Excesso de açúcar no mercado internacional projeta safra ‘alcooleira’

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de março de 2018 às 02:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:36
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Parte da produção destinada à exportação vai se transformar em etanol para o mercado interno

O excesso de açúcar no mercado internacional e a consequente
desvalorização do preço do produto indicam que a próxima safra de
cana-de-açúcar no Brasil, com início em um mês, deve ser mais alcooleira do que
açucareira.

O aumento da produção e da oferta de etanol, por sua vez, deve fazer o
biocombustível ficar mais barato nas bombas. Pelo menos essa é a previsão dos
especialistas em agronegócio até o fim do primeiro semestre, quando o preço
tente a estabilizar.

Especialista em estrutura de mercado e planejamento estratégico, o
consultor José Carlos de Lima Júnior explica que a expectativa é que o preço do
etanol chegue a, no máximo, 70% do valor cobrado pelo litro da gasolina nos
postos de combustível. “Na verdade, é a
primeira vez, desde a nova política de preços da Petrobrás, que vamos ter uma
safra em que, naturalmente, com a oferta de álcool, o preço cai para o
consumidor. A gente precisa considerar que o preço vai estar, vamos dizer
assim, parametrizado com o preço da gasolina”, afirma.

Dados
da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apontam que o volume de etanol hidratado
consumido em janeiro chegou a 1,3 bilhão de litros, o maior já registrado para
o primeiro mês do ano. Na comparação com o mesmo período de 2017, o crescimento
é de 55%. “O preço do açúcar não deve subir e nem cair para o produtor local.
Em contrapartida, a gente vai ter uma grande oferta de álcool no mercado, que
pode derrubar o preço cobrado nas bombas”, diz Lima Júnior, projetando alta no
consumo.

Gerente industrial de uma usina de açúcar e etanol em Pitangueiras,
Nadir Nascimento Junior explica que o aumento do estoque de açúcar no mercado
internacional é consequência de uma supersafra na Índia, um dos maiores
produtores do mundo.

O preço do produto reduziu cerca de 30% no ano passado e continua em
queda: a saca com 50 quilos de açúcar custa em média R$ 50, o menor valor em
três anos. Por esse motivo, entre 15% e 20% da cana que seria destinada à
produção de açúcar vai se transformar em etanol. “Esse ano deve ser uma safra de etanol para
todo mundo, porque há uma sobra muito grande de açúcar e o preço está muito
baixo, não está compensando produzir”, diz o gerente. “O preço do etanol tende
a se estabilizar ao longo da safra, às vezes cai até um pouco mais”, completa.


+ Agronegócios