Frio aumenta em 30% chances de internação por problemas cardíacos

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de junho de 2018 às 19:08
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:48
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Qualidade do ar juntamente com o frio aumentam os aspectos de riscos, de acordo com dados do SUS

Entre junho e
agosto, meses marcados por temperaturas mais frias, as internações nos hospitais
públicos no estado de São Paulo por insuficiência cardíaca e infarto chegam a
ser 30% maiores do que no verão. É o que mostra estudo inédito realizado por
médicos da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

A pesquisa, liderada pelo cardiologista Eduardo Pesaro
considerou todas as internações por insuficiência cardíaca (76.474 casos) e
infarto agudo do miocárdio (54.561 casos) registradas em 61 hospitais públicos
paulistas entre janeiro de 2008 e abril de 2015.

Os dados fazem parte do Cadastro Nacional de Saúde, do Sistema
Único de Saúde (SUS). Foram consideradas também as temperaturas mínima, máxima
e média em cada período ao longo desses sete anos, registradas pela Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). “Provavelmente isso se dá por
fenômenos múltiplos como o frio e a qualidade de ar como principais aspectos de
risco. As pessoas que estão em maior risco e que já são doentes, com pressão
alta, diabetes, devem ter uma atenção
especial nesse período e maior controle como tomar corretamente o remédio e
medir a pressão”, aconselhou o cardiologista.

A pesquisa mostrou ainda que o número médio de internações por
insuficiência cardíaca no inverno foi maior em pacientes com mais de 40 anos.
Já as hospitalizações por infarto foram registradas em maior número em
pacientes com idade superior a 50 anos. De acordo com o cardiologista, as
causas do aumento do risco cardiovascular no inverno não estão diretamente
ligadas à queda do ponteiro do termômetro, mas às condições ambientais e
socioeconômicas de São Paulo. “Inverno não significa só frio, mesmo porque em
São Paulo ele é ameno, com temperatura média de 18 graus e variação de
apenas 5 graus. Ele também significa poluição aumentada, crescimento de
epidemias provocadas pelo vírus da gripe, o Influenza, além do tempo seco”, diz
Pesaro.

Poluição

Com uma população de quase 12 milhões de habitantes e uma frota
de 8,64 milhões de veículos (incluindo caminhões e ônibus), São Paulo fica mais
poluída no inverno. A baixa umidade, chuva reduzida e as frequentes inversões
térmicas (quando o ar frio é bloqueado por uma camada de ar quente e fica preso
perto da superfície) são condições que impedem a dispersão de poluentes como
monóxido de carbono (CO), dióxido de nitrogênio (NO²), dióxido de enxofre (SO²)
e material particulável inalável (PM10). “Temperatura baixa, pouca umidade e
alta poluição contribuem para uma maior incidência de doenças respiratórias e
gripe, com o consequente aumento do risco cardiovascular”, explica Pesaro.

Uma das hipóteses
levantada no estudo é de que o aumento do risco de infarto e de insuficiência
cardíaca no inverno está relacionado às condições socioeconômicas da população.
De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,
na região metropolitana de São Paulo, 596.479 casas são consideradas
subnormais, como assentamentos irregulares, favelas, invasões, palafitas,
comunidades com deficiência na oferta de serviços públicos básicos, como rede
de esgoto e tratamento de água, coleta de lixo e energia elétrica. A capital
paulista concentra dois terços
desse total ou 397.652 lares. “Em São Paulo, uma população mais desamparada,
com casas improvisadas ou sem aquecimento, mais exposta à poluição e ao frio
pode apresentar mais risco de ter doenças
cardíacas no inverno que uma pessoa que mora em um país de clima temperado, mas
está mais protegida por ter
calefação na residência e roupas melhores”, diz Pesaro.

Para se proteger,
ele recomenda que as pessoas que têm condições, aqueçam bem a casa. “Um
aquecedor portátil ajuda em semanas mais extremas de frio. Outra coisa é tratar
do vazamento de ar frio por janelas, portas e telhado. E também se agasalhar
melhor, pois tudo isso contribui com a proteção, a ideia é não expor ao frio as
pessoas que têm maior risco, como idosos e doentes cardiovasculares”.

Ele ainda ressalta a importância da vacinação. “As epidemias
virais e as gripes aumentam o risco cardíaco, vacinar-se especialmente nas
vésperas do outono e inverno é importante também”. 

O que acontece com o coração

O frio faz os vasos sanguíneos se contraírem e eleva a liberação
de adrenalina, o que faz subir a pressão arterial. Além disso, o aumento da
poluição contribui para doenças respiratórias que sobrecarregam o coração. Já o
Influenza (vírus da gripe) é capaz de causar inchaço ou inflamação das
coronárias, com a possibilidade de liberar as placas de colesterol nela
depositadas. As placas, por sua vez, podem causar bloqueios e interromper o
fluxo sanguíneo.

Para Pesaro, o governo precisa investir em políticas públicas
que melhorem a qualidade de vida da população. “As pessoas e os governos têm
que cuidar melhor daqueles indivíduos em maior risco durante o inverno. Quem
tem risco deve regularizar o controle das suas próprias doenças, como por exemplo,
pressão alta, que sabemos que aumenta no inverno, lembrar de tomar os remédios,
fazer a medida da pressão com periodicidade e tentar não passar frio mesmo
dentro de casa”, aconselha.


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