Cultura do Faça Você Mesmo ganha espaço nas salas de aula brasileiras

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 5 de agosto de 2018 às 16:15
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:55
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Objetivo é tornar o aprendizado mais atrativo e estimular estudantes a desenvolver projetos

Construir, consertar, modificar e
fabricar objetos e projetos com suas próprias mãos. Essa é a proposta
do Movimento Maker ou Cultura Maker, mais conhecida como Faça
Você Mesmo ou Do It Yourself (em inglês ou simplesmente DIY). 

Amplamente difundido nos Estados
Unidos, o movimento tem ganhado espaço nas escolas brasileiras, que
buscam com o método tornar o aprendizado mais atrativo e estimular os
estudantes a desenvolver projetos e produtos a partir
dos conteúdos escolares, muitas vezes pouco práticos.

Embora o movimento venha
crescendo na educação nos últimos anos, a ideia não é uma
novidade, já existe década de 1960, como explica a diretora
pedagógica da Via Maker Education, Sueli de Abreu. “Todo mundo está recorrendo
a autores daquela época, como Seymour Papert e Paulo Freire (que pregavam o
aprender fazendo, em vez de simplesmente receber a informação passivamente), e
estão trazendo isso para os nossos dias de forma reeditada”. A Via Maker
Education é uma empresa brasileira que desenvolve projetos com
uso de blocos de montar de plástico para cada fase escolar.

A diretora de conteúdo da feira de
educação Bett Educar, Vera Cabral, destaca que a tecnologia facilita “a inclusão
de todos os alunos, apresentam soluções que são mais viáveis para os processos
de aprendizagem em cada momento, além de facilitarem o trabalho do professor,
na medida que dá subsídio para ele achar diferentes estratégias”. A feira
é maior na área de educação e tecnologia da América Latina.

Tecnologia

Incentivador das impressoras 3D
e outros instrumentos de tecnologia digital, o Movimento Maker não está
restrito às disciplinas exatas. “Projetos makers vão funcionar para
valorizar os conhecimentos da matemática, ou da língua portuguesa, porque eu
posso fazer poema na cultura maker, posso fazer física, álgebra, química
qualquer coisa. Pode-se trabalhar todas as disciplinas escolares na cultura
maker”, diz o mestre em psicologia cognitiva e professor de
psicologia na Universidade Federal de Pernambuco, Luciano Meira.

Ele enfatiza, no entanto, que é
importante produzir algo em função da aprendizagem. “Eu não vou fabricar
copos porque é legal, mas porque está dentro de uma pedagogia de aprendizagem
da geometria de cilindros, por exemplo. A escola deve se preocupar com isso”.

Apesar da ligação com a
tecnologia, a cultura maker não precisa de tecnologia digital e materiais caros
para ser introduzida. “Não é preciso cortador à laser, nem impressora 3D, que são
obviamente, instrumentos de fabricação digital que você pode ter para
valorizar certos aspectos da cultura maker, mas não são imprescindíveis”, diz.
“Muitas vezes há um movimento de primeiro adquirir as coisas e depois fazer a
cultura acontecer”, defende.

Rede
pública

Os laboratórios makers têm sido
mais comuns nas escolas particulares, mas já existem iniciativas para que
o movimento chegue às escolas públicas no país. Uma delas é o programa Hacking
the STEM (sigla em inglês para as áreas de Ciências, Tecnologia, Artes e
Matemática), oferecido gratuitamente pela Microsoft.

O programa oferece planos
de aula de ciências, tecnologia, engenharia e matemática, desenvolvidos por
professores para professores. Os planos de aula são interdisciplinares e
permitem que os alunos criem uma variedade de projetos que variam desde o
desenvolvimento de anemômetros (instrumento de mede a velocidade e a
direção do vento) à construção de mãos robóticas a partir de
materiais recicláveis.

Fundadas na solução de problemas do
mundo real, as atividades também estimulam habilidades requisitadas no século
21 -mecânicas, elétricas e de engenharia de softwares – enquanto trazem à tona
a ciência de dados. “Existe muita dúvida quais serão as
profissões do futuro, mas uma coisa é certa, as profissões do futuro vão
demandar coleta e análise de dados, então experimentos que possibilitam que os
alunos comecem a se familiarizar com este tipo de ambiente de uma forma lúdica
e divertida é importante para que o aluno que possa aprender e melhor se
preparar para os desafios do futuro”, diz o diretor de Educação da
Microsoft, Antonio Moraes.

O governo federal
também tem atuado para que as novas tecnologias estejam disponíveis
na rede pública de ensino. Em novembro do ano passado, lançou a Política de
Inovação Educação Conectada, programa que pretende universalizar o acesso à
internet de alta velocidade nas escolas, a formação de professores para
práticas pedagógicas mediadas pelas novas tecnologias e o uso de conteúdos
educacionais digitais em sala.

Segundo o Ministério da Educação
(MEC), o programa prevê um plano de formação continuada para professores e
gestores com cursos específicos sobre práticas pedagógicas mediadas por
tecnologia, cultura digital e recursos educacionais como robótica. Serão oferecidas
bolsas de três meses para 6,2 mil articuladores que atuarão localmente, no
processo de construção e implementação de ações na rede de ensino.

Renovação

Não é somente com tecnologia digital
que as práticas pedagógicas estão sendo reinventadas. A música, por
exemplo, vem recebendo novas formas de aprendizagem. Um exemplo é o
projeto educacional Música em Família, que pretende proporcionar momentos
divertidos de interação da criança com a família e a escola, por meio de
atividades artísticas e brincadeiras extracurriculares.

O projeto nasceu da vontade dos
músicos Paula Satisteban e Eduardo Bologna e foi elaborado junto com
educadores. “Fizemos esse material que, através da música, que é um disparador,
inspira os educadores, as crianças e as famílias a olharem para si e se
divertirem e se encontrarem”, diz Paula. 

O projeto reúne um conjunto de
CDs e livros que a criança preenche com colagens e textos sobre suas
experiências e histórias com a família, e a música vem como pano de fundo. “Ainda não temos nenhum material em
telas de computadores, não somos contra, mas até agora não achamos necessário.
Nosso projeto é muito humano e proporciona esses encontros em família. A música
faz isso, toca a gente, é um projeto de vivência e experiência real e não
virtual”, acrescenta.


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