IMA recebe 40 mil pessoas por mês para cirurgias espirituais em Franca

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 30 de abril de 2018 às 14:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:42
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Instituto de Medicina do Além, fundado por João Berbel, atrai pacientes em busca da cura por meio da fé

De um lado, uma foto do francês Hippolyte Rivail, ou Allan Kardec (1804
– 1869), conhecido como codificador do espiritismo. Do outro, um quadro do
médico e ex-prefeito de Franca, dr. Ismael Alonso y Alonso (1908-1964).

Ao centro, o médium João Berbel, de 62 anos, que ora e canta diante de
milhares de pessoas em busca de curas e respostas naquele que é conhecido como
um dos maiores hospitais espíritas do país.

Senhas, fichas de atendimento, farmácia, consultas e retornos. Tudo
parece evocar um centro médico convencional no Instituto de Medicina do Além
(IMA), complexo de oito mil metros quadrados localizado no Recreio Campo Belo,
na zona norte de Franca. Mas por aqui o bisturi dá lugar à oração e à
mediunidade de Berbel, que há mais de 20 anos realiza cirurgias espirituais
gratuitas.

Segundo ele, o bem maior que tantos ali procuram é proporcionado pelo
espírito de Alonso, concretizado pela imposição das mãos e do pensamento, sem
cortes. “Todos os dons são mediúnicos, porque têm acompanhamento de uma
ação espiritual, de uma energia magnética”, descreve Berbel.

O saguão principal funciona como antessala para as consultas e cirurgias
espirituais, que acontecem às quartas e sábados. O reconhecimento daqueles que
garantem ter obtido a cura mobiliza por mês até 40 mil pessoas de diferentes
partes do país ou mesmo do exterior. “É
minha segunda casa. Em 1999, fiz uma cirurgia de diverticulite. Não podia comer
nada que tivesse semente e fui curado”, afirma Augusto Raimundo, de 65
anos, encarregado de limpeza pública em Franca.

Para a diverticulite de Raimundo, uma gripe ou para o mais severo
câncer, as intervenções mediúnicas, acompanhadas por medicamentos fitoterápicos
produzidos na instituição, são aqui anunciadas como um poderoso complemento aos
tratamentos convencionais.

A
ideia do presidente do IMA e um dos voluntários que lá atua é corroborada pelo
médico José Sebastião dos Santos, professor de cirurgia da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP). Segundo ele, há evidências científicas
de que a associação com a fé é benéfica a pacientes que recorrem a uma
atividade complementar. “Isso feito inclusive para algumas doenças,
doenças crônicas tipo infarto, câncer, muitas vezes faz com que a pessoa que
procura essa alternativa de tratar do corpo, mas também tratar da alma, do
espírito, acabe se encontrando, adote bons hábitos e isso ajuda a melhorar a
sua condição geral”, diz.

Realizada
em segundos, com toque de algodão sobre a pele e curativos que mais exercem
efeito visual sobre os atendidos, a cirurgia espiritual é apenas uma etapa do
trabalho do IMA, que começa na consulta, semanas antes, passa por um tratamento
fitoterápico e por uma dieta sem carne e bebida alcoólica. “No dia de consulta, a pessoa é recepcionada, são distribuídas
senhas a essas pessoas. Elas são acomodadas no nosso salão principal, o nosso
atendimento tem início por volta das 20h, às quartas-feiras, e por volta das
12h no sábado”, explica o voluntário Wanderley Arruda, de 62 anos.

Em uma dessas quartas-feiras, a aposentada Normira Ferreira da Silva, de
71 anos, deixou Uberaba (MG) para ir a Franca com a irmã para tratar de dores
na coluna e nas pernas. Para ela, o trabalho da cirurgia foi rápido, mas valeu
a pena e rendeu os primeiros sinais de melhora. “Eu não sei nem te
explicar, porque parece que você adormece”, conta.

Ao término das consultas e cirurgias, a sopa repleta de aromas e o chá
de ervas como hibisco preparado pelos voluntários também adquirem papel
especial na melhora e na acolhida dos pacientes, afirma José Telini, chefe da
cozinha do IMA.

Segundo ele, em um único dia, são consumidos até 500 litros de sopa.
“Fazemos um negócio diferente. Colocamos açafrão, colocamos muito hortelã,
orégano. Nós colocamos bastante alho, cebola, tudo coisinha simples”, diz.

Dos alimentos servidos aos materiais usados na cirurgia, tudo que ali se
utiliza é oriundo de doações, das vendas dos mais de 250 livros psicofonados
por Berbel e editados pelo instituto e de créditos destinados pelo programa
“Nota Fiscal Paulista”.

Por mês, a instituição tem um
gasto médio de R$ 120 mil. “Não dê dinheiro aos nossos voluntários,
ninguém nessa casa está autorizado a receber”, afirma o médium João
Berbel. 

Epilepsia e mediunidade

Assim como Bezerra de Menezes (1831-1900) e Chico Xavier
(1910-2002), referências brasileiras do espiritismo, Berbel foi criado no
catolicismo, em uma família agrícola de Restinga. Na infância, o que mais tarde
ele entendeu ser uma forma de mediunidade manifestou-se com epilepsias até
então controladas com medicamentos de tarja preta. “Às vezes eu caía, eu
via meu corpo estendido no chão e as pessoas em volta de mim”, diz.

Manifestações que, de acordo
com ele, somente acabaram em definitivo décadas depois, quando, ao conhecer o
espírito de Ismael Alonso y Alonso, se convenceu de sua missão em ajudar o
próximo. “Naquele momento parecia que o chão tinha acabado embaixo de mim,
tive medo, aquele medo, aquela coisa, aquele arrepio, aquelas coisas todas. E
naquele transe mediúnico para mim, ele passando aquelas informações para
mim”, descreve.

Hoje, atuar no centro espírita como intermediário de Alonso também
representa para ele uma forma de se livrar dos próprios males, afirma Arlete
Berbel, mulher do médium. “O trabalho dentro da doutrina foi o remédio do
João para se curar. No caso dele foi desenvolver a mediunidade. Ele está
trabalhando até hoje, porque até hoje, se ele não trabalhar, ele vai para cama,
ele fica doente”, afirma.

O trabalho de Berbel convenceu pacientes como a aposentada Cleusa de
Souza Araújo, de 60 anos, que há dois anos frequenta a unidade em busca de
tratamentos e palavras de conforto.

Ela garante que um tumor no fígado desapareceu depois de recorrer ao
hospital espírita em Franca. “Se você tem fé é curada, não adianta vir
aqui sem fé e sem fazer os retornos que não tem resultado. A fé cura, João
Berbel é um instrumento.”

Para o médium, a resposta positiva de pessoas como Cleusa é o que tem
ajudado o centro a crescer e ampliar sua função social.

Hoje, além dos trabalhos ligados à espiritualidade, sessões de
cromoterapia e reiki, o instituto faz doação de cestas básicas a famílias
carentes e atende crianças em situação de vulnerabilidade na Escola Madre
Teresa de Calcutá, também ligada ao IMA.

A próxima etapa, segundo Berbel, é inaugurar um hospital para pacientes
terminais com câncer, esperado há anos. Em fase de ajustes finais, a estrutura
anexa ao prédio do IMA deve entrar em funcionamento ainda este ano, diz o
médium. “A gente vê uma dificuldade tão grande de uma família toda que
está com o doente e não sabe o que faz, não pode manter num hospital, porque às
vezes é caro, não pode pagar. Nós queremos trazer para cá essas pessoas e
acreditar que milagre existe e que não devemos nunca perder a esperança.”

Se depender de voluntários como José Telini, há 15 anos no IMA e um dos
mais velhos da casa, esse é só o começo. “A gente tem amor pelo trabalho
que a gente faz”.


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