INVENTÁRIO DE NÓS

  • Língua Portuguesa
  • Publicado em 31 de dezembro de 2018 às 15:57
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:20
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Pense:

Quantos amigos sinceros fez neste ano? Quantas pessoas verdadeiramente interessantes conheceu? Quantas obras de arte o embasbacaram? Em quais livros mergulhou sem escafandro? Quais músicas entraram pelos poros? Foi ao teatro? Quais as obras arquitetônicas parou para se deliciar com a visão? Para quais lugares valeu viajar? Quais museus frequentou? Quais certezas o levaram a caminhos, que considerou tortos? Quais incertezas o lavaram tomar decisões, consideradas tortas, das quais não se arrependeu? Quais mentiras indecentes esteve predisposto a contar? Em que mentiras indecentes esteve propenso a acreditar? De quantas pessoas, consideradas desinteressantes, fugiu? Quantas vezes se arrependeu? Quantas vezes valeu a pena parar para admirar uma obra arquitetônica? Quanto valor deu ao aprendizado da história? Quanto valor dá ao conhecer, ao invés de decorar? Estudou filosofia e sociologia? O quanto sobre gente aprendeu? Quantos abraços deu? Quantas pessoas empurrou para fora do seu convívio com uma mensagem de watsapp? Por quantas pessoas realmente se apaixonou? Quantas pessoas odiou? Quantas pessoas realmente admirou?
Nosso mundo capitalista é quantitativo, contabiliza até emoções e fantasias. Você se tornou qualitativo? O quanto de conformismo ainda carrega? Ainda é capaz de argumentar? Defendeu seus ideais sem achismos ou fanatismos? Defende alguma causa social? Defende alguma causa ambiental?
Se você contabilizou tudo isso teve uma vida sem graça. Emoções, sensações e ideais é impossível contabilizar. Se você consegue, não viveu. Foi nuvem que passou e não fez chover.

Contabilize:

Comprou um terreno? Uma casa? Um carro importado? Enfurnou-se em uma mansão em um luxuoso condomínio fechado? Adquiriu um luxuoso apartamento à beira mar? Adquiriu alguma fazenda? Entrou para o seleto clube da elite? Comeu nos melhores restaurantes sem precisar conferir a conta? Viajou para a Disney, porque esse era o seu único propósito para acumular? Realizou todos os seus sonhos de consumo? Deixou de ser mais um na multidão, agora é celebridade? Virou doutor, mesmo não tendo doutorado? Passou a ser reverenciado por um bando de puxa-sacos? Passou a ser agraciado com prêmios que precisa comprar para receber? Passou a ser chamado de pessoa bem sucedida e por isso estampa capas de revistas? Anda cercado de seguranças? O mundo capitalista exige o bolso e a consciência, você está disposto a entregar-se de corpo e sem alma? Você, em algum momento, parou para pensar, ou se deixou levar pela onda consumista? Sua maior terapia é comprar, inclusive pessoas? 
Para você, somos o que somos ou o que pagamos para ser? Quanto você vale? 
O mundo capitalista contabiliza o concreto, só por causa dele as pessoas creem no sucesso. 
Só por causa desse tipo de acumulação, o ano é considerado por nós um ano repleto de realizações.

Feliz vida, repleta de conquistas, desejo-lhe, paciente leitor.


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