Depressão acelera envelhecimento cerebral, comprova novo estudo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 17 de fevereiro de 2019 às 22:54
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:23
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A ciência conseguiu mostrar evidências consistentes de danos cerebrais causados pela depressão

A depressão acelera o envelhecimento
cerebral, comprova um novo estudo realizado por pesquisadores da
Universidade Yale, nos Estados Unidos.

A doença já era considerada um fator
de risco para o desenvolvimento de Alzheimer e já havia sido associada a
diversos problemas, como aumento do risco de dor de cabeça, dor muscular e
alterações no sono. Agora, a ciência conseguiu mostrar evidências consistentes
de danos cerebrais causados pela depressão.

A nova pesquisa, apresentada na
Conferência da Associação Americana para o Avanço da Ciência, realizada em
Washington, nos Estados Unidos, mostrou que as conexões cerebrais começam
a diminuir dez anos mais cedo em indivíduos diagnosticados com depressão. Ou
seja, o declínio cognitivo começa a partir dos 40 anos e não aos 50 anos.

Essa característica aumenta o risco
de perda de memória, desaceleração da fala e até mesmo o desenvolvimento
precoce de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.

Análise
inovadora

Para chegar a esta conclusão, a equipe da
Universidade Yale aplicou exames de imagem cerebral em dez participantes
diagnosticados com depressão crônica (com idade média de 40 anos) e um grupo de
controle – sem depressão -, com idade média de 36 anos.

A técnica escolhida
foi o PET Scam, que utiliza marcadores radioativos para analisar
substâncias específicas. Nesse caso, a densidade sináptica. Ou seja, a
quantidade e o local das sinapses no cérebro.

Antes da criação de um marcador específico, a única
forma de fazer essa observação era através da autópsia do cérebro, o que dificultava
o entendimento de como a densidade sináptica poderia afetar a saúde mental do
indivíduo.

Os resultados mostraram que a densidade sináptica
foi de 2% a 3% menor nos indivíduos depressivos. “Quanto mais baixa for a
densidade, mais severos são os sintomas de depressão, particularmente problemas
de atenção e perda de interesse em atividades que antes eram consideradas
prazerosas”, comentou Irina Esterlis, principal autora do estudo,
durante reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência.

A densidade sináptica é importante porque sinapses
são como pequenas pontes, utilizadas pelas células nervosas para passar seus
impulsos para a outras células e assim transmitir informações para outras
regiões cerebrais e do corpo.

A perda de sinapses
é um fenômeno normal do envelhecimento. Entretanto, isso também está associado
ao desenvolvimento de distúrbios neurológicos, como o Alzheimer, em
pessoas entre 74 e 90 anos.

Sendo assim, a pesquisa indica que um subproduto
comum do envelhecimento é evidente em pessoas que sofrem de depressão. Embora
seja um estudo considerado pequeno devido à quantidade de participantes, o
resultado chama a atenção para a necessidade e novas investigações sobre o que
acontece com o cérebro de uma pessoa deprimida.

A descoberta também é uma hipótese plausível para
explicar porque as mulheres – que estão duas vezes mais propensas a sofrer
de depressão – têm o triplo do risco de sofrer Alzheimer, em comparação com a
população masculina.

O futuro

Diante dos achados, a equipe espera ser capaz de
ajudar pacientes com depressão por meio da criação de novas terapias voltadas
para atuação no hipocampo, região cerebral afetada tanto pela depressão
quanto pelo Alzheimer. Inclusive, essa semana, um painel da FDA – agência que regula medicamentos e alimentos
nos Estados Unidos – deu sinal verde para a aprovação de um novo tratamento
para casos depressão refratária. 

O medicamento é semelhante à cetamina, uma
substância originalmente utilizada como anestésico e tranquilizante para
cavalos, que mostrou-se eficaz contra a condição. “A cetamina foi capaz de revertes a densidade
sináptica em animais deprimidos”, afirma Irina Esterlis, líder do novo
estudo. Ela ressalta que a droga tem efeito em diversas regiões cerebrais,
incluindo o hipocampo e por isso, poderia
ser uma possibilidade para tentar retardar o início do Alzheimer. 


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