemplo de dedicação e superação. Porém, quando questionado sobre seu sucesso, ele prefere minimizar seu destaque. “Só passei num vestibular e se é que posso dizer que isso é ter sucesso, eu dedico ele a todas as pessoas que me ajudaram e continuam me ajudando. Minha família que sempre me incentivou, os profissionais da APAE, da ABADEF, meus professores e amigos. Sou grato por ajudarem a realizar meu sonho”, enfatiza.

Para todos aqueles que buscam a concretização de seus sonhos, ele aconselha. “Não desista por mais que as pessoas digam que é ou que pareça impossível. Existem várias coisas que não dependem da gente, mas não tentar é uma deficiência”, complementa.

Apesar de estar no início dos estudos, o jovem já tem um propósito a seguir durante sua carreira. “Mais importante que um diagnóstico é saber como a pessoa se sente, seu anseio, do que ela precisa e em que contexto está inserida. É dar às pessoas a esperança que um dia me foi dada”, finaliza.


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