De doenças infecciosas a morte prematura, bactérias bucais são um perigo

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  • Publicado em 4 de janeiro de 2017 às 23:16
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:05
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Gengivite, tártaro, bolsa periodontal são exemplos de problemas causados pela precariedade na higiene bucal

Pode não parecer, mas as bactérias bucais são mais nocivas do que muita gente imagina, podendo aumentar em até 80% os riscos de uma morte prematura. É que o comprova estudo da USP – Universidade de São Paulo, Unifesp – Universidade Federal de São Paulo, e Unesp – Universidade Estadual Paulista. Eles descobriram evidências de que inflamações na boca podem levar a doenças cardiovasculares. O estudo mostrou que pacientes com a doença nas gengivas têm níveis até quatro vezes mais altos de triglicérides no sangue. Além disso, têm níveis mais baixos de HDL, o “bom colesterol”. “A doença periodontal leva o sistema imunológico a lutar contra as bactérias, mas o organismo acaba atacando o que não deve. O processo gera o LDL, ou seja, o ‘mau colesterol’, modificando o verdadeiro vilão da saúde cardiovascular”, explica o dentista Antônio José Carlos Munhoz, especialista em periodontia.

De acordo com ele, problemas bucais como doença crônica gengival – periodontite e gengivite – podem acarretar males no coração e nos pulmões, além de diabetes, obesidade, câncer, parto prematuro, entre outros. “Diversas doenças sistêmicas – aquelas que afetam todo o organismo – podem ter origem em infecções orais. Um exemplo é a endocartite bacteriana, infecção grave das válvulas cardíacas ou das superfícies do coração, cuja bactéria – instalada através da corrente sanguínea – que causa o problema pode ser proveniente de falta de cuidados com a higiene oral, e de doenças bucais existentes”, explica Antônio José.

Cuidados necessários

Segundo dados do projeto Saúde Bucal Brasil de 2014, a saúde bucal do brasileiro não anda nada bem. Os problemas periodontais são muito frequentes em todas as idades. Gengivite, tártaro, bolsa periodontal são exemplos de problemas causados pela precariedade na higiene bucal. O levantamento apontou esses problemas em 32% das crianças de 12 anos; 49% na faixa etária entre 15 e 19 anos e em 83% dos adultos entre 35 e 44 anos. “Menos de 22% de adultos e 8% dos idosos têm as gengivas totalmente saudáveis”, afirma o especialista, ao explicar que as complicações surgem quando a placa bacteriana não é removida e, assim, inicia-se a inflamação da gengiva. “Suas características mais conhecidas são a vermelhidão, inchaço e o sangramento”, completa.

Foram esses os sintomas que levaram a pedagoga Maria Cristina Pinto, 40 anos, a desconfiar que havia algo errado em sua boca. “Percebi minha gengiva mais sensível e qualquer coisa a fazia sangrar”, conta. Ao procurar um especialista, foi confirmado o quadro de gengivite. “Foi aí que fiquei sabendo da gravidade da situação, porque, até então, achava que pudesse ser algo mais simples”, diz Maria Cristina, que hoje mantém sua boca sob rigoroso controle. E ela está certa. Segundo o especialista, para manter a boca livre das bactérias é preciso escovar os dentes e usar o fio dental, no mínimo, duas vezes por dia. Não adianta repetir o procedimento 10 vezes, se você não escovar ou limpar corretamente. “Mesmo assim, é difícil deixar a boca completamente limpa, daí a importância da visita regular ao dentista”, enfatiza. É recomendado ainda que se faça visitas semestrais ao dentista, com realização de exames de sonda – análise da gengiva – e de raio-x – análise dos ossos do maxilar. O procedimento é protocolar e deve ser pedido em toda consulta de rotina. Como se vê, cuidar dos dentes não é apenas questão de estética, e sim de saúde.