Estudo aponta o Brasil como a maior redução de tabagismo diário no mundo

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  • Publicado em 24 de abril de 2017 às 11:41
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:10
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Entre as estratégias bem-sucedidas estão: aumento da tributação e proibição de fumar em locais públicos

Em pelo menos uma lista o Brasil figura ao lado de nações como Austrália,
China, Dinamarca, Islândia, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Suécia, Suíça e
Estados Unidos. São países que registraram taxa de declínio significativa do
consumo de tabaco nas últimas duas décadas. E mais. Entre os dez países com
maior número de fumantes, o Brasil registrou a maior redução de tabagismo
diário tanto em homens (29% para 12%), quanto em mulheres (19% para 8%). A mais
abrangente pesquisa já feita sobre tabagismo no mundo, que acaba de ser
publicada pela revista científica “The Lancet”, analisou 195 países no
período de 1990 a 2015 e foi financiada por Bill & Melinda Gates Foundation
and Bloomberg Philanthropies.

Entre as estratégias bem-sucedidas apontadas pelo estudo em todo o mundo
estão: aumento da tributação, proibição de fumar em locais públicos, restrições
à comercialização, promoção e propaganda de cigarros e comunicação eficiente.
Aqui vale uma viagem ao tempo para lembrar do Brasil antes da década de 90 onde
o cigarro era associado ao sucesso em propagandas televisivas, onde podia-se
fumar em restaurantes, repartições públicas e até mesmo em aviões. Foi uma
árdua batalha enfrentar a poderosa indústria do cigarro e impor limites e novas
regras.

Somente no final dos anos 90, quando José Serra foi ministro da Saúde, o
antitabagismo tornou-se uma bandeira de saúde pública do governo federal. Fumar
foi proibido em todos os recintos coletivos, privados ou públicos. A propaganda
em rádio, televisão e outras mídias foi banida. Eventos culturais e esportivos
foram proibidos de receber patrocínio da indústria do tabaco. Os maços de
cigarro passaram a obrigatoriamente conter advertências e imagens de impacto
sobre as consequências trágicas do tabagismo como câncer, impotência, diabetes
entre outras doenças. Além de intervenções fiscais que incluíram aumento de
impostos e estabelecimento de preços mínimos para os produtos do tabaco.

Os resultados dessa acertada política que incluiu uma forte comunicação de
interesse público são motivo de orgulho para o Brasil, mas a luta contra o
cigarro está longe do fim. Só em 2015, 11,5% das mortes no mundo foram
atribuídas ao tabagismo. Ele também foi responsável pelo segundo maior fator de
risco de morte precoce e incapacidade. A cada ano são cinco milhões de mortos
no mundo todo e bilhões de dólares gastos em saúde pública.

Na busca de consumidores, a indústria do tabaco vem perseguindo novos
mercados e países como o Congo, Azerbaijão, Kuwait e Timor-Leste registraram
aumento de fumantes. O mesmo aconteceu na população feminina da Rússia. Embora
o mundo tenha assistido a uma queda proporcional do número de fumantes entre
homens e mulheres nas últimas duas décadas, um dado chama atenção da pesquisa:
a queda foi mais acentuada entre 1990 e 2005 do que entre 2005 e 2015. O estudo
não deixa dúvidas de que o controle do tabagismo é possível, mas exige
compromisso político global e de cada país além do que já foi feito nesses 25
anos.


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