Grandes hospitais têm até 11% de casos de infecção hospitalar, diz pesquisa

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de maio de 2017 às 10:40
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:11
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Observados somente pacientes em pós-operatório, a prevalência de infecções cirúrgicas foi de 9,8%.

Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que as infecções hospitalares são 5 a 20 vezes mais frequentes nos países em desenvolvimento. 

Apesar disso, pouco se sabe sobre o impacto desses agravos no Brasil.

Essa é uma lacuna importante, pois recente estudo europeu identificou que seu impacto sobre morbidade e mortalidade supera aids, influenza (gripe) e meningites.

Estudos conduzidos na Faculdade de Medicina de Botucatu/Unesp (FMB), isoladamente ou em cooperação com outras instituições, estão ajudando a revelar a nova face das infecções hospitalares no país. 

Nos últimos anos, uma pesquisa conjunta da FMB com a Escola Paulista de Medicina (Unifesp) e Escola de Enfermagem da USP, com cooperação de outras oito instituições, realizou um diagnóstico da prevalência dessas infecções e da estrutura existente para prevenção e controle em hospitais de dez Estados. 

O estudo foi realizado com financiamento do CNPq, em resposta a edital do Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) do Ministério da Saúde.

Resumidamente, foram estudados 152 hospitais. 

Visitas foram realizadas por 40 profissionais treinados para coleta de dados, entre os anos de 2011 e 2013.

Primou-se pelo rigor no registro e análise dos dados. E o quadro que emergiu desse estudo é impressionante.

Em primeiro lugar, identificou-se uma prevalência de infecções hospitalares de 10,8%. Para hospitais de grande (200 leitos ou mais) médio (50 a 199 leitos) e pequeno porte (<50 leitos) as taxas foram de 13,5%, 7,7% e 5,5%, respectivamente.

Predominaram as pneumonias (prevalência de 3,6%), mas se observados somente pacientes em pós-operatório, a prevalência de infecções cirúrgicas foi de 9,8%.

No Brasil, os hospitais são obrigados a manter Comissões de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH), que devem realizar ações para reduzir incidência e impacto desses agravos. 

Porém, enquanto os hospitais de grande porte realizavam em média 96% das atividades requeridas a essas comissões, essa taxa era de somente 51% nas instituições com menos de 50 leitos. 

Estas também tinham sérios problemas na estrutura para esterilização de materiais e pias para lavagem das mãos.

Um único resultado foi positivo: a grande disponibilidade do álcool gel nos hospitais brasileiros.

Tendo em vista os resultados acima, novos estudos da FMB passaram a abordar os pequenos hospitais. 

Estes representam mais da metade dos serviços hospitalares brasileiros, mas são pouco estudados.

Três dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais abordaram diferentes aspectos das infecções hospitalares nos hospitais de pequeno porte.

Em primeiro lugar, identificou-se relevante taxa de infecções de ferida cirúrgica (8,1%) após procedimentos realizados em três pequenos hospitais do Estado de São Paulo. 

Posteriormente, um estudo incluindo 48 hospitais de pequeno porte no interior do Estado documentou intenso uso de antimicrobianos, inclusive aqueles de amplo espectro, que podem propiciar infecções por microrganismos resistentes.

Um terceiro estudo registrou circulação de uma bactéria resistente a múltiplos antibióticos em um pequeno hospital. 

Esse serviço funcionava como fonte, a partir da qual a bactéria (enterococo) se transferia para outro hospital de maior complexidade.

Ao abordar um aspecto negligenciado por estudos, a FMB tem colaborado para a elaboração de políticas públicas voltadas à prevenção e controle das infecções hospitalares.

É preciso ter em mente que as infecções hospitalares causam milhares de mortes anualmente no Brasil. 

Medidas simples (higiene das mãos, as normas de isolamento, uso prudente de antibióticos e boas práticas na realização de procedimentos invasivos) podem salvar vidas.

Histórico

Em maio de 1842, o médico húngaro Ignaz Semelweis estabeleceu, no Hospital Geral de Viena, Áustria, a obrigação de lavagem das mãos antes da realização de partos. 

Essa medida extremamente simples resolveu o gravíssimo problema da febre puerperal, que causava a morte de mais de 10% das gestantes internadas naquele hospital. 

Por essa razão, existe uma data escolhida (15 de maio) para simbolizar o combate constante às infecções hospitalares, também conhecidas como “Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde” (IRAS).


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