Estado emocional pode influenciar a forma como percebemos o mundo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de maio de 2018 às 18:30
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:43
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Estímulos negativos têm maior peso e influência no comportamento e decisões das pessoas

As nossas emoções são
capazes de influenciar até mesmo o que nós enxergamos. De acordo com a pesquisa
publicada na revista acadêmica Psychological Science,
os seres humanos são capazes de agir ativamente na construção de suas
percepções.

Erika Siegel, psicóloga da Universidade da Califórnia,
explica como funciona o processo: “Nós não somos passivos em relação a
informação que está no mundo. Nós construímos nossas percepções como os
arquitetos de nossa própria experiência. E nossos sentimentos e emoções são
determinantes na experiência que criamos. Isto é, nós não conhecemos o mundo
apenas através de nossos sentidos externos – nós vemos o mundo de maneira
diferente quando nos sentimos confortáveis ou até quando estamos em situações
desagradáveis”.

Em dois experimentos, os participantes foram expostos a dois
tipos de imagem: uma de um rosto com expressão neutra, mostrada em sequência de
flash, e outra com expressões de raiva ou de alegria, apresentadas em segundo
plano. Essas imagens, por estarem disponíveis por milésimos de segundos, não
eram captadas ativamente pela consciência dos participantes.

Ainda assim, os pesquisadores da Universidade da
Califórnia demonstraram que imagens de rostos com expressões neutras são
percebidos como mais alegre e sorridentes ao serem combinados com estímulos
positivos que não são vistos conscientemente pelos participantes.

Em estudos anteriores, Siegel e outros pesquisadores
descobriram que os estados emocionais das pessoas influenciaram as suas
primeiras impressões de rostos com expressões neutras, fazendo com que os
rostos se tornassem mais ou menos agradáveis, confiáveis e desconfiáveis, por
exemplo.

Nesta pesquisa mais recente, eles queriam entender se
os estados emocionais das pessoas poderiam realmente mudar como elas enxergavam
as imagens de rostos com expressões neutras.

Usando uma técnica chamada supressão contínua de
flash, os pesquisadores foram capazes de apresentar estímulos aos participantes
sem que eles soubessem.

Em um experimento, 43 participantes foram expostos a
uma série de imagens que piscavam e se alternavam entre uma imagem pixelizada e
uma de um rosto com expressão neutra.

Ao mesmo tempo, uma imagem de baixo contraste de um
rosto sorridente, bravo ou neutro também foi apresentado. Normalmente, essa
segunda imagem seria suprimida pelo estímulo apresentado na primeira imagem, e
os participantes não chegariam a ter consciência dessas segundas imagens.

No final de cada experimento, um conjunto de 5 rostos
apareceram e os participantes deveriam escolher o que melhor correspondeu ao
rosto que eles viram durante o teste.

O primeiro rosto que foi apresentado aos
participantes foi sempre o de expressão neutra. Porém, eles tendiam a
selecionar rostos que combinavam com a segunda imagem apresentada.

Por exemplo, se uma pessoa viu um rosto sorrindo, mesmo
que não ficasse gravado no seu consciente, no fim do experimento ela escolhia
por uma imagem também sorridente.

Em outro teste, os pesquisadores incluíram uma forma
de medir objetivamente esta consciência.

Eles pediram aos participantes para adivinhar qual
era a expressão da segunda imagem do rosto que aparecia. Os resultados
indicaram que os rostos com expressões positivas mudaram a percepção que os
participantes tinham da imagem com expressão neutra.

Para os pesquisadores, os estudos mostram frequentemente
que os estímulos negativos têm maior influência no comportamento e na tomada de
decisões das pessoas. Porém, esta pesquisa demonstrou que o efeito das
expressões positivas é uma área interessante para estudos futuros. “Essas
descobertas podem ter implicações do mundo real que se estendem para as
interações sociais cotidianas. Esses experimentos fornecem mais evidências de
que o que vemos não é um reflexo direto do mundo, mas uma representação mental
do mundo fundida por nossas próprias experiências emocionais”, explica
Siegel.


+ Comportamento