Dormir menos de seis horas por noite pode trazer mais danos à saúde

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de janeiro de 2019 às 22:01
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:18
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De acordo com pesquisadores, menos horas de sono favorece surgimento de aterosclerose

Um estudo divulgado nesta
segunda-feira, 14 de janeiro, pode tirar ainda mais o sono de quem já dorme
pouco.

De acordo com os pesquisadores, quem
dorme menos de seis horas por noite tem maior risco de aterosclerose – um
acúmulo de placas nas artérias por todo o corpo – em comparação com aqueles que
têm sono considerado normal, ou seja, de sete a oito horas por noite.

A pesquisa foi publicada no Journal
of American College of Cardiology. Doença vascular crônica e progressiva, que
geralmente aparece em adultos e idosos, a aterosclerose é uma inflamação da
camada mais interna das artérias, também chamada de túnica íntima – justamente
a parte que fica em contato direto com o sangue.

Essa inflamação ocorre como
consequência do acúmulo e oxidação de lipoproteínas nas paredes arteriais. “Este
é o primeiro estudo a mostrar que o sono objetivamente medido é
independentemente associado à aterosclerose em todo o corpo, não apenas no
coração”, afirma o professor e nutricionista José Ordovás, pesquisador do
Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares Carlos III, de Madri, e
diretor de nutrição do Centro de Pesquisa de Nutrição Humana Jean Mayer USDA
Envelhecimento na Universidade Tufts, em Massachussetts.

Ele lembra que estudos anteriores já
mostraram que a falta de sono aumenta o risco de doenças cardiovasculares, bem
como favorecem os fatores de risco para problemas cardíacos – como alterações
nos níveis de glicose, pressão arterial, inflamações e obesidade.

Considerados os fatores de risco
tradicionais para doenças cardíacas, o estudo mostrou que os que dormem menos
de seis horas têm 27% mais chance de ter aterosclerose em todo o corpo do que
aqueles que dormem de sete a oito horas. 

E aqueles que têm um sono de má
qualidade estão 34% mais propensos a ter a doença em comparação aos que dormem
bem – o estudo avaliou a qualidade do sono considerando quantas vezes por noite
a pessoa acordou e a frequência de movimentos enquanto estava dormindo. “É importante destacar isso: um
sono mais curto, porém de boa qualidade, pode superar os efeitos prejudiciais
de sua menor extensão”, comenta o cardiologista Valentin Fuster,
diretor-geral do Centro Nacional de Investigações Cardiovasculares Carlos III e
editor-chefe do Journal of American College of Cardiology.

“Há duas coisas que costumamos
fazer todos os dias: comer e dormir. Sabemos há muitos anos a relação entre boa
nutrição e saúde cardiovascular; no entanto, não sabemos tanto a relação entre
o sono e a saúde cardiovascular”, acrescenta Ordovás.

Metodologia

Os pesquisadores monitoraram a rotina de 3.974
adultos espanhóis, todos empregados em uma mesma instituição bancária – ou
seja, com rotinas profissionais semelhantes. O cardiologista Fuster realizou
exames de imagem para detectar a prevalência e as taxas de progressão de lesões
vasculares.

Os participantes da pesquisa tinham
idade média de 46 anos e todos nunca haviam sido diagnosticados com problemas
cardíacos. Dois terços eram homens. Todos utilizaram um aparelhinho para
monitoramento constante de atividades e movimentos, durante sete dias. Este
dispositivo mediu a rotina de sono deles de uma maneira objetiva e precisa – ao
contrário de pesquisas que se baseiam em questionários declaratórios.

Eles foram divididos em quatro
grupos: os que dormiam menos de seis horas, os que dormiam de seis a sete
horas, os que dormiam de sete a oito horas e os que dormiam mais de oito horas.
Todos os participantes realizaram um check-up do coração: ultrassonografia
cardíaca 3D e tomografia computadorizada cardíaca.

Segundo os
pesquisadores, a maneira como foram determinados os participantes deste estudo
é o grande diferencial em relação a outras pesquisas relacionando sono e saúde
do coração. Primeiramente, pelo tamanho da amostragem, maior do que o usual.
Outra característica interessante foi o fato de que este estudo focou uma
população originalmente saudável, enquanto pesquisas assim costumam selecionar
pessoas com apneia do sono ou outros problemas. 

Outras conclusões

Se dormir pouco pode ser ruim, exagerar também não é
um bom hábito. Embora entre os participantes fosse pequeno o número daqueles
que dormem mais de oito horas, os pesquisadores concluíram que esse
comportamento também estaria associado ao aumento na aterosclerose, sobretudo
no caso das mulheres.

O estudo também concluiu que consumo
de álcool e cafeína estão ligados a um sono de má qualidade. “Muitas
pessoas acham que o álcool é um bom indutor de sono, mas há um efeito que
precisa ser levado em conta”, afirma Ordovás. “Se uma pessoa toma bebidas
alcoólicas, ela pode acordar depois de um curto período de sono e ter
dificuldade em voltar a dormir. E, quando consegue, geralmente é um sono de má
qualidade.”

O café, por sua vez, é daquelas
substâncias que ora aparecem como vilãs, ora como benéficas para a saúde. De
acordo com Ordovás, mesmo que algumas pesquisas mostrem que ingerir a bebida
pode trazer efeitos positivos ao coração, tudo depende da maneira como a pessoa
o metaboliza. “Dependendo da genética, se você metabolizar o café mais
rapidamente, isso certamente não afetará seu sono”, comenta. “Mas se
você metabolizá-lo lentamente, a cafeína pode afetar o sono e aumentar as
chances de doenças cardiovasculares.”

“A
medicina está entrando em uma fase fascinante. Se até agora tentávamos entender
as doenças cardiovasculares, estudos como este nos ajuda a começar a entender a
saúde cardiovascular”, compara Fuster.


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