Doenças erradicadas criam a falsa sensação de que a vacina é desnecessária

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de julho de 2018 às 18:14
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Em 2017, apenas a BCG, contra tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta de 90%

Dados do Ministério da
Saúde mostram que a aplicação de todas as vacinas do calendário adulto estão
abaixo da meta no Brasil – incluindo a dose que protege contra o sarampo,
doença que registra surtos em pelo menos três estados.

Entre as crianças, a
situação não é muito diferente – em 2017, apenas a BCG, que protege contra a
tuberculose e é aplicada ainda na maternidade, atingia a meta de 90% de
imunização.

A tendência de queda nas
coberturas vacinais, segundo a pasta, começou a aparecer em 2016 e vem se
acentuando desde então. Em 312 municípios brasileiros, menos de 50% das
crianças foram vacinadas contra a poliomielite. Apesar de erradicada no país
desde 1990, a doença ainda é considerada endêmica em pelo menos três países –
Nigéria, Afeganistão e Paquistão – e ensaia uma reintrodução nas Américas caso
a cobertura vacinal não se mantenha em 95%.

A coordenadora do
Programa Nacional de Imunizações, Carla Domingues, avaliou que o sucesso da
vacinação no país ao longo das últimas décadas e a consequente erradicação de
doenças criaram uma falsa sensação de que as doses não são mais necessárias.
Outro problema, segundo ela, é a divulgação das chamadas fake news nas redes
sociais e que, no caso das vacinas, podem causar alarde e assustar a população.
“Se não tivermos a população devidamente vacinada, poderemos ter o risco de
reintrodução de doenças”, alertou. “Existe, por exemplo, um fluxo constante de
pessoas viajando. Se pararmos de vacinar, uma pessoa doente chega ao país e o
vírus tem a chance de voltar a circular. Enquanto a doença não for erradicada
no mundo, precisamos da vacinação”, completou.

Sarampo

De acordo com a
coordenadora, a situação do sarampo no Brasil é a que mais preocupa. Amazonas e
Roraima, juntos, já registram cerca de 500 casos confirmados e mais de 1.500 em
investigação. O Rio Grande do Sul também confirmou pelo menos seis casos. Países
de alta renda, segundo Carla, “relaxaram” com a vacinação. Itália, Grécia e
Bulgária são exemplos de nações com baixa cobertura vacinal para a doença. “O
sarampo é um risco concreto. Mais de 450 casos confirmados no Norte, em Roraima
e no Amazonas. Há casos confirmados no Rio Grande do Sul. Estamos investigando
casos em São Paulo e no Rio de Janeiro. Podemos ter uma retransmissão do
sarampo em todo o país”, alertou. “Os próprios profissionais de saúde deixaram
de achar que recomendação de vacina é importante”.

A orientação do
ministério é que todas as crianças, adolescentes e adultos até 29 anos recebam
as duas doses previstas para imunização. Adultos com idade entre 30 e 49 anos
devem receber uma dose.

Campanhas

Até 2012, o Brasil realizava duas campanhas anuais de vacinação
contra a pólio – época marcada pelo personagem Zé Gotinha. Atualmente,
acontecem apenas as campanhas de vacinação contra a gripe e de multivacinação,
quando as doses do calendário infantil que estão atrasadas são atualizadas. Entretanto,
conforme recomendação da Organização Mundial da Saúde para situações de baixa
cobertura, a pasta volta a realizar este ano campanha de vacinação contra a
pólio e o sarampo.

As doses, segundo Carla, devem ser distribuídas em todo o país
de 6 a 31 de agosto, no formato de campanha indiscriminada. Isso significa que
todas as crianças com idade entre 1 ano e menores de 5 anos que procurarem os
postos nesse período vão ser imunizadas – mesmo as que já haviam cumprido as
doses previstas no calendário infantil. “Será uma oportunidade de dar à criança
mais um reforço e aumentar a imunidade”, explicou.

Estratégias

Ainda de acordo com a coordenadora, a estratégia do ministério
frente à baixa cobertura vacinal e aos recentes surtos registrados em
diferentes regiões do país é a de mobilizar a sociedade e gestores para alertar
sobre os riscos.

Há situações,
segundo ela, que envolvem, por exemplo, bairros específicos com baixa adesão às
vacinas ou ainda problemas na hora de registrar os dados no sistema. “A população
só procura vacina quando o surto está na mídia e temos pessoas morrendo. Fora
isso, as pessoas não são vacinadas. Como se a vacina fosse uma ação curativa e
não preventiva. Ela deve vir antes do surto. É dessa forma que você ganha
imunidade. Até porque a vacina vai demorar pelo menos 15 dias para fazer efeito
e, em um surto, nesse espaço de tempo, você não fica devidamente protegido.”


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