Fóssil raro de inseto voador é encontrado na Bacia do Araripe (CE)

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 28 de outubro de 2020 às 21:59
  • Modificado em 29 de outubro de 2020 às 18:52
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Análises do inseto ajudam a conhecer o ambiente passado

Um fóssil de inseto voador foi encontrado na Formação do Crato, na Bacia do Araripe, no sul do estado do Ceará. Considerado raro pelos pesquisadores, esse é o segundo fóssil de adulto da família Oligoneuriidae a ser catalogado no mundo. 

A descoberta foi feita por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Universidade Regional do Cariri (URCA) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV). 

O artigo que descreve o achado foi publicado nesta quarta-feira (28) na “PLOS One”, revista científica de acesso livre disponível apenas online, publicada pela Public Library of Science. Assinam o artigo Arianny P. Storari, Taissa Rodrigues, Antônio Á. F. Saraiva e Frederico F. Salles.

O fóssil é um representante da ordem Ephemeroptera, também conhecidos como efêmeras, que são insetos voadores que vivem poucos dias durante sua vida adulta, às vezes até minutos. Durante a sua fase larval, as efêmeras são aquáticas. Ele foi coletado no município de Nova Olinda por uma equipe de paleontólogos da Universidade Regional do Cariri.

Os pesquisadores acreditam que as informações obtidas por meio da análise desses insetos podem ajudá-los a conhecer o ambiente em que essa espécie viveu e até os estresses climáticos que essas espécies podem ter experimentado, principalmente suas larvas aquáticas.

“No caso desse trabalho, conseguimos entender muito mais da evolução desse grupo específico de insetos, por exemplo, como suas características anatômicas se modificaram ao longo do tempo, ou desde quando o grupo existe. Mas, em trabalhos onde usamos os fósseis para entender o ambiente pretérito, podemos chegar a conclusões até sobre o clima no passado, dependendo da análise feita. Ao ter dados históricos sobre o clima pretérito, podemos compreender tendências futuras”, explicou a primeira autora do estudo Arianny Pimentel Storari, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFES. A bióloga faz parte do Laboratório de Paleontologia da UFES e tem experiência em insetos aquáticos fósseis e viventes.

Segundo os pesquisadores, muitos representantes do grupo das efêmeras podem ser considerados importantes bioindicadores de qualidade da água, já que são sensíveis às variações do meio onde vivem.

Trata-se de um inseto adulto que representa, além de uma nova espécie, um novo gênero e uma nova subfamília, dadas suas peculiaridades. 

A rocha onde o fóssil foi encontrado é datada do Cretáceo Inferior, entre 113 e 125 milhões de anos atrás, quando a África e a América do Sul ainda estavam se separando.

As principais peculiaridades do inseto estão na distribuição das veias das asas, que são as nervuras da asa. “Essa distribuição combina um padrão onde algumas veias tendem a se juntar, que está presente na maioria dos representantes da família Oligoneuriidae (família a qual esta nova espécie pertence), esse padrão de junção de veias se mistura também com um padrão considerado ancestral onde as veias das asas não são reduzidas, que está presente no restante das efêmeras”, expliocu Arianny.

Espécie Rara

O fóssil, que foi incluído na família Oligoneuriidae, foi nomeado Incogemina nubila, que significa geminação incompleta em latim, referente ao padrão das veias de suas asas. O termo nubila significa nublado, dada a coloração acinzentada do calcário em que o fóssil se preservou. 

Segundo o entomólogo Frederico Salles, a distribuição das veias das asas de Incogemina combina um padrão no qual algumas veias longitudinais tendem a se juntar, como na maioria dos representantes da família Oligoneuriidae, com um padrão ancestral, típico das demais efêmeras. “Essa é principal característica que faz essa nova espécie ser única”, destacou.

Os fósseis dessa ordem de insetos aquáticos são abundantes na Formação Crato, porém aqueles da família Oligoneuriidae, em particular, são muito raros. 

Esse é apenas o segundo fóssil de um adulto desta família encontrado no mundo, e os pesquisadores constataram que um outro fóssil conhecido e reportado na literatura também representa a espécie Incogemina nubila. 

“Uma das explicações para a escassez de fósseis desse grupo pode se dar pelo seu hábito de vida. Durante a fase jovem, a maioria das larvas da família Oligoneuriidae vivem em ambientes com fluxo d’água corrente. Esse tipo de ambiente não é propício para a preservação de um inseto tão delicado, dado que a correnteza destruiria suas partes mais sensíveis, dificultando a fossilização”, explicou a pesquisadora Arianny Storari.

A paleontóloga Taissa Rodrigues destaca que o espécime no qual Incogemina nubila foi baseado é um dos poucos fósseis da Bacia do Araripe do qual se conhece a proveniência. 

“Apesar de outras espécies de efêmeras serem conhecidas para esse depósito fossilífero, elas foram coletadas de forma ocasional, e não há nenhuma informação sobre o local do achado. Como conhecemos o local onde a Incogemina nubila foi encontrada, é possível planejar coletas para buscar mais fósseis dessa espécie rara”.

“Agora que a primeira escavação controlada na Formação Crato foi realizada pela equipe do Laboratório de Paleontologia da URCA, certamente novas informações acerca da evolução das efêmeras devem surgir, além de dados sobre o ambiente pretérito da Formação Crato, área de intensa exploração do calcário laminado”, disse o paleontólogo Álamo Saraiva.


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