​Festival de besteiras – Parte 2

  • Carlos Brickmann
  • Publicado em 15 de abril de 2020 às 08:02
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:04
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Hoje, por aqui, há notícias de impacto e notícias chatas. As notícias chatas são chatas. As notícias de impacto não são notícias. Mas a festa continua.

O governador do Pará, Hélder Barbalho, do MDB, disse que vai botar os presos na rua para vigiar os cidadãos em pontos de ônibus e evitar que fiquem a menos de um metro uns dos outros. Verdade: os presos viraram guardas.

Na Passeata da Morte (aquela em que carregaram um caixão para fazer piada com as vítimas do coronavírus), palavras de ordem para não ver Globo nem Bandeirantes, compradas pelos chineses. Há quem acredite.

Um criador de gado aguenta amigos que tentam convencê-lo a não vender bois para frigoríficos que exportem carne para a China. Pelo que dizem, os chineses são todos comunistas. Parece que só agora estão descobrindo isso.

Boato da moda: a tecnologia 5G permite transmitir, pelo celular, a palavra do demônio. Mas não é sempre: se a Qualcomm, americana, vencer a corrida internacional para implantar o 5G, tudo bem. Mas se for a Huawei chinesa… Se bem que, há alguns anos, diziam que, se um LP da banda Yes fosse tocado ao contrário, seria possível ouvir as palavras Six Six Six – ou 666, o Número da Besta. A Banda Yes é inglesa, e lá os comunistas nunca tiveram votos.

E aqui disseram na TV que a China tem um trilhão de habitantes, embora seja menor que o Brasil. A China tem um milhão de km² a mais que o Brasil. E terá um trilhão de habitantes se multiplicar a população real por 715 mil.

O homem que diz sou…

Pode ser que o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tenha sido vítima do próprio orgulho, após vencer a queda de braço com Bolsonaro. Ou não: talvez, ao conceder entrevista à Rede Globo (o que é uma ofensa para  Bolsonaro) e ainda dar-lhe um puxão de orelha, tenha buscado forçar sua demissão. Mas sobrevive: Bolsonaro foi pedir autorização aos militares para demiti-lo e, embora tenha encontrado solidariedade, não foi atendido. O vice Mourão, que faz parte do grupo militar do Governo, criticou Mandetta por ter confrontado Bolsonaro, mas disse que é provável que continue no cargo.

…não é

Bolsonaro quis livrar-se de Mandetta, ainda não conseguiu. E há outros indícios de que, embora seu mandato vá até 31 de dezembro de 2022, já lhe estão servindo café frio. O presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, postou domingo no Instagram o vídeo de uma cerimônia fúnebre africana em que os carregadores do caixão vão dançando até o túmulo. E trocou o rosto de um dançarino pelo de Bolsonaro, rindo. Presidente, cadê a tal caneta Bic? Precisa pedir ao general Braga Netto para trocá-la por uma nova, com tinta.

Porque quem é mesmo…

Duas perguntas que o ministro Mandetta fez a Bolsonaro na reunião do dia 6, em que entrou demitido e saiu confirmado: a primeira, por que não o demitia, já que não concordava com a orientação do Ministério da Saúde sob seu comando; a segunda, por que o havia nomeado, já que não o ouvia.

Este colunista arrisca um palpite: convidou-o para compor o elenco, não para se destacar nem dar palpites; e não o demite porque não foi autorizado.

…não diz

Preste atenção no que diz o general Mourão. Ele monta frases delicadas, gentis, que merecem análise. Preste atenção, mais ainda, no que ele não diz.

Vai, vai, vai…

Mourão disse que o importante são as “ações concretas” de Bolsonaro, e não aquilo que o presidente declara. “Temos de olhar mais as ações do que as palavras”. Traduzindo, “o que ele fala não se escreve”. Mas Mourão vai em frente: “Não teço críticas públicas porque seria deslealdade. Se ele me perguntar, a gente troca impressões e eu apresento o que penso”.

…não vou

Sabe quando é que Bolsonaro vai perguntar alguma coisa a Mourão?

Legalizando

O senador Sérgio Petecão (PSD-Acre) apresentou ontem projeto de lei que permite o uso de cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus, desde que o paciente (ou seu responsável) seja informado de que o medicamento tem caráter experimental e autorize formalmente o uso. Os hospitais que pesquisam o tratamento do coronavírus vêm aplicando essa norma, mas se a lei for aprovada terão mais segurança jurídica. O projeto permite o uso das substâncias mesmo antes da comprovação da doença.

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O deputado Osmar Terra (MDB-RS) enviou mensagem ontem a Flávio Bolsonaro, dizendo que a epidemia está “desabando” no Brasil e que é hora de comemorar. O pico da pandemia, diz ele, foi alcançado no final de março.

Vale ler

Sobre o tema, http://www.chumbogordo.com.br/31246-coronavirus-sem-politicagem-1-por-fernao-lara-mesquita/, ótimo artigo de Fernão Mesquita.

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