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Segundo analista, além da China, mercado argentino também afeta desempenho brasileiro
O Workshop Análise de Cenários, realizado ontem (05), em conjunto pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos Assintecal) e Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) revelou um cenário preocupante para a indústria nacional.
O evento, ocorrido no Locanda Hotel, em Novo Hamburgo/RS, contou com a presença de empresários e lideranças setoriais e foi conduzido pelo economista e professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Unisinos, Marcos Lélis.
Traçando um histórico da crise econômica atual, iniciada com a queda brusca nos preços das commodities, o que abalou principalmente as economias de países em desenvolvimento, Lélis chamou a atenção também para o “efeito China” na economia mundial.
Segundo ele, quando a China, segunda maior economia do mundo, estava importando mais, especialmente commodities, “tudo estava indo bem”.
As economias em desenvolvimento cresciam em níveis mais elevados do que a dos países desenvolvidos. A crise nos países emergentes teve início, justamente, com o desaquecimento da produção industrial chinesa, que de crescimento de 11,4% em 2012 diminuiu o ímpeto até chegar a expansão de 6% na previsão para 2015.
“Com o desaquecimento, a China passou a importar e exportar menos. Hoje o risco de uma desvalorização artificial da moeda chinesa frente ao dólar para melhorar as exportações pode provocar um problema mundial muito maior do que se elevada a taxa de juros nos Estados Unidos”, comentou o economista.
Especificamente sobre o receio do aumento dos juros básicos nos Estados Unidos, que esteve muito perto de acontecer e que poderia provocar uma debandada de capital dos países emergentes – caso do Brasil – para a maior economia mundial, Lélis é cético.
“Os Estados Unidos têm uma produção industrial crescendo 1%, com uma sobra de utilização da capacidade instalada de 25% e inflação de 0,5%. Vai ser muito difícil o aumento de juros com esse quadro”, frisou.
Além de China, outro mercado que tem afetado o desempenho brasileiro é a Argentina. Para Lélis, a crise no país vizinho é mais estrutural do que conjuntural. Conforme o economista, a produção industrial na Argentina vem caindo desde agosto de 2013.
As exportações argentinas seguem o mesmo caminho. Extremamente dependente de commodities, os embarques dos “hermanos” estão em queda desde novembro de 2013, tendo registrado tombo de 25% em maio.
BRASIL
Para Lélis, a economia brasileira só deve retomar o crescimento a partir de 2017. “As commodities não vão mais ajudar o Brasil”, disse. Segundo o economista, além de efeitos externos, o Brasil passa por um momento de ajustes importantes e necessários, que vêm sendo barrados por questões políticas. “O Brasil atual não está mais na mão de economistas, está nas mãos de políticos”, afirmou.
INFLAÇÃO
O especialista destacou, ainda, que a inflação de custos, monitorada pelos governos, vem onerando mais a indústria, especialmente porque com uma demanda reduzida é o setor que acaba absorvendo o “problema”. “Entre janeiro e setembro a inflação total foi de 9,5%, sendo que a inflação de custos, monitorada pelo governo, puxou a média para cima, com aumento de 16,3% no período”, explicou, ressaltando que a inflação monitorada diz respeito aos aumentos na energia elétrica, combustíveis, gás, transporte, entre outras questões que são autorizadas pelo poder público.
Segundo o economista, a política de juros básicos também não ajuda, já que segura a demanda e aumenta a dívida pública do Governo Federal. “O resultado afetou fortemente as contas do governo, que foram deteriorando chegando a um déficit primário de 0,9% do PIB”, destacou. Para ele, os ajustes que acontecem de forma abrupta agora deveriam ter iniciado anos atrás, quando aconteceu a desvalorização das commodities. “Hoje os cortes do governo não são suficientes para garantir o superávit”, acrescentou.
MENSAGEM
Depois do compilado de notícias não tão animadoras, Lélis passou uma mensagem um pouco mais otimista para os empresários. Para o economista, os ajustes vão fazer com que as empresas melhorem em aspectos de eficiência produtiva e qualificação de produto. “Depois que a tempestade passar, as contas estiverem ajustadas, o ambiente estará propício para um crescimento maior“, disse. As “gordurinhas”, segundo ele, vão desaparecer. “Certamente no futuro teremos empresas mais eficientes”, projetou.