Enxaqueca é incluída pela OMS no rol de doenças mais incapacitantes no dia a dia

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 16 de janeiro de 2018 às 11:12
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:31
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Problema é sério: crises podem acarretar quadros de ansiedade e depressão e afetam a qualidade de vida

Basta um dia estressante e uma noite maldormida, e lá está ela. Sortudo é quem nunca passou pelo incômodo de uma dor de cabeça — são mais de 150 os tipos já identificados, de acordo com estudos da Sociedade Internacional de Cefaleia e da Sociedade Brasileira de Cefaleia. Entre eles, um dos mais conhecidos é a enxaqueca, que vai além de um simples desconforto e interfere na qualidade de vida de quem precisa aprender a conviver com o problema.

A enxaqueca afeta cerca de 15% da população brasileira, algo em torno de 31 milhões de pessoas, a maioria na faixa dos 25 aos 45 anos. Após os 50, a taxa tende a diminuir, principalmente em mulheres. Quando se trata de crianças, ocorre em 3% a 10%, afetando igualmente ambos os sexos antes da puberdade. Após essa fase, o predomínio é no sexo feminino.

Entre as mulheres, o problema chega a até 25%, mais que o dobro da prevalência entre os homens, segundo o Ministério da Saúde. A dor é facilmente confundida com a de uma cefaleia comum. Mas, de acordo com a Academia Americana de Neurologia, não é necessário passar por exames de imagem para o diagnóstico. Basta preencher os critérios que identificam a enxaqueca para que o tratamento possa ser iniciado.

Dor que ocorre só de um lado da cabeça, com intensidade moderada a intensa, normalmente pulsante, que dura entre quatro e 72 horas, e costuma vir com outros sintomas, como náusea, vômito, tontura, sensibilidade à luz e ao barulho. Esses são os pontos a serem avaliados. De acordo com Thaís Martins, neurologista do Hospital Santa Lúcia e membro titular da Sociedade Brasileira de Neurologia, “trata-se de uma alteração dos neurônios que se propaga, se espalha pelo córtex e leva a alterações na vasculatura, que acarretam a hipersensibilidade do cérebro e, enfim, a dor”, explica.

Para quem sofre de enxaqueca, o impacto social, econômico e emocional é inevitável.  “O paciente não presta atenção nas coisas, não trabalha ou estuda bem e tem certas áreas da memória afetadas”, revela Thaís. A doença está entre os problemas mais incapacitantes do mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. A dor pode ser episódica ou crônica, e a doença pode ocorrer com aura ou sem aura  — um sintoma neurológico, como, por exemplo, uma alteração visual. “Caso uma pessoa sinta dor de cabeça em 15 ou mais dias do mês, oito desses dias sejam de enxaqueca, e isso tenha acontecido pelo menos em três meses do ano, ela é uma forte candidata à enxaqueca crônica”, afirma Thaís.

Atenção: a dor já vai começar! 

As primeiras sensações que anunciam a chegada da enxaqueca são conhecidas como aura. Elas vêm em forma de sintomas neurológicos, como alterações visuais — parte da visão embaçada, ou luzes brilhantes no campo de visão. Dados do Ministério da Saúde mostram que 64% dos pacientes no Brasil apresentaram enxaqueca sem aura, 18%, com aura e 13%, com e sem aura. Os restantes 5% registraram aura sem cefaleia.

Seis formas de evitar remédio

Quando o problema não é crônico e a crise ainda não está intensa, é possível minimizá-lo . Veja como:

1 – Identifique e evite o que desencadeia a enxaqueca: os fatores mais comuns são estresse, jejum, má qualidade do sono e fatores genéticos ou hormonais.

2 – Tente desestressar. Fazer uma pausa de vez em quando é o ideal.

3 – Pratique atividade física: ela contribui para a vascularização do crânio, o que evita episódios e atenua as dores da crise.

4 – Durma para diminuir a dor: relaxar ou apenas deitar-se no escuro pode reduzir o estresse e interromper ações do cérebro que desencadeiam a dor.

5 – Faça compressa: o gelo  pode ajudar.

6 – Saiba a hora de procurar um médico: se as dores estão muito fortes, é importante tomar a medicação adequada.

Remédios caseiros

Apesar de não terem sua eficácia comprovada por estudos científicos, existem algumas receitas caseiras que prometem amenizar a dor tão incômoda da enxaqueca:

– Gengibre: acredita-se que atua como a aspirina, porque bloqueia a síntese de prostaglandina, uma substância que ajuda a controlar a inflamação no corpo. A dica é tomar um terço de uma colher de chá de gengibre em pó, agitado em um copo d’água, quando estão começando os flashes visuais (aura).

– Vinagre de maçã: tomar duas colheres de vinagre de maçã pode aliviar a enxaqueca. Ele deve ser dissolvido em um copo de água para que seu sabor não fique tão forte.

– Erva de Santa Maria: a planta medicinal contém compostos que ajudam a controlar a expansão e a contração dos vasos sanguíneos na cabeça. A erva pode ser obtida em chá ou tintura, embora se aproveite melhor ao consumi-la fresca em saladas.

Variações hormonais

Quando é muito grave, a enxaqueca compromete a qualidade de vida e, como resultado secundário, o paciente pode entrar em um quadro depressivo ou de ansiedade, alerta a doutora em psicologia e professora do UniCeub Suely Guimarães. O estresse é uma das causas mais comuns. A enxaqueca é desencadeada a partir de variações hormonais do organismo como, por exemplo, o nível de cortisol, que é diretamente afetado, explica a especialista. “É importante, por isso, que os pacientes desenvolvam recursos que ajudem a reduzir a tensão que causa alterações nos neurotransmissores para aprender a administrar o estresse do dia a dia”, orienta a psicóloga. A dor vinda da cefaleia é uma resposta orgânica que impacta consideravelmente toda a esfera cognitiva. Dessa forma, é improvável que a resposta emocional não seja afetada.

Por ser uma doença sem cura até o momento, os pacientes, segundo Suely, têm uma expectativa fixa a respeito da dor que virá a qualquer momento, transformando a ansiedade em algo sempre presente. Caso algum desses quadros seja diagnosticado em conjunto com a enxaqueca, ela recomenda procurar um especialista que entenda o quadro completo do problema e respeite tanto a condição de enfermidade quanto a de ansiedade ou depressão.


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