ENSAIO SOBRE O AMOR!

  • EntreTantos
  • Publicado em 26 de setembro de 2017 às 18:19
  • Modificado em 8 de abril de 2021 às 14:27
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Ah paciente leitor!

Não sei se por força da primavera, induzido pelo desabrochar da vida, renovado pelo florir de esplendor do horizonte, mas, o fato é que minha aura outrora turva, se veste de certa reflexão, que quase beira a melancolia.

Ora! Contenha o sorriso sarcástico, pois, por mais improvável que possa parecer, também possuo um coração, que, muitas vezes, surpreende as expectativas anatômicas e foge ao ritmado labor de mero músculo, para se inflar de sentimentos.

“O amor é fogo que arde sem doer” dissera um sábio poeta. E quem sou eu para propor novas definições, novas ramificações deste universo emaranhado e abstrato. Entretanto, o amor é um departamento universal, que permite a cada um de nós, dar pitacos e teorizá-lo da maneira que melhor nos convir. Quem você amou, paciente leitor? E quantas vezes já o fizera? É óbvio que não faço qualquer referência às paixões cinematográficas, tampouco, enveredo pelas obscenidades da carne, que como bom pecador também possuo. Falo sobre amor humano, sobre nossa essência. Um sentimento mágico de bem querer, assexuado, anarquista, incondicional e, sobretudo, pacificador.

Seria necessário muita tinta e demasiadas doses de bebida para, senão esclarecer, ao menos, desanuviar este bendito e enigmático amor, que revela novas faces toda vez que estamos por desvendá-lo. O que mais entristece, toda vez que ouso embrenhar por entre este caminho talhado em rochas pontiagudas, é constatar que amar, foge completamente às regras e dogmas romantizado por nós. A romantização do amor é que nos torna piegas e vulneráveis. E por esta razão o ocultamos, pois, nenhum ser, sob perfeito gozo de sua sanidade mental, cometeria o suicídio de revelar suas fraquezas. E o amor nos torna pateticamente fracos quando o romantizamos e identificamos, de maneira equivocada, uma necessidade de expectativas politicamente corretas. Confesso que não sou um perito neste assunto, somente um esforçado aprendiz, não do romantismo, mas, da essência do relacionamento humano.

Honestamente, percebo que o amor contextual, se revela de maneira bem menos poética que aspiramos. Se concretiza em gestos genuínos. No simples despertar no meio da noite a velar o sono alheio, no singelo voto de boas vibrações, no querer estar ao lado daquela pessoa. O amor verdadeiro está no relacionamento. Relacionamento de pessoas. Na maioria das vezes confundimos este sentimento, que rege todos os outros, com atração carnal entre gêneros, ou, na simples sugestão genealógica. Por esta razão, não praticamos tal, cientes de que nossa cota esta bem servida, na restrição do lar. Embora você, provavelmente não tenha percebido, ou, tampouco se dedicara a refletir sobre tal questão, sou capaz de apostar um destes olhos que o astigmatismo tenta corroer, que você ama todos os dias, muitas pessoas. Desde o cônjuge, os filhos, ao amigo com quem muitas vezes dividira a mesa de bar, a quem você recorre quando esta diante de uma catástrofe.

Pouca gente fala sobre amor nos dias atuais, por uma simples razão. Não dá ibope. Aliás, o amor nunca deu muito cartaz, pelo menos no âmbito popular, visto que ações violentas são sempre mais procuradas. Todo escritor que ousa trilhar tal caminho, corre sério risco de ser rotulado como meloso, mas, é bem provável que, a esta altura do campeonato o leitor já identificara por si só, que não sou do tipo que dá muito crédito às classificações alheias. Portanto, amável leitor, um brinde ao amor substancial e impopular! 

*Essa coluna é semanal e atualizada às quartas-feiras.


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