Faixa de extrema pobreza é a menor registrada em quarenta anos no Brasil

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 1 de agosto de 2020 às 12:10
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:02
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Percentual caiu de 4,2% para 3,3% da população, revela levantamento de pesquisador da FGV

A faixa da população que vive em extrema pobreza foi a menor dos últimos 40 anos no Brasil, na passagem de maio para junho deste ano. 

É o que revela levantamento feito pelo pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Covid 19 (Pnad Covid-19) de junho, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e nos parâmetros do Banco Mundial na definição de linha de pobreza.

Duque destacou que os níveis são os menores já registrados por todas pesquisas domiciliares brasileiras, mas disse que a comparação não é perfeita porque a abrangência do modelo dos levantamentos mudou ao longo dos anos.

De acordo com a Pnad Covid 19, a faixa dos que vivem com menos de US$ 1,90 por dia, ou R$ 154 mensais, considerada de extrema pobreza caiu de 4,2% (8,8 milhões de pessoas) para 3,3% (6,9 milhões de pessoas) de maio para junho deste ano. Já a referente à parcela dos que vivem com menos de US$ 5,50 por dia, ou R$ 446 mensais, ou na faixa de pobreza, caiu de 23,8% para 21,7%.

Para o pesquisador, as reduções coincidem com o aumento da cobertura do auxílio emergencial. Duque lembrou que, de maio para junho, o total de contemplados com o benefício passou de 45% para cerca de 50% da população, principalmente, os mais pobres.

Para ele, o aumento da cobertura foi possível com a redução dos problemas de acesso ao benefício ocorridos inicialmente. 

“Em abril e maio ainda havia pessoas que estavam demorando a ser autorizadas. Isso aconteceu em grande volume. Depois, foi aumentando o número de pessoas com acesso ao auxílio, porque teriam direito mesmo, mas demoraram para conseguir”, disse Duque em entrevista à Agência Brasil.

O pesquisador acrescentou que a Pnad Covid 19 do mês de junho mostrou ainda que, mesmo quem não recebeu o auxílio, teve aumento de renda. 

“Houve incremento de renda na população entre 20% e 30% mais pobre, que teve aumento, fora o auxílio. No entanto, o auxílio foi mais predominante, gerando aumento de quase R$ 40 por pessoa entre os 10% mais pobres. Entre os 10% e 20% mais pobres, o aumento foi de R$ 20 e, entre os 20% e 30% mais pobres, de pouco mais de R$ 23.” 

Segundo Duque, o principal responsável foi o auxílio emergencial, que aumentou cerca de R$ 40 para os mais pobres [a faixa mais baixa] e R$ cerca de R$ 20 para os outros.”

Duque observou ainda que, também nesse período, o Congresso Nacional expandiu o universo das pessoas que teriam direito ao auxílio emergencial, e este foi mais um fator de impacto nos números. “Ainda teve uma mudança de ampliação do auxílio no mês de maio, que teve reflexos no mês de junho”, acrescentou.

O pesquisador disse que, em julho, a tendência é de estabilização, porque já estará quase completo o número de pessoas com direito ao auxílio emergencial. “Ainda vai ter parcelas para receber, mas não vai aumentar o número de pessoas. Vai ter ainda alguma inclusão, mas será pequena.”

Para Duque, a expectativa de fim do benefício é uma preocupação porque pode alterar o cenário. Ele mencionou a possibilidade de criação de outro tipo de benefício no lugar do auxílio emergencial. Mesmo que o novo valor fique muito abaixo do auxílio pago atualmente, ainda assim se notará impacto, ressaltou o pesquisador.

Na opinião do pesquisador, quanto mais demorar a definição de qual será a política social pós-pandemia, mais aumentará o risco de se deixarem muitas famílias vulneráveis à insuficiência de renda.


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