UTI móvel e médico: favela Paraisópolis-SP, combate Covid-19 por conta própria

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de abril de 2020 às 11:13
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:35
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Favela se organiza por conta própria e banca médicos e ambulâncias para dar assistência de saúde aos moradores

Paraisópolis, favela na Zona Sul de São Paulo, está pagando os serviços de ambulâncias particulares para atender as situações de urgência dos moradores em tempos de coronavírus. São três ambulâncias, sendo que uma é UTI móvel.

Segundo o líder comunitário Gilson Rodrigues, não dá para contar com o SAMU.

“Nas favelas desse país existe uma dificuldade muito grande para a chegada do Samu, e Paraisópolis não é diferente. 

“Se nós ficarmos esperando o Samu chegar aqui, o Samu não chega, ele não vem em Paraisópolis”. 

“Então entendemos que, se a gente tivesse o serviço das ambulâncias e o socorro fosse rápido, nós teríamos mais sucesso e amenizaria a situação das pessoas da comunidade”.

Além dos veículos, sete profissionais de saúde, incluindo dois médicos, fazem plantão 24 horas por dia na comunidade. O serviço custa caro, R$ 5 mil a diária, e Gilson diz que está sendo pago por doações dos moradores e de empresários do lugar.

Em duas semanas foram mais de 80 atendimentos, sendo que 15 por suspeita de coronavírus. Até agora, Paraisópolis teve oito casos confirmados e dois óbitos. Outras duas mortes estão sendo investigadas.

As ambulâncias são só uma parte da estratégia montada na comunidade. Para controlar a demanda, as ruas foram organizadas em grupos de 50 casas. 

Um voluntário, batizado como presidente de rua, organiza todas as demandas de cada grupo.

A estudante Angélica Araújo, de 19 anos, mudou a rotina para ser voluntária.

“Todo dia eu mando mensagem perguntando se está tudo bem, se estão precisando de alguma coisa, se tem algum problema”. 

“A gente se vira nos 30 para ajudar todo mundo. Se tem alguma urgência, eles mandam mensagem para mim e eu tenho que levar a ambulância até a casa da pessoa. Eu desligava o celular à noite, dormia de pijama, hoje eu não faço mais isso”.

Além de acionar as ambulâncias, ela também ajuda a distribuir marmitas para as famílias mais pobres e tira dúvidas dos moradores sobre contágio e prevenção. 

Além dos grupos de WhatsApp, carros de som e cartas ajudam a espalhar informação.

Mesmo assim, as medidas de isolamento ainda não viraram rotina no lugar, e é fácil encontrar lojas funcionando normalmente. 

Para Gilson, as orientações dos órgãos oficiais não atendem à demanda das favelas.

“As pessoas não conseguem se encaixar nessas recomendações, como ter álcool gel e máscara, que é artigo de luxo hoje em dia”.

“Lavar as mãos toda vez que for necessário não é possível, porque falta água, principalmente à noite e no fim de semana”. 

“São muitas as dificuldades, como a quarentena, ou a não aglomeração em uma comunidade com 100 mil pessoas concentradas em casas pequenas e famílias numerosas”.

Paraisópolis é a segunda maior favela de São Paulo, e é vizinha de um dos bairros mais ricos de São Paulo, o Morumbi. O bairro foi um dos primeiros do país a registrar casos de Covid-19.


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