Dormir pouco afeta genes, metabolismo e reduz expectativa de vida

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 3 de junho de 2018 às 21:29
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:47
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Há cada vez mais estudos que advertem sobre a fundamental importância do descanso

Dormir pouco traz não só graves
consequências para a saúde, mas também altera o funcionamento dos genes e reduz
a expectativa de vida. Assim advertiram vários pesquisadores
especializados em transtornos do sonho que participaram em Madri do simpósio
sobre estas patologias organizado pela Fundação Ramón Areces e o Instituto de
Investigações do Sono (IIS).

Em uma entrevista coletiva, o
responsável científico do encontro e diretor do ISS, Diego García-Borreguero,
explicou que o estudo dos transtornos do sono só começou na década de 1970 e
“até então não se pensava que o sono fosse um estado com circunstâncias
tão especiais”. No entanto, há cada vez mais estudos que advertem
sobre a importância do descanso e, sobretudo, das graves consequências que tem
sobre a saúde. “Os transtornos do sono são um fator de risco que
provocam todo tipo de doenças, desde a obesidade mórbida, passando pela
diabete, doenças neurológicas e imunológicas, entre outras”, afirmou o
especialista.

A incidência dos transtornos do sono
é muito elevada nos países ocidentais e “os novos estilos de vida da
sociedade moderna estão reduzindo o tempo de descanso das pessoas e, até hoje,
o déficit de ‘sono crônico’ afeta uma porcentagem muito elevada da população
saudável”, advertiu García-Borreguero.

Todos estes fatores fazem com que
seja cada vez mais importante “saber o que ocorre no cérebro, quando
descansa e quando não o faz” e nesse contexto “a investigação básica
é essencial”.

Na mesma linha, o pesquisador Paul
Franken, do Centro de Genômica Integral da Universidade de Lausanne (Suíça),
disse que é essencial descobrir por que é tão importante descansar corretamente
e determinar quais fatores estão envolvidos e por que varia tanto entre
indivíduos: “alguns funcionam perfeitamente com quatro horas de sonho e
outros precisam de nove”. Para Franken, a necessidade de passar um
terço da vida dormindo tem uma base biológica e o descanso, seja correto ou
não, tem graves consequências sobre os nossos genes.

Segundo vários estudos apresentados
por Franken, dormir a metade do tempo necessário pode chegar a alterar até 80%
do transcriptoma, (o conjunto de genes que estão se expressando em um dado
momento em uma célula), o que demonstra que “os efeitos de um sono
insuficiente no nosso sistema genético são muito maiores do que o que sabíamos
até agora”.

Por sua vez, Dennis Rosen,
investigador do Harvard Medical School e pediatra do Hospital Infantil de
Boston (EUA), advertiu sobre a importância de reconhecer o mais rápido possível
e tratar os transtornos do sono nas crianças e adolescentes, pois “cada
vez mais há evidências de que a falta de sono tem consequências que se arrastam
até a vida adulta”. “O descanso correto das crianças deveria ser uma
questão de saúde pública importante e lamentavelmente não é, nem para os pais
nem para os pediatras, apesar de as consequências poderem ser muito graves e
provocar obesidade, doenças metabólicas, danos cerebrais irreversíveis, e um
maior risco de sofrer doenças mentais e de abuso de álcool e drogas na idade
adulta”, afirmou o pediatra americano.


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