É arriscado beijar bebês recém-nascidos? Saiba os cuidados na hora da visita

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de janeiro de 2019 às 21:52
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:18
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Em post no Facebook, mãe cujo filho pegou herpes após ser beijado por visita fez apelo para que não façam isso

“Parem
de querer beijar bebê que não é seu” — este é o pedido de Rafaela Moreira
feito em um post no Facebook no início deste mês de janeiro. Ela afirma que o
filho, Gustavo, foi infectado com herpes aos 17 dias de vida — por causa do
beijo de uma visita. A publicação viralizou, com mais de 185 mil
compartilhamentos e 25 mil “likes”.

Rafaela
contou que, um dia antes de aparecerem as bolhas no rosto do neném, ele chorava
muito, e ela chegou a achar que poderiam ser cólicas. Quando viu as marcas,
levou um susto. “O rosto dele estava todo infeccionado, aí eu o levei de
imediato ao hospital, onde a médica contou que o herpes foi contraído pelo
beijo. Ela recomendou que nessa fase a gente tem que evitar visitas”,
relatou.

Segundo especialistas, o vírus que causa o herpes afeta mais de 4
bilhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) — e é
muito perigoso em bebês.

Kléber Luz, infectologista e professor da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), explica que o herpes, bastante comum em adultos, traz
risco para recém-nascidos porque o sistema imunológico deles ainda é muito
frágil.

Existem dois tipos de vírus
que causam o herpes: o tipo 1 e o tipo 2. A infecção pelo 1 é a responsável
pela maioria dos casos de herpes oral — que causa feridas na boca que parecem
aquelas acarretadas pelo frio. Já o tipo 2 é o que dá origem à maioria dos
casos de herpes genital. Segundo a OMS, cerca de 3,7 bilhões de pessoas no
mundo abaixo dos 50 anos têm o tipo 1 do vírus, e 417 milhões, o tipo 2.

Contágio

“A transmissão é feita pelo contato —
principalmente íntimo, como um beijo — da pessoa infectada com a que nunca teve
herpes”, explica Kléber Luz. Ele lembra que, mesmo que as feridas não
estejam aparentes, a pessoa pode ser contaminada. O maior risco, no entanto, é
quando as feridas — chamadas de úlceras ou bolhas — estão aparentes.

A
doença, seja em sua variação oral ou genital, não tem cura, mas pode ser
tratada com antivirais, que ajudam a reduzir a severidade e a frequência dos
sintomas. Fatores como exposição ao sol e estresse podem desencadear as
feridas.

Como proteger os bebês

Kléber explica que, devido ao fato de a maioria das pessoas já ter sido
infectada por herpes — mesmo que não apresente sintomas —, a maior
probabilidade é de que a criança pegue a doença da própria mãe, por meio do
contato com o canal vaginal durante o parto normal. Segundo a OMS, isso
acontece com cerca de 10 a cada 100 mil nascidos em todo o mundo.

Mas a doença também pode ser transmitida se a pessoa infectada beijar o
bebê — como Rafaela relata ter sido o caso do filho. Por isso, é importante
adotar alguns cuidados na hora de visitar a criança.

Em primeiro lugar, espere um tempo

O ideal é não visitar a criança assim que ela nascer — espere pelo menos
um ou dois meses, inclusive para dar chance à mãe de se recuperar do parto. “Recém-nascido
não é pra ser visitado, é pra ser cuidado. Uma mãe, uma tia, uma avó, encerra
aí. Hoje em dia é uma caravana pra visitar — e pega, beija, abraça”,
recomenda Luz.

“A criança é muito frágil, o sistema imunológico está debilitado.
Quem tem que ter contato é a mãe. Ficar em silêncio. Deixa a criança fazer um
mês, dois meses, que aí pelo menos já tomou as primeiras vacinas.”

Evite
segurar a criança

“Ninguém tem que pegar o bebê no colo. Ele tem que
ficar na dele, quietinho, longe de todo mundo. Só quem pega é a família íntima.
Tocar na mão do bebê, por exemplo, é a mesma coisa que dar um beijo na boca
dele, porque ele coloca muito a mão na boca. E, se estiver doente, não vá
visitar”, diz a pediatra e professora da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (USP) Ana Escobar.

Se for pegar, lave as mãos e evite beijar o neném

“Todo bebê é um imunodeprimido — as defesas são baixíssimas”,
explica Ana. Por isso tem que ser tudo esterilizado, para não contaminar. Não
existe pegar num recém-nascido sem lavar as mãos e ter passado álcool em gel.
Beijar bebê não se deve — só gente muito próxima, mas mesmo assim só com
certeza absoluta de que não está doente. Pode pegar com roupa limpa, tendo
lavado a mão”, diz a pediatra.

E, por fim, cuidado ao levar crianças junto

“Deixe as crianças longe. Os pais têm que ter bom senso — criança
gripada, resfriada, não deve visitar, nem chegar perto ou respirar perto do
bebê”, orienta a médica.


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