Estudo feito por brasileiro pode ajudar na luta contra o câncer de pulmão

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de junho de 2018 às 20:34
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:47
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Em testes com pacientes com tumor avançado, imunoterapia aumenta tempo de vida e diminui efeitos colaterais

Estudo
liderado por um brasileiro trouxe esperança de maior tempo de vida — e com
melhor qualidade — para pessoas com câncer de pulmão em estágio avançado ou
metastático.

O teste
dividiu 1.274 pacientes em dois grupos. Um deles recebeu imunoterapia com
pembrolizumabe e o outro foi submetido à quimioterapia, tratamento clássico
para esse tipo de tumor.

Participantes
do primeiro grupo viveram uma média de quatro a oito meses a mais que os do
segundo. Além disso, sofreram menos efeitos colaterais severos (18%), se
comparados aos pacientes da terapia tradicional (41%). “Um grande número
de pacientes com câncer de pulmão agora tem uma nova opção de tratamento, com
mais eficácia e menos efeitos colaterais que a quimioterapia padrão”, disse o
autor líder do estudo, o brasileiro Gilberto Lopes, oncologista do Sylvester
Comprehensive Cancer Center, da Universidade de Miami, nos Estados Unidos.
“Nosso estudo mostra que o pembrolizumabe oferece mais benefícios que a
quimioterapia a dois terços de todos as pessoas com o tipo mais comum de câncer
pulmonar”, completou.

Os resultados, considerados animadores pela
comunidade científica, foram apresentados durante a sessão plenária do encontro
anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), realizado na semana
passada, em Chicago. A imunoterapia ou a quimioterapia foi a primeira linha de
tratamento para os 1.274 pacientes que participaram do estudo — o maior teste
clínico já realizado com pembrolizumabe como terapia isolada, segundo os
autores.

De acordo com Gilberto Lopes, todos os pacientes
estudados tinham PD-L1 — um biomarcador usado comumente para prever a resposta
a inibidores de barreiras imunológicas, incluindo o pembrolizumabe. Os tumores
com mais PD-L1 (alta expressão) responderam melhor ao tratamento imunológico.
Os que apresentavam 20% ou mais de PD-L1, por exemplo, tiveram 17,7 meses de
vida com pembrolizumabe, contra 13 meses dos que receberam quimioterapia. Já a
proporção para os que apresentavam 50% ou mais de PD-L1 chegou a 20 meses,
contra 12,2 meses de sobrevida.

Outro ponto analisado foram as reações secundárias.
“Os efeitos colaterais graves se apresentaram em menos de 20% dos pacientes com
imunoterapia e em 40% dos pacientes com quimioterapia”, comemorou Lopes. O
médico explicou ainda que algumas pessoas submetidas ao pembrolizumabe não responderam
ao tratamento: aproximadamente metade dos pacientes com PD-L1 de 50% ou mais e
cerca de 70% dos que tinham PD-L1 de 1%.

Isso,
porém, não desanima o cientista, já que estudos mostram que, de forma geral,
pensando em todos os tipos de tumores, cerca de 20% a 30% dos pacientes com
câncer avançado e que têm indicação de imunoterapia respondem bem ao
tratamento. Para o futuro, Lopes vê na combinação de terapia (imuno mais
químio) um tratamento padrão para câncer de pulmão.

Carro-chefe

Marcelo
Cruz, oncologista clínico e pesquisador da Northwestern University, de Chicago,
ressalta que a imunoterapia (veja infográfico) tem sido o grande destaque nas
últimas cinco edições da Asco, maior congresso de oncologia do mundo. “Ela é
recente e não veio para substituir a quimioterapia ou a terapia-alvo. Pode ter
um grande papel como monoterapia em diversos tumores, mas a gente está
aprendendo que a combinação ainda vai ser o carro-chefe de muitos tratamentos,
por exemplo, de câncer de pulmão. A imunoterapia sozinha ajuda, mas estamos
percebendo que, com químio, é melhor ainda. A gente está aprendendo como ela
deve ser encaixada no tratamento do paciente.”

O médico brasileiro, com residência em Chicago,
ressalta que o grande desafio, agora, é entender como a imunoterapia pode ser
encaixada no tratamento. “Será que hoje é para câncer metastático? Mas já tem
estudos para doenças em fase inicial. Será que você estimular o sistema
imunológico a combater o câncer lá no começo não é melhor do que quando já tem
a doença espalhada pelo corpo? Talvez, sim. E é o que a gente está aprendendo
aqui.”

Apesar de tudo ser muito recente, Marcelo Cruz
ressalta que, no estágio de conhecimento atual, a imunoterapia tem se mostrado
bastante eficiente no tratamento de alguns tipos de tumores, como melanoma, de
pulmão, do trato urinário e de intestino, inclusive, como primeira linha de
terapia. “Alguns cânceres reagem melhor do que outros. Mas a imuno está no
começo ainda. Certamente, vão ter novas moléculas, novos agentes imunoterápicos
melhores do que o que a gente tem hoje.”

Um outro grande desafio, segundo o oncologista,
está em descobrir por que um grande número de pacientes não se beneficia da
imunoterapia. “Estamos tentando entender quais são os biomarcadores que fazem
com que um grupo responda bem e outro, não.” Marcelo explica ainda que, em
relação aos Estados Unidos e aos países europeus, o Brasil sofre com a demora
de aprovação de alguns imunoterápicos. “Existe aí um gap de uns três anos. E
isso, para tratamento de câncer, que exige pressa, é ruim.”


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