Especialista alerta para risco do envelhecimento precoce dos dentes

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 31 de agosto de 2018 às 10:43
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:58
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Estilo de vida atual favorece perda da estrutura mineral e primeiro sintoma é a hipersensibilidade

Crescemos ouvindo que a cárie
era o grande vilão e que, na idade adulta, a doença periodontal era a principal
responsável pelos problemas da boca. Aí aprendemos a escovar bem os dentes e a
cuidar das gengivas, mas, na verdade, há algo mais com que devemos nos
preocupar.

O nome é comprido – lesões
cervicais não cariosas e hipersensibilidade dentinária – e, desde 2008, esse é
o objeto de estudo do grupo coordenado pelo dentista Paulo Vinícius Soares,
professor e pesquisador da Faculdade de Odontologia da Universidade de
Uberlândia, com pós-doutorado pela Universidade de Chicago.

Ao todo, a equipe já produziu
mais de 50 artigos, 36 publicados no exterior, e 11 capítulos em livros,
mostrando que a perda da estrutura mineral dos dentes vem se dando de forma
cada vez mais precoce.

Em português claro, os dentes
estão envelhecendo mais rapidamente, como explica do doutor Paulo Vinícius.“Gosto de chamar a atenção para o fato de que esta é uma doença
contemporânea, com relação direta com nosso estilo de vida. A lesão cariosa, ou
seja, a cárie, depende de bactéria e é combatida com escova, creme dental e uma
dieta com menos açúcar. As pessoas aprenderam isso. Já a doença não cariosa,
que no passado parecia uma exclusividade da faixa etária acima dos 70 anos,
hoje é encontrada em 30% de jovens entre 25 e 30 anos. Seu primeiro sintoma é a
hipersensibilidade. Uma vez que o esmalte do dente é perdido, a dentina é
exposta e com isso vem a dor. A gengiva se retrai precocemente, e a lesão
evolui para uma cavidade, que vai se aprofundando até a perda do dente”, afirma
o especialista.

Ele aponta cinco grupos de risco e o primeiro é composto por ex-usuários
de aparelhos ortodônticos. Apesar da necessidade de correção, em alguns casos
podem ocorrer alterações irreversíveis na estrutura do osso. “Tenho recebido
pacientes de 25 anos com boca de 50”, diz o professor. “O acesso à ortodontia
hoje é muito maior que há duas ou três décadas. No entanto, o acompanhamento
tem que ser feito inclusive na fase pós- tratamento, ou teremos gerações de
jovens com retração gengival”, completa.

O segundo grupo reúne os indivíduos com algum tipo de doença gástrica,
como refluxo e úlcera; que se submeteram a cirurgia bariátrica; ou utilizam
balão intragástrico. “São pacientes que apresentam degradação biocorrosiva do
esmalte e da dentina causada pelo ácido clorídrico do estômago”, diz o doutor
Paulo Vinícius. Em seguida, vêm os atletas amadores cuja nutrição esportiva
inclui um grande volume de bebidas cítricas. Ele cita o consumo cada vez maior
de água com limão espremido, para aumentar o metabolismo, além de chás verdes e
isotônicos: “são substâncias que degradam o esmalte, por isso é indispensável
que o dentista peça um relatório da dieta alimentar do paciente, que terá que
usar um creme dental que dificulte a ação corrosiva”. 

A lista é grande e espelha o estilo de vida contemporâneo. Na quarta categoria encontram-se as pessoas chamadas de “apertadores dentais”: aqueles que cerram, rangem e trincam os dentes, provocando uma sobrecarga na articulação temporomandibular. De acordo com levantamentos feitos pelo grupo coordenado pelo doutor Paulo Vinícius, cerca de 70% das pessoas ansiosas apertam os dentes.

Por fim, no quinto grupo estão aqueles que sofrem os efeitos colaterais
de medicamentos ou tratamentos agressivos, como quimioterapia e radioterapia.
“Os casos mais severos, quando há formação de cavidade, só são corrigidos com
uma restauração. O envelhecimento precoce dos dentes é um dos maiores desafios
que a odontologia está enfrentando”, finaliza.

Por último, mas não menos importante: somente um especialista poderá
fornecer informações confiáveis sobre o assunto.


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