Economistas defendem inserção de idosos no mercado de trabalho

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 2 de dezembro de 2018 às 20:56
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:12
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Tendência é o crescimento da população idosa e mão de obra mais jovem se tornar escassa

A maioria das
empresas no Brasil ainda resiste a contratar pessoas com mais de 50 anos, mas
essa realidade terá de mudar porque a tendência é de aumento gradativo da
população idosa e de faltarem jovens para o mercado de trabalho.

A afirmação foi
feita pelo presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da
Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FecomercioSP), José Pastore,
durante encontro que discutiu a atual e a futura situação do idoso no mercado.

Segundo o economista, por enquanto, a sociedade não se deu conta
da desproporção entre o envelhecimento dos profissionais e a oferta da mão de
obra juvenil. Porém, à medida que a economia for retomando o crescimento, isso
será mais facilmente constatado, já que “haverá dificuldade em preencher
vagas”.

Pastore manifestou preocupação com o fato de os parlamentares
federais estarem postergando a reforma da Previdência. “As pessoas estão
envelhecendo muito depressa no Brasil e, daqui a alguns anos, vamos ter mais
idosos do que jovens, e a Previdência não vai ter condições de sustentar as
pessoas idosas, que vão durar mais tempo. Isso é inexorável, e temos de
acompanhar o que já ocorre em sociedades avançadas: fazendo com que o idoso
trabalhe por mais tempo.”

De acordo com o
economista, algumas empresas já desenvolvem atividades para absorver empregados
nessa faixa etária, mas não pelo sistema convencional, e sim por meio de
empreendedores, autônomos ou à distância, modalidade em que os trabalhadores
prestam serviços na própria casa. Esse tipo de trabalhadores aumenta no mundo
todo, “e aqui não deve ser diferente”, afirmou Pastore. 

Ele alertou, no
entanto, que, para se manterem ativos no mercado, os mais velhos terão que se
requalificar, principalmente, no que se refere à tecnologia. Pastore lembrou,
inclusive, que muitos fornecedores de ferramentas digitais vêm simplificando os
aplicativos, o que ajuda nessa inserção.

Também presente no evento, o economista Hélio Zylberstajn disse
que três quartos dos idosos no Brasil contam com algum tipo de cobertura, como
aposentadoria ou pensão, ou, às vezes, com os dois, simultaneamente, no caso de
viúvos, por exemplo. Na avaliação de Zylberstajn, os idosos recebem mais
assistência do que as crianças pobres.

Para o economista, ainda é muito baixa a participação dos idosos
no mercado de trabalho, em torno de 25%, enquanto o desemprego nessa faixa é de
apenas 4%. Ele reconhece, porém, que muitos nem vão atrás de trabalho por temer
o preconceito das empresas. “Precisamos atuar em duas frentes: abrir espaço para
eles nas empresas e encorajá-los a trabalhar.”

Diante disso, Zylberstajn defende o projeto de lei que cria o
Regime Especial de Trabalho do Aposentado (Reta), proposto em conjunto pelo
Instituto de Longevidade Mongeral Aegon e pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas (Fipe). A flexibilização das regras seria aplicada sobre os
aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do funcionalismo
público.

A ideia é empregar esse contingente, que teria apenas o salário
mensal sem os demais direitos trabalhistas, como férias eFundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS). Com o estímulo da isenção da contribuição
previdenciária e do FGTS para o empregador, a projeção é que, em 10 anos,
poderiam ser incorporados ao mercado de trabalho 1,8 milhão de aposentados.

Na opinião do presidente do Instituto de Longevidade Mongeral
Aegon, Nilton Molina, toda a sociedade deveria ser conscientizada sobre o
desafio da longevidade. “As empresas que hoje dificultam a admissão de uma
pessoa da terceira idade vão ter que pedir perdão, porque daqui a 15 ou 20 anos
teremos muito poucos jovens para trabalhar.”

Dados apresentados no encontro mostram que, em 2015, havia 16,1% de pessoas com
mais de 60 anos inseridas no mercado de trabalho, percentual que deve subir
para 58,4% em 2060, ou seja, dentro de quatro décadas, mais da metade da
população será idosa.


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