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Os últimos dias de vida do soberano foram marcados por luto e guerra — e por uma vontade inusitada
Dom Pedro I é conhecido como a figura ilustre que realizou o Grito da Independência, em 7 em de setembro de 1822 — mesmo que com dor de barriga.
Desde o início não tão glorioso, depois dos seus quase 9 anos de reinado, o governo do monarca teria um fim deprimente, com notável enfraquecimento político.
Por conta própria, o imperador então abdicou ao trono, em abril de 1831.
Aqueles tempos definitivamente não foram fáceis para o soberano: passou seus dias finais vivendo o luto e batalhas. E os finalizou decaído e doente, longe de qualquer glória.
Para completar, seu coração foi separado do resto do corpo — uma vontade fúnebre e inusitada do monarca. Mas, afinal, por que ele teve esse desejo?
Fim da vida
Vamos começar contextualizando os últimos dias do monarca. D. Pedro I teve que deixar tudo para trás e se mudar para a Europa em 7 de abril de 1831, em uma longa viagem, na companhia da segunda esposa, Dona Amélia.
Novamente, não encontrou grande apoio dos europeus, mesmo após tentar encontrar aliados na França e no Reino Unido. Como resultado, reivindicou seu título de Duque de Bragança — nome para o qual nem se quer era mais herdeiro direto.
Após o nascimento da filha dele, D. Maria Amélia, Pedro se viu tendo que deixar a esposa e a criança para lutar na Guerra Civil Portuguesa, em 1832.
Foi um baque, mas ele teve que superar. Em 9 de julho, entrou na cidade do Porto e liderou um grupo liberal.
Por estar em inferioridade numérica, o exército do ex-imperador não tinha grandes vantagens.
Tudo piorou em 1833, quando ele ficou sabendo que sua filha, Paula (fruto de sua relação com Maria Leopoldina), estava prestes a morrer. No meio da guerra, infelizmente, o luto não teve espaço.
Sem muitos sucessos, D.Pedro I teve que assinar uma aliança com exércitos espanhóis e, depois, um tratado de paz em 26 de maio de 1834.
Entretanto, nessa altura, a guerra já havia o minado demais. Sua saúde decaiu e, com imunidade baixa, o líder político contraiu tuberculose. Morreu em decorrência da doença em 1834.
Última vontade
O que poucos sabem é que D.Pedro I deixou em seu testamento, logo antes de morrer, que queria que seu coração permanecesse na cidade do Porto.
E essa vontade final tinha total relação com a Guerra Civil Portuguesa que tanto o desgastou.
Foi justamente em Porto que o português viveu por 13 meses (de julho de 1832 a agosto de 1833). E lá foi o palco da disputa que ele teve com seu irmão Dom Miguel I, travada no conflito.
Então, essa ligação afetiva entre seus últimos dias e o cenário bélico geraram em Pedro o desejo de deixar uma parte dele, que estava ligada à cidade portuguesa — literalmente, o seu coração.
Em 1972, as demais partes dos restos mortais de D.Pedro I foram levadas ao Brasil, e estão no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Mais precisamente, na cripta do Monumento à Independência.
Já o órgão que bombeia o sangue, como sabemos, está bem mais longe: repousa dentro de um recipiente de vidro, na Igreja de Nossa Senhora da Lapa, em Porto.
Curiosamente, a água do vidro é trocada uma vez a cada década pela prefeitura local.
Não dá para dizer que o coração está guardado a sete chaves, pois são, na verdade, cinco — a primeira abre uma placa de metal; a segunda e a terceira movimentam uma rede; a quarta, mexe uma urna; e a quinta, desloca uma caixa de madeira.
É curioso lembrar que, em vida, a Imperatriz Leopoldina, Dona Amélia ou a amante Domitila de Castro podem ter até tido as chaves para o coração de Dom Pedro.
Mas em termos biológicos, e não de afeto, os responsáveis agora são tecnicamente os seis funcionários que realizam o processo de abertura para a manutenção do órgão.
*Fonte: Aventuras na História