Gagueira atinge 1,8 milhão de pessoas no Brasil, e maioria já inicia na infância

  • Entre linhas
  • Publicado em 24 de novembro de 2016 às 23:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:02
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Muito mais que uma disfluência, a gagueira atinge o âmbito psicológico e social das crianças

Para a pessoa que gagueja, falar não é uma atividade natural, mas algo trabalhoso. O escritor Machado de Assis e o “pai” da medicina, Hipócrates, dois gagos famosos, que o digam.

Hoje em dia, aproximadamente 1% da população apresenta o mesmo problema, em uma proporção de quatro homens para cada mulher. Só no Brasil, 1,8 milhão de pessoas, de acordo com o Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica – Cefac. E a grande maioria dos casos começa mesmo na infância. “Algumas crianças entre dois e seis anos são ocasionalmente disfluêntes e esse período não deve ultrapassar seis meses”, alerta a fonoaudióloga Paula Castro Alves, acrescentando que se isso acontecer, as mães devem dar uma atenção especial ao desenvolvimento da fala fluente de seus filhos, pois ele pode estar desenvolvendo a gagueira, patologia diretamente relacionada com o equilíbrio entre o ambiente e os aspectos individuais nas áreas motora, lingüística, social, emocional e cognitiva da criança.

Muita gente acredita que o distúrbio resolve-se por si só. Não se deve, no entanto, deixar o tempo passar sem tomar qualquer atitude. Na verdade, a criança não gagueja para chamar a atenção, mas porque provavelmente apresenta um mau funcionamento de áreas do cérebro relacionadas à temporalização da fala. Trata-se de um distúrbio da fluência caracterizado por interrupções anormais no fluxo da fala, prejudicando assim, sua produção natural e suave. Para melhor compreensão da gagueira, é importante diferenciar a disfluência comum de fala da disfluência gaga.

De acordo com a fonoaudióloga, disfluências são interrupções que ocorrem durante o processo de produção de fala. As disfluências comuns são apresentadas por todo falante, caracterizando-se por hesitações, uso desnecessário de vocábulos, acréscimo de interjeições, repetição de palavras ou parte do enunciado e outras. As disfluências gagas caracterizam-se por repetição de sons ou sílabas; prolongamento de sons; bloqueios, geralmente no início da frase; pausas inapropriadas na tentativa de evitar a gagueira e a intrusão que é a utilização de sons não pertinentes ao contexto.

Em maiores dimensões

Crianças afetadas pela gagueira geralmente sofrem muito, pois tentam controlar a própria fala e não conseguem, o que acaba gerando tiques como piscar os olhos, movimentar braços e mãos, resultando em constrangimentos e angústia. “Às vezes no contexto social e escolar acabam sendo hostilizadas e focos de piadas”, explica a psicóloga Tânia Regina de Oliveira.

No âmbito psicológico, a gagueira está relacionada a uma sensação de ficar sob pressão, medo de incertezas e de falar. “A gagueira expressa  e gera uma aflição da alma, uma obstrução que se reflete na fala”, sintetiza a psicóloga.

Tânia orienta que um espaço de compreensão e auxílio precisa ser criado. O paciente precisa entender seu mundo afetivo, lidar com seus medos e incertezas, fortalecer o ego e “ganhar o mundo” em segurança. “A autoconfiança, a desmistificação do erro, a aceitação de si mesmo fazem a fala fluir”, salienta Tânica.

Atualmente, o diagnóstico de gagueira deve é realizado por meio da observação e análise do comportamento comunicativo da criança, dos fatores psicossociais e compreensão do histórico familiar e clínico do paciente. Dados de exames neurológicos e psicológicos são essenciais para o fechamento do diagnóstico e definição de conduta. Por isso, não hesite em procurar ajuda e orientações de profissionais da área.