​Design mais baseado em experiência e tecnologia é tendência dos calçados

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 17:15
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:13
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Maratona MMX, um público de mais de 500 pessoas, entre empresários e estudantes do setor calçadista

Os dias 7 e 8 de dezembro foram intensos para o setor calçadista. Nesses dias, no ParkShoppingCanoas, em Canoas/RS, foi realizada a primeira edição da Maratona MMX, evolução da Maratona MUDE. Além de mais de 20 apresentações, com palestras, cases, painéis de debate e mostras, o evento destacou duas equipes vencedoras, da Batalha Criativa e do Hackathon.

Trazendo um discurso engajado, social e ambientalmente, a equipe vencedora da Batalha Criativa é formada por Nicoli Bautitz, Bruna Vanessa Teixeira, Luiz Fernando Lottermann Junior e Sadi Roque Teixeira. O grupo apresentou três protótipos de calçados femininos que, por meio de um aplicativo de smartphone, facilita a economia circular com a logística reversa. 

De acordo com a proposta de posicionamento social e ambiental, a equipe desenvolveu uma bota transparente (modelo Transparency), uma plataforma que pode ser customizada (modelo Artsy) e uma bota que também é bolsa (modelo Metamorphose), ambas com o intuito de diminuir o consumismo. Quantos aos materiais utilizados, estão contemplados couro curtido com taninos, cepa de madeira proveniente de reflorestamento, solado de borracha reciclada e tintas à base d´água. 

O projeto, segundo Nicoli, também busca resgatar o conforto, com uma melhor distribuição do peso corporal feito por meio de uma palmilha funcional. A equipe vencedora levou para casa uma premiação de R$ 12 mil e cursos individuais na WTF! School.

Composta por Fabiano Henrique Petry, Jonathan Pablo de Oliveira, Pedro Henrique Pires e Sérgio Ricardo Oliveira de Andrade, a equipe vencedora do Hackathon da MMX apresentou um game embarcado em um tênis infantil. Com o objetivo de combater o sedentarismo entre os pequenos, o jogo consiste em instigar que a criança se exercite/caminhe para que consiste moedas e consiga suprir as necessidades de um dinossauro virtual. O game é realizado por meio de um dispositivo instalado no próprio calçado, ligado a um aplicativo no smartphone. A equipe já tem planos definidos para os R$ 12 mil ganhos na competição: no caso de comercialização do projeto, investir na melhoria do protótipo. Assim como a equipe da batalha de Design, o grupo recebeu cursos individuais na WTF! School.

Conteúdo

Ao longo dos dois dias de Maratona MMX, um público de mais de 500 pessoas, entre empresários e estudantes de moda, design e tecnologias, foi brindado com mais de 20 apresentações e mostras sobre os temas que farão o futuro do calçado.

O primeiro dia de apresentações abriu com Giane Brocco, especialista em Biomimética, que trouxe o tema da inspiração na natureza para a criação de produtos inovadores. Segundo ela, as principais marcas do mundo já estão olhando com mais atenção para a ciência, sendo que até 2030 a biomimética deve movimentar mais de US$ 1,6 trilhão em produtos “bio inspirados”. “O planeta é um imenso laboratório, e as pessoas e empresas estão se dando conta disso. Precisamos nos reconectar, em todos os sentidos, com a natureza”, destacou. Giane também apresentou cases do mundo da moda, como o sapato inspirado no crânio de um pássaro, a sola feita com fibras do côco como forma de obter maior resistência, as vestimentas feitas por bactérias – que desenvolvem o crescimento do tecido, entre outros produtos.

A segunda palestra do dia foi de Lisieux Pereira, embaixadora do movimento Fashion Revolution na Universidade Feevale. Destacando a importância crescente da ética, transparência e sustentabilidade na moda, ela citou o caso do desabamento do prédio da Rana Plaza, em Bangladesh, que matou mais de mil pessoas que trabalhavam em condições insalubres e sob risco, em 2013. “Hoje, as pessoas estão mais preocupadas com as condições de trabalho de quem produz seus bens. Então é importante que as marcas estejam atentas a isso e comuniquem com transparência as suas ações para o mercado”, disse, ligando o fato ao crescimento dos brechós e ao consumo consciente frente aos apelos do fast fashion.

Na sequência, o renomado estilista Vitorino Campos falou sobre processo criativo à frente da marca Animale. Segundo ele, é importante que a criação esteja conectada às necessidades do mercado de consumo. “Precisamos cruzar com o business para entender o que o consumidor está pedindo. Antigamente, a moda ditava as regras, hoje não”, ressaltou, reforçando a importância do trabalho colaborativo.

A penúltima palestra do primeiro dia ficou a cargo do professor Eduardo Zilles Borba, que falou sobre realidade virtual e aumentada, e como elas podem auxiliar as empresas na construção de experiências multissensoriais. Borba ressaltou que as ferramentas são em franca expansão e que até 2020 devem movimentar mais de US$ 150 milhões por ano (em 2017 movimentou US$ 20 milhões).

Alexandra Farah, colunista de Tecnologia da Vogue Brasil, falou na sequência sobre o impacto da transformação digital no mundo da moda, especialmente no que diz respeito aos Wearables (tecnologia vestível). Para a jornalista, existe uma percepção do consumidor de que as roupas precisam ter funcionalidade, serem mais inteligentes no sentido de auxiliar a vida humana. “As peças também precisam trazer sustentabilidade, que é uma exigência do mercado. Não existe inovação sem sustentabilidade e a moda precisa estar atenta a isso”, frisou.

O primeiro dia de MMX contou ainda com apresentações dos cases da Amuleto de Pano, de Vitória Cuervo (moda inclusiva), da Roupa Livre, do Ponto Firme e da Realidade virtual na prática (PlanXp), além de um painel que discutiu moda sem gênero.

Dia dois

O segundo dia de MMX começou com a apresentação da professora e pesquisadora Camila Luconi Viana, que trouxe o tema Sistema B, mecanismo de certificação de boas práticas ambientais presente em 10 países da América Latina e que já acreditou 340 empresas que, juntas, geram mais de US$ 3 bilhões por ano. Camila ressaltou que existe uma preocupação cada vez maior com a sustentabilidade, desde aspectos de produção até o descarte e o consumo desenfreado. “Há 10 anos ninguém dava tanto valor para a sustentabilidade. Hoje é uma realidade, especialmente impulsionada pela geração dos chamados millenialls, que já são 50% da força laboral no planeta”, apontou.

Dando sequência ao tema ligado à sustentabilidade, o professor Fabiano Nunes abordou Logística Reversa, trazendo cases como o de uma grande empresa que logrou uma redução de 94% dos custos com armazenamento de resíduos somente adotando sistemas de logística reversa para controle de estoques e de simbiose industrial para o descarte de materiais. “Ou seja, existem ganhos ambientais e também econômicos”, disse.

O diretor de Desenvolvimento de Negócios da Universal Robots, Denis Pineda, foi o terceiro palestrante do dia. Ele tratou do tema Robôs colaborativos, ressaltando que existe uma necessidade urgente de se cortar custos com a manufatura e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade dos empregos. Para o especialista, existe um crescimento do uso de robôs na manufatura, especialmente nos países mais desenvolvidos. “Existe uma previsão de crescimento de 50% desse mercado até 2021”, apontou, ressaltando que isso significa um aumento de comercialização de 5 mil robôs (hoje) para 50 mil por ano. “E o uso dos robôs colaborativos, que trabalham em sinergia com o ser humano, está crescendo mais do que o uso da robótica convencional, por motivos de custos, espaços físicos e funcionalidades”, informou.

A última palestra da MMX foi do diretor comercial da Farfetch, Alan Pierre, que discorreu sobre o case da plataforma de market place de luxo. Entregando em mais de 190 países e com mais de 200 mil produtos disponíveis (de 2,8 mil marcas), o site registra 55 mil clientes mensais. Pierre listou algumas vantagens do modelo de negócios, tanto para a empresa como para os varejistas que integram a plataforma comercial on-line. “Por outro lado, no Brasil enfrentamos alguns problemas, como barreiras alfandegárias e a cultura de compra no exterior, in loco”, comentou.

O segundo dia contou também com a apresentação dos cases da Insecta Shoes, da Revoada e do Galpão Makers, além do painel sobre transformação digital com Arezzo e Gerdau.  

Mostras

A MMX trouxe a tecnologia na prática com exposições de startups de destaque na área: Criativando, James Tip, BringUP, Kiskadi, Pix Force, Sentimonitor, Sirros IOT e Easypro Tecnologia, que tiveram a oportunidade de realizar pitchs durante os intervalos dos conteúdos. Outra exposição de destaque foi a realizada em parceria com o Museu Nacional do Calçado, da Universidade Feevale, que contou a história de um século (desde 1900) da moda calçadista mundial. 

O evento teve os patrocínios do ParkShopping Canoas, Couromoda, Francal e Colorgraf; parcerias da Grow+ Aceleradora de Startups, iTinvent, Koralle, PlanXP e Ishop Tecnologia; e apoio de Sebrae e CNPQ.


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