Crise cambial na Argentina já causa alerta entre exportadores de calçados

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 11 de maio de 2018 às 06:24
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:43
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Empresários gaúchos que vendem ao país vizinho monitoram crise

A decisão do governo argentino de buscar ajuda financeira no Fundo Monetário Internacional (FMI) gerou apreensão em setores que têm no país vizinho seu principal cliente no Exterior, como no caso dos calçados.

A negociação de empréstimo foi anunciada na terça-feira pelo presidente Mauricio Macri, diante da escalada do dólar no país vizinho.

Embora concordem não ter havido tempo suficiente para mensurar a dimensão do problema, empresários e dirigentes sindicais patronais alertam para os reflexos que devem ser sentidos a curto e médio prazos. Nos setores calçadista, automotivo e de máquinas agrícolas, por exemplo, a Argentina se consolida como o maior cliente externo dos gaúchos.

Para o presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a preocupação mais urgente é com possível atraso de pagamento. Em período maior, a perda de competitividade.

– É muito cedo para se perceber qualquer movimento, mas a médio prazo há receio de possível queda na demanda, o que prejudicaria nosso posicionamento no mercado – afirma Klein.

Fernando Koch, gerente de exportações da fabricante de calçados West Coast, de Ivoti, informa que a Argentina representa 33% do volume de exportações da empresa e que, por isso, desde a disparada do dólar e dos aumentos de tarifas de serviços básicos naquele país,  elevou o nível de atenção.

– Tínhamos todo um planejamento de vendas, que agora poderá ser repensado. Talvez tenhamos de rever formas de pagamento para nos precaver – diz Koch.

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul, Cláudio Bier, a situação preocupa à medida que a Argentina, além de responsável pela importação de 15% do que é produzido pelo segmento no Estado, figura entre os maiores produtores de soja do mundo:

– Veja a importância deste cliente. Essa não é a primeira crise argentina, mas sempre que o país entra nessa situação, somos prejudicados – afirma.

Bier estima que, daqui a um mês, será sentido o reflexo da crise, pois a tendência é de que os empresários argentinos estanquem as compras. E as empresas gaúchas deverão ser mais ponderadas quanto ao fornecimento de crédito, prevendo dificuldade de liquidação:

– O que está negociado, está indo. A preocupação, agora, é para o que não foi embarcado ainda.

Marcos Oderich, presidente da Oderich, de São Sebastião do Caí, aponta que, nas últimas duas semanas, foi surpreendido com o volume de pagamentos feitos por clientes argentinos, mesmo diante da desvalorização do peso ante ao dólar. Para ele, não está claro o que motivou esse movimento, mas sugere que os empresários possam estar liquidando suas dívidas para antecipar possíveis novas elevações da moeda norte-americana.

O principal executivo da companhia de conservas alimentícias explica que seus clientes, mesmo nos períodos mais sensíveis da economia argentina, honraram compromissos firmados. Para Oderich, o risco de calote é baixo:

– Trabalhamos com muita confiança nos nossos clientes. Ocorreram alguns atrasos, principalmente durante o governo de Cristina Kirchner, mas os pagamentos sempre foram feitos. Acho que não será diferente neste momento.

O executivo avalia que a característica dos seus compradores permitiu que, por enquanto, não houvesse reflexo negativo.

– Talvez seja pelo nosso perfil de clientes, formado por grandes varejistas e distribuidores, além de muitos fabricantes que não têm os produtos que produzimos. 

Acredito que quem tem um mix bem variado como o nosso não terá dificuldades. Nós, por exemplo, tivemos vários contratos fechados na última semana – exemplifica.

Como presidente do Sindicato das Indústrias de Alimentação do Estado, Oderich afirmou não ter percebido, por enquanto, reflexo do anúncio de Macri no setor.


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