Suspeitos de tráfico de transexuais são presos em Operação Fada Madrinha

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 9 de agosto de 2018 às 12:38
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:55
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Operação da Polícia Federal efetuou prisões e buscas em Franca, São Paulo, Goiás e Minas Gerais

Cinco pessoas foram presas
preventivamente na manhã desta quinta-feira, 09 de agosto, durante a Operação
Fada Madrinha, que investiga um esquema de tráfico internacional de transexuais
brasileiras, submetidas a trabalho análogo à escravidão. Oito de busca e
apreensão, expedidos pela 2ª Vara Federal de Franca, também foram cumpridos.

A Polícia Federal, o Ministério Público do Trabalho e o
Ministério Público Federal cumprem os mandados em Franca, São Paulo (SP),
Goiânia (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Jataí (GO), Rio Verde (GO) e
Leopoldina (MG).

Em nota, a PF informou que a investigação teve início em
novembro de 2017, quando recebeu a denúncia de que jovens eram aliciados pelas
redes sociais na internet, com a promessa de procedimentos cirúrgicos faciais e
corporais, para transformá-los em transexuais.

A quadrilha também prometia a participação das vítimas
em concursos de misses na Itália. Entretanto, ao chegarem a Franca, as
transexuais eram submetidas à exploração sexual e condição análoga à
escravidão. “Os investigados aplicavam silicone industrial no corpo das vítimas
e as encaminhavam para clínicas médicas para implante de próteses mamárias,
havendo indícios de que as próteses utilizadas eram provenientes de reuso”, diz
a PF.

Segundo
o Ministério Público Federal, durante as investigações ficou constatado que os
próprios criminosos aplicavam silicone industrial nas transexuais para
modelagem de bocas, quadris e mamas. “O emprego corporal da substância,
utilizada para lubrificar máquinas e motores, é proibido pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) e pelo Ministério da Saúde, pois pode causar
necrose, embolia, deformidades e até a morte”, diz o comunicado.

Ainda de acordo com o MPF,
proprietários de repúblicas e pensionatos são investigados por oferecerem os
procedimentos cirúrgicos. Como se hospedavam nesses locais e
“financiavam” as cirurgias, as vítimas adquiriam dívidas elevadas e
se tornavam “prisioneiras”. “Para
conseguirem se manter na república, e com a sempre esperança de alcançarem o
sonho da identidade de gênero e verem seus corpos transformados, elas se
prostituem nas ruas da região, não sendo a elas permitido voltarem à casa sem o
faturamento mínimo do dia”, diz a nota. 

Tráfico Internacional

A PF detalha que as transexuais também eram obrigadas pelos
suspeitos a adquirir itens deles próprios, como roupas, perucas, sapatos, etc.,
o que as levava a um ciclo de endividamento interminável. “As vítimas
consideradas mais bonitas e promissoras eram enviadas à Itália para a
participação em concursos de misses, tudo a expensas dos investigados, o que
dava causa a um novo ciclo de endividamento”, explica a nota enviada pela PF.

Ao chegarem à Itália, no
entanto, as transexuais eram novamente submetidas à exploração sexual para o
pagamento de dívidas com o grupo criminoso. Além de Franca, o esquema foi
descoberto em municípios de Goiás e Minas Gerais.

Segundo a PF, havia uma
“parceria comercial” entre os investigados, mediante o “intercâmbio”
de vítimas. Agentes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) acompanham a operação nesta quinta-feira.

Os
criminosos também anunciavam a venda dessas transexuais pela internet, por
cerca de US$ 15 mil. O MPF informou que ao menos 11 transexuais foram
traficadas pela quadrilha para a Itália no ano passado.

A PF
informou que os investigados responderão pelos crimes de tráfico internacional
de pessoas, redução à condição análoga à de escravo, associação criminosa,
rufianismo e exercício ilegal da medicina.


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