Estado de SP quer ampliar produção paulista de leite A2, inclusive em Franca

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de novembro de 2019 às 08:22
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:00
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Produtores de Franca e outras cidades já se articulam para viabilizar a produção deste leite

A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo está trabalhando para ampliar a produção do leite A2, produzido por vacas A2A2. 

O alimento é de fácil digestão e atende às necessidades de pessoas intolerantes à beta casomorfina – 7 (BCM7) que é produto da digestão da caseína A1, uma proteína encontrada no leite que causa inflamação e desconforto gástrico e intestinal para uma parcela da população.

O Instituto de Zootecnia, instituição de pesquisa da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria, trabalha com um programa de melhoramento genético para formar um rebanho de vacas somente com o gene A2 (vacas A2A2) em qualquer raça, ampliando a oferta deste leite em todo o Estado.

De acordo com o pesquisador do IZ, Anibal Eugênio Vercesi Filho, que conduz as pesquisas do leite A2, uma das proteínas encontradas no leite, a betacaseína pode ser codificada por 13 diferentes alelos, sendo mais comuns nos bovinos os alelos A1 e A2. 

Durante o processo de digestão no ser humano, o alelo A1 forma uma substância chamada beta casomorfina-7, um opióide que é um fator de risco para algumas doenças humanas como o diabetes tipo 1, a arterioesclerose (acúmulo de gorduras nas paredes das artérias) e a inflamação das mucosas gástrica e intestinal.

“Quando se toma o leite A2, não há o risco de se ter esse problema, pois a sua digestão não forma essa substância”, explica Vercesi. Importante destacar que apesar de terem sintomas parecidos, a intolerância à betacaseína A1 não tem a ver com a intolerância à lactose.

O pesquisador conta que a betacaseína A2 pode aparecer em qualquer raça, mas predomina nas raças zebuínas como no Gir leiteiro, Sindi e Guzerá. “Usamos touros A2A2 e genotipamos as vacas, realizando a programação de acasalamento. A ideia é que todas as vacas, independentemente da raça, sejam produtoras de leite A2, com alta produtividade, vida produtiva longa e resistência à mastite”, afirma Vercesi.

Por meio do Plano Mais Leite Mais Renda, criado para coordenar a cadeia produtiva do leite e aumentar a produtividade e a qualidade da produção para dois bilhões de litros por ano em dez anos, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento busca incentivar o desenvolvimento de projetos regionais da bovinocultura de leite, como a produção do leite A2.

Produtores nos municípios de Franca, Ourinhos, Novo Horizonte, Araçatuba, Botucatu, Caconde e São João da Boa Vista já se articulam, por meio do Plano Mais Leite Mais Renda, para viabilizar a produção deste leite.

“É um projeto que agrega muito valor à atividade leiteira, uma alternativa para a população que precisa deste leite e também para o produtor, que pode oferecer um produto diferenciado ao mercado, com valor agregado, principalmente na oferta de produtos lácteos processados, como queijos e iogurtes”, afirma o médico veterinário Carlos Pagani Neto, assistente técnico de Bovinocultura da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável e um dos autores do Plano Mais Leite Mais Renda.

De acordo com o especialista, o processo não demanda um investimento tão alto ao produtor a partir do teste genotipagem do animal, em laboratórios especializados, e a certificação do leite por empresas certificadoras. Em São Paulo, a marca de leite Letti a2, produzida na Fazenda Agrindus, em Descalvado, foi a primeira a receber a certificação para a produção de leite com vacas A2A2.


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