Enxaqueca: primeiro tratamento específico contra ela chega ao Brasil

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 26 de março de 2019 às 16:36
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:28
compartilhar no whatsapp compartilhar no telegram compartilhar no facebook compartilhar no linkedin

Embora atinja 1 a cada 7 pessoas, drogas utilizadas para controle das crises são voltadas para outras doenças

Embora atinja uma a
cada sete pessoas, a enxaqueca não tinha no Brasil um tratamento específico –
as drogas utilizadas para controlar as crises são voltadas a outras doenças.

Mas isso mudou com a aprovação do erenumabe (nome comercial: Pasurta),
o primeiro remédio feito exclusivamente para esse problema, marcado por
episódios intensos de dor de cabeça, enjoo e sensibilidade à luz, entre outros
sintomas. “O medicamento abre uma nova via terapêutica contra a enxaqueca”,
afirma a neurologista Aline Turbino. “Ele tem boa eficácia e as reações
adversas são brandas”, completa.

Comecemos, então,
pela sua capacidade de amenizar a enxaqueca. Produzido pela farmacêutica
Novartis, o erenumabe diminuiu pela metade o número de crises após quatro meses
de uso, em uma pesquisa da King’s College de Londres, em uma pesquisa da, na
Inglaterra.

Isso entre
voluntários que, em média, sofriam com as dores de cabeça oito vezes ao mês. “A
droga também reduz a intensidade dos incômodos e melhora a funcionalidade do
paciente”, completa a médica.

Essa nova opção é
administrada uma vez por mês diretamente na pele com uma espécie de canetinha.
Ela é parecida com aquelas utilizadas para aplicar insulina em diabéticos.

Mas como o erenumabe funciona? Basicamente,
bloqueando ação de uma molécula chamada CGRP, que está envolvida no processo
inflamatório associado aos sintomas da enxaqueca.

Efeitos colaterais

Atualmente, os profissionais lidam com a enxaqueca
prescrevendo remédio para epilepsia, pressão alta, depressão e por aí vai.
“Eles ajudam em muitos casos, mas as reações adversas podem ser intensas”,
destaca Aline.

Sonolência, ganho de peso e tontura estão entre os
efeitos indesejados. Isso sem contar que esses fármacos precisam ser tomados
com frequência, o que dificulta a adesão.

Já o erenumabe teve um perfil de segurança similar
ao do placebo, segundo os estudos. As reações mais comuns estão ligadas ao modo
de aplicação – ou seja, às vezes pode surgir um pouco de vermelhidão e
desconforto na pele. “A contraindicação formal é para as gestantes, porque não
foram realizadas pesquisas com esse grupo”, complementa Aline.

Quando o tratamento estará disponível

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já
deu seu aval. Mas a novidade ainda precisa passar por outros trâmites, como a
definição do seu preço na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED),
também vinculada à Anvisa.

Por meio de sua assessoria de imprensa, a Novartis
estima que o erenumabe chegará às farmácias ainda no primeiro semestre de 2019.

Seu valor no Brasil não foi decidido. Nos Estados
Unidos, onde foi liberado no ano passado com o nome de Aimovig, o custo anual
fica na casa dos 7 mil dólares. No entanto, os preços das medicações às vezes
variam consideravelmente entre uma nação e outra.

Ao desembarcar por aqui, essa opção estará restrita
ao sistema privado. Pelo menos em um primeiro momento.

Para quem é

Até pelo custo e pelo fato de as primeiras pesquisas
estarem saindo nos últimos anos, o erenumabe não deve ser aplicado em todas as
pessoas com enxaqueca. “As recomendações americanas e europeias o indicam para
indivíduos que já passaram por outros dois tratamentos sem sucesso. É um
paciente mais complexo”, analisa Aline.

Pessoas que não
toleram os outros fármacos ou que correm risco de alguma interação
medicamentosa também são potenciais candidatos.

E um recado final: nos Estados Unidos, outra droga
com ação similar já foi aprovada. É o fremanezumabe, da farmacêutica Teva. A
estimativa é que desembarque por aqui em 2020 como mais uma opção para a turma
que reclama da enxaqueca.


+ Saúde