De acordo com OMS, o Brasil é o país mais ansioso do mundo

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 7 de junho de 2019 às 13:51
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:36
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A partir de 1990, a fluoxetina, mais conhecida comercialmente como Prozac, tornou-se popular

O Brasil sofre uma epidemia de ansiedade. Segundo dados da
Organização Mundial de Saúde (OMS), o país tem o maior número de pessoas
ansiosas do mundo: 18,6 milhões de brasileiros (9,3% da população) convivem com
o transtorno. O tabu em relação ao uso de medicamentos, entretanto, ainda
permanece.

Daniel Martins Barros, psiquiatra, confirma. “As duas frases que
eu mais ouço na clínica são ‘eu não queria tomar remédio’, na primeira
consulta, e ‘eu não queria parar de tomar os remédios’, na consulta seguinte. A
gente tem muita resistência porque existem muitos mitos: ficar viciado, bobo,
impotente, engordar”.

Barros explica que todo remédio pode ter efeitos
colaterais e eles serão receitados quando existir uma relação de
custo-benefício a favor do paciente. “Tudo é assim na medicina e na vida”, diz.

Neury Botega, psiquiatra da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que há 30 anos
os médicos dispunham de recursos inadequados para tratar a ansiedade. “Ou
usávamos drogas bem pesadas, como barbitúricos, ou as que existem até hoje,
como as faixas pretas, os benzodiazepínicos. Por isso, nós vimos várias tias,
avós, viciadas em remédios e essa é uma das imagens gravadas quando pensamos em
tratamentos psiquiátricos”.

A partir de 1990, a fluoxetina, mais conhecida
comercialmente como Prozac,
torna-se popular. Para Botega, isso muda totalmente o paradigma do tratamento
da ansiedade. “Hoje, para tratá-la, na maioria das vezes usamos medicamentos
que aumentam a atividade de um neurotransmissor chamado serotonina. É o nosso
Bombril: mil e uma utilidades”.

Em relação ao tempo de duração do tratamento, não há
protocolos claros para a ansiedade, como existem para a depressão. “Ele pode
durar um tempo ou ser necessário pela vida inteira. Ansiedade é como pressão
alta: quando descontrola, às vezes é para sempre. Você pode controlar com
atividade física, meditação, terapia, mas ela vai estar sempre ali te
ameaçando”, diz Martins de Barros. De acordo com ele, os casos variam bastante:
há desde indivíduos que terão alta e nunca mais precisarão de remédios até
outros que dependerão de medicamentos para o resto da vida. 

Medicalização

O historiador Leandro Karnal, aponta outro lado da
questão e vê uma medicalização do comportamento humano. “Se o aluno não
consegue acompanhar as aulas, dão remédio para ele. Nem todo mundo que não
presta atenção tem déficit de atenção. A aula pode ser chata mesmo”, argumenta Rosely
Sayão, psicóloga e consultora em educação, chama a atenção para o que ela
intitula de “epidemia de diagnósticos”, que envolve leigos e profissionais de
saúde. Para ela, cada um de nós hoje usa a lógica médica para olhar para o
outro e dizer: “Essa pessoa é chata; essa pessoa tem TOC; fulano surtou”. “Nós
vivemos à base de diagnósticos e, quando fazemos isso, apagamos a pessoa que
está por trás dele”.


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