Engie, dona da Usina Jaguara em Rifaina vende créditos carbono ao Itaú

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 15 de novembro de 2018 às 07:25
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:10
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Francesa Engie fechou venda ao Grupo Itau de créditos de carbono

A ​francesa Engie que no ano passado comprou a Usina Hidrelétrica de Jaguara, em Rifaina, da CEMIG, fechou recentemente a venda ao Itaú de créditos de carbono em quantidade suficiente para compensar 86 mil toneladas de CO2 emitido pela instituição financeira no biênio 2016/17, disse um diretor do grupo europeu de energia à Reuters nesta quarta-feira.

Logo da Engie em capacetes
03/10/2017
REUTERS/Stephane Mahe

A transação foi realizada com créditos gerados por uma usina solar da Engie no Rio Grande do Norte com 86 megawatts em capacidade.

A companhia também tem negociações em andamento com outras empresas para tentar capitalizar a redução de emissões proporcionada pela hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, de 3.750 megawatts, onde é a principal acionista, segundo o executivo.

A Engie não divulgou o total arrecadado com a venda de créditos da usina solar, mas estima-se que a hidrelétrica de Jirau, com muito mais potência, poderia obter volumes importantes para a empresa e os sócios no empreendimento, que tem demandado aportes.

Projetos de energia renovável podem negociar com terceiros seus créditos de carbono, ou Reduções Certificadas de Emissão (RCEs), desde que cadastrados no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) da Organização das Nações Unidas.

“A Engie tem a política de registrar no MDL todos seus projetos (renováveis) aqui no Brasil. Todos projetos eólicos, solares, e hidrelétricos também. Essa é uma prática, uma política nossa”, afirmou o diretor de Estratégia, Comunicação e Responsabilidade Social da Engie, Gil Maranhão.

“De forma material, objetiva, tangível, é uma receita adicional para o projeto e para o grupo, mas também é uma demonstração para as partes interessadas de como fazemos nossos projetos dentro das práticas mais modernas de sustentabilidade”, adicionou ele.

A venda dos créditos ao Itaú foi fechada por meio de um edital lançado no âmbito do programa Compromisso com o Clima, uma iniciativa do banco e da Natura com apoio do Instituto Ekos Brasil que busca criar uma rede de empresas interessadas em estratégias para mitigar emissões de carbono.

A negociação foi lastreada pela usina solar Floresta, em Areia Branca (RN), que está em operação desde dezembro de 2017 e foi registrada no MDL no mesmo ano.

Segundo Maranhão, o programa Compromisso com o Clima deve lançar em breve novos editais, por meio dos quais a Engie buscará emplacar outras negociações, inclusive com créditos gerados por outros de seus empreendimentos.

JIRAU

A negociação de créditos de carbono também tem sido avaliada pela Engie como uma alternativa para gerar recursos para a Energia Sustentável do Brasil (ESBR), empresa que reúne os sócios da hidrelétrica de Jirau, na qual o grupo francês tem uma participação de 40 por cento.

A ESBR ainda tem como sócias duas subsidiárias da Eletrobras, Chesf e Eletrosul, e a japonesa Mitsui, cada uma com 20 por cento.

A usina no rio Madeira recebeu investimentos de mais de 20 bilhões de reais e já está totalmente operacional, mas os acionistas têm se queixado recentemente da necessidade de aportar mais recursos no empreendimento devido a impactos sobre a receita associados a um déficit de geração hidrelétrica no Brasil.

“Jirau é talvez um dos maiores emissores de RCEs do Brasil… há conversas no sentido de gerar uma receita interna, entre os sócios do projeto. Os próprios sócios adquirirem RCEs e isso de alguma forma melhoraria os números do projeto”, afirmou Maranhão, em referência à ESBR.

“Existe uma conversa nessa linha. Nada concreto ainda, mas bastante adiantado… acho que esse ano não acontece, mas é uma coisa que está aí, tem um grupo de trabalho (criado pelos sócios) com esse objetivo”, explicou.

Segundo o diretor da Engie, alguns compradores de créditos de carbono têm resistência a RCEs gerados por empreendimentos hidrelétricos devido a críticas feitas por opositores da fonte, que alegam que projetos hídricos geram desmatamento e poderiam causar até um aumento nas emissões de carbono, ao invés de redução.

“Precisamos tentar derrubar esse tabu, acabar com esse mito… a questão das emissões já está vencida, a ciência derrubou esse mito”, afirmou Maranhão.

Ele admitiu que existem hidrelétricas que geram emissões, como a usina de Balbina, no Amazonas, construída durante o regime militar, mas defendeu que essas são exceções no mundo.

“Obviamente os opositores sempre usam esses casos como exemplo”, disse.

O executivo afirmou ainda que tem sentido uma maior demanda de empresas interessadas em aderir a metas voluntárias de redução de emissões no Brasil, em meio a uma preocupação cada vez maior com a sustentabilidade.

( * Com informações da Agência Reuters)


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