Estiagem prolongada pode provocar quebra na safra de café em 40% em 2021

  • Joao Batista Freitas
  • Publicado em 7 de outubro de 2020 às 02:07
  • Modificado em 7 de outubro de 2020 às 02:07
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Falta de chuvas associada a altas temperaturas prejudica a florada e compromete formação de grãos de café

O agricultor Luís Clóvis Gonzaga confirma que poucas flores se abriram, porque as plantas perderam mais água

Em projeções iniciais, produtores de café da Alta Mogiana, na região de Franca (SP), estimam uma queda de 40% na safra 2021 devido ao calor com temperaturas recordes e à falta de volumes significativos de chuvas nos últimos quatro meses.

A associação desses fatores, que também causa efeitos negativos na oferta de empregos no campo e pode deixar os preços do produto mais caros ao consumidor futuramente, prejudica a florada, etapa essencial para a formação dos grãos.

As projeções contrastam com os números da safra 2020, que, segundo dados do IBGE do início de setembro, apontam alta de quase 20% na produção brasileira de café.

Com reconhecimento internacional e forte atuação em cafés especiais, a Alta Mogiana, região entre o Nordeste paulista e Sul de Minas Gerais com 23 municípios produtores de café, sentiu os efeitos da falta de chuvas e das altas temperaturas acentuadas no segundo semestre deste ano.

Embora o tempo seco geralmente favoreça a colheita dos grãos, a associação da estiagem prolongada com o calor não é benéfica para o cultivo, pois interrompe o processo vegetativo.

Segundo Marcelo Jordão, pesquisador da Fundação Procafé, o baixo volume de água e as altas temperaturas – que desde 28 de setembro passam dos 35ºC – coincidiram com a florada, período entre os meses de agosto e outubro que marca o início de formação até a maturação dos grãos.

Em sua produção em Pedregulho (SP), o agricultor Luís Clóvis Gonzaga confirma que poucas flores se abriram, porque as plantas perderam mais água. 

“Agora que já estamos chegando no verão os dias já estão maiores, temos uma insolação maior, somado a isso [tem] a falta de chuva”, explica.

Ele ainda não sabe a proporção dos prejuízos, mas já afirma que nunca tinha vivido algo parecido em 20 anos.

“Acontecendo um evento intenso climático como esse, a frustração é enorme, não sabemos precificar. Ainda vamos precificar isso mais à frente, mas o prejuízo está consolidado”, diz.

Efeitos negativos

A quebra na produção do café causa consequências imediatas na oferta de empregos no campo, avalia o presidente do Sindicato Rural de Franca.

Embora não tenha números, segundo ele, as dispensas de empregados já começaram a ser percebidas em municípios da região como Cristais Paulista (SP), Jeriquara (SP) e Ribeirão Corrente (SP).

“As pessoas que estavam empregadas na colheita já estão de volta para suas casas infelizmente sem emprego. Nós vemos isso acontecer muito aqui nas cidades vizinhas”, diz.

Gonzaga também está preocupado com o impacto econômico e social das perdas da safra.

A longo prazo, a baixa produção do café tende a reduzir a oferta do produto nos supermercados e causar a elevação dos preços aos consumidor, de acordo com o presidente do sindicato.

“Ainda é cedo para se falar nisso, mas possivelmente acontecerá sim um resultado porque a demanda desse produto vai de acordo com a produção. Temos uma grande interferência para o próximo ano.”


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