FOFOCAS MUSICAIS OS INSTRUMENTISTAS DAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO

  • Fofocas Musicais
  • Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 13:02
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:23
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Amigos! Bem vindos a 2020!

​Na madrugada do dia 02 para 03 de Janeiro de 2020 meu escritório foi alagado por uma intensa chuva que descia torrencialmente da lâmpada de uma às cinco da manhã, quando fiquei baldeando água em baldes, bacias e banheirinha sem parar. A partir deste dia começou a maratona de me desfazer de tudo o que estava estragado, selecionar o que era de quem e encaminhar, chamar profissionais para orçamentos e acionar o seguro que me lembrei que pago há muitos anos.

            Pois bem… veio um profissional com muito boa vontade, detectou os problemas e me orientou o que fazer, se colocou `a disposição mas com limitação de agenda, também não tinha a documentação necessária. Comecei a busca e um carpinteiro que já fez a parte de trás da casa veio socorrer, trouxe lona para cobrir o telhado pois a chuva não dava folga para nada, e me indicou outros profissionais: pedreiro, calheiro, eletricista, pintor e fomos começando sabe Deus como ( sim, e foi Deus na frente em tudo) a acudir o necessário. Segundo previsões, o telhado só poderia mexer daqui 2 meses quando parassem as chuvas, então ficou coberto com a lona até que São Pedro desse uma folga e pudessem pelo menos diagnosticar. Foram muitas pessoas que vieram nesta jornada. Neste momento a gente conhece verdadeiramente o ser humano, no seu trabalho, em sua maneira de ser, sua honestidade ou não, seu compromisso em resolver e não somente buscar o dinheiro por um serviço mais ou menos concluído, quem enrola pra dar impressão que foi mais difícil do que se esperava e por isso cobrar mais, quem faz devagar mas com capricho e tentando atender às necessidades e temos que manter a calma.

            Os instrumentistas dos martelos, das maquitas, dos alicates, das talhadeiras, das furadeiras, das pás e carriolas, das enxadas, dos metros, ou trenas, dos níveis, das desempenadeiras, colher de pedreiro, espátulas, das escadas, dos baldes, vassouras rodos  e panos que vão arrebanhando na casa, dos pregos e parafusos, da serradeira elétrica ou serrote, dos alicates de piso ou alicates comuns, e tantos outros ‘ instrumentos’ que não sei nomear.

            Fiquei pensando em todos estes instrumentos que fazem muito barulho se pudessem fazer música!

            Pensei numa forma de valorizar estes profissionais que muitas vezes se sentem desmotivados neste serviço bruto, mas quando a obra fica pronta a beleza e o conforto realçam cada etapa vivida muitas vezes com desgostos e desprazeres. Não precisa ser assim. Não deveria ser assim. E penso que as escolas de formação de mão de obra poderiam oferecer as estes profissionais um curso sobre como melhor atender ao cliente, como se aperfeiçoarem em seu trabalho, como respeitar o espaço onde estão trabalhando e fazerem os sons da construção se tornarem música para os ouvidos e suas vozes serem bálsamo para quem os ouve.

            Conversei com várias pessoas que passaram por este momentos de ‘ reforma’ dentro de casa ou mesmo construção sem estarem presentes e todos se queixam da mesma coisa: por que precisamos fiscalizar o serviço? Por que não cumprem prazos ? Talvez se conhecessem o valor da semibreve, da mínima , colcheias, das pausas e dos sons emitidos pelas notas, pudessem otimizar seu tempo, tendo prazer na construção ou na reforma. Lembro-me agora da música  “Cidadão”  ‘ ta vendo aquele edifício moço ? ajudei a levantar ‘…  de Zé Geraldo. E num lamento o pedreiro vê que o grande edifício agora é uma escola onde o filho dele não pode entrar. A vida é repleta de nãos, de diferenças e de diversidades. Muitos lugares eu também não posso entrar, embora tenha ajudado na formação daquelas pessoas que estudaram um dia e me tiveram como professora. Mas isso é uma lei da vida, não há que se lamentar. Só há o que compreender que tanto a grama quanto o coqueiro tem seu valor e estão nos seus devidos lugares.

            A realidade que eu gostaria de transformar é a realidade dos sons. Veio-me hoje uma vontade louca de chegar numa loja de materiais de construção e pedir que patrocinem a ORQUESTRA DA CONSTRUÇÃO. Já imaginaram? Todas aquelas ferramentas fazendo música? Fazer um trabalho com estes profissionais para se manifestarem através de seus instrumentos de trabalho levando o que há de mais profundo na alma humana : cantando e tocando… reformando e construindo um mundo melhor. Respeitando quem os contratam, cumprindo prazos como numa partitura se cumprem as regras de quanto se espera numa pausa, numa figura de nota , ou como se emite determinado som!

            Assim eu contaria esta  história em sons :

Os pingos d´água começam e de repente se transformam em torrencial água descendo da lâmpada, corre-corre com barulhos de baldes e água sendo jogada, depois entra o som das vozes diagnosticando a situação, chega aquele que vai martelar e arrancar os tacos empenados, derrubar os armários embutidos encharcados, a marreta não tem dó e vai eliminando tudo, aparecem escondidos os cupins, e pedem veneno, enquanto isso entram outros profissionais para cuidarem dos fios do telhado que está encharcado e pode dar um curto e pegar fogo na casa, aquela correria, um indica outro que faz isso ou aquilo, e transcorre a imensa orquestra de metais, madeiras e vozes.

            Nesse corre-corre espera-se o perito do seguro que não vem. E não há o que mexer onde é a causa : telhado porque a chuva não dá trégua. O recado veio do céu, como me disse uma amiga : “Esta água veio limpar, ela veio do céu e continua intensa, deixe lavar… cuide de secar onde é possível”. E assim foi.

A orquestra terminou. O silêncio tão esperado chegou, depois de intenso estresse, urticária, noites e noites sem dormir … e na orquestra ouve-se o som dos bocejos da madrugada que não termina e do sono que não vem porque o corpo se contorce de dor e tensão.

            Abro o facebook e vejo uma mensagem de um músico dizendo que está num hotel porque sua casa está em reforma e ele lamenta: “por que não ouvi a mim mesmo e fui meter nesta situação que parece não ter fim?”

E no final do parágrafo desabafa num xingamento. Suspirei e pensei comigo: estou na mesma situação… tentando dormir no sofá, cheiros e mais cheiros fortes de cimento e outras misturas… isso não vai acabar? O prazo era de um final de semana para o pedreiro, mais um final de semana para o pintor, e nesse meio tempo o eletricista e calheiro iriam esperando as estiadas para trabalhar. Que nada … se estendeu por longos 20 dias !!! Até que nu pique de urticária o tratamento seria: sair do motivo que causava esta doença. “ Parar a reforma”. E assim, depois de descumprirem todos os prazos ( que não dependiam de chuva mas de planejamento porque era dentro) a reforma foi interrompida sem os acabamentos finais.

            A orquestra teve que parar. A Sonata ficou sem o 3º movimento. Ou se tornou a Sinfonia inacabada.

            Os músicos sabem que não se pode deixar a plateia exausta. Para tudo há um bom senso, para cada evento de uma orquestra existe uma intenção e um público X. E se isso não for cuidadosamente planejado, o público se levanta no meio e vai embora.

            No final do 2º movimento chega um instrumentista novo, um aprendiz que com seus instrumentos inatos, suas mãos, pernas, braços foi embelezando o local e retirando as ‘ notas musicais ‘ que excederam, às pausas enormes que causaram desconforto e num passe de mágica aquele aprendiz com sua varinha mágica transformou o caos em claridade!

            Fica o convite para um loja de materiais de construção patrocinar o ORQUESTRA DA CONSTRUÇÃO! E que venham músicos com vontade, maestros com determinação e criatividade, e a obra será inédita cativando e emocionando a todos, principalmente os executantes de tantas transformações civis , ou melhor : da construção civil !

Música minha gente! Menos barulho e mais música. Mais programação! Mais resultados eficientes e otimização do tempo!

Uma sequência de 315  imagens , mostrou a CONFUSÃO e ao mesmo tempo os olhares para natureza que se manifestou solidária trazendo beleza em meio a tantos desencontros e decepções. O momento em que tive que dormir no hotel por causa do cheiro e olhar da janela a cidade … Mudar o foco.

            Desejo que esta orquestra de instrumentistas da construção civil formem realmente uma equipe onde um não estrague o ‘ som ‘ do outro, que haja uma verdadeira harmonia no conjunto e que todos possam ser aquela orquestra executando grandes ou pequenas obras, sem desafinar, sem querer atravessar ou atrasar o andamento, sem querer prejudicar o colega, mas num perfeito ‘soar’ harmônico e que possam honrar quem os contratou para tocarem, ao invés de lamentarem os pedidos musicais, tentar executá-los da melhor forma. É uma orquestra linda! Transformadora. Os instrumentos precisam estar ‘dialogando ‘ entre si e cooperando para o melhor resultado sonoro.

            Estar aqui ressignificando é sentir esperança no ser humano ainda!

Em meio à poeira surge a Palma de Santa Rita e muitas outras flores que resolveram dar o ar da graça fora de época: rosas ( julho) , flor do pessegueiro( setembro) e muitas outras floresceram como se me dissessem : fique calma! Estamos aqui com você!

E depois de mais de 300 fotos , a cada passo da transformação, a Sinfonia Inacabada mesmo assim está bonita e pronta para ser mostrada: 


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