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Eu estava furibundo¹.
Morávamos (Regina, os filhos e eu) há algum tempo em uma pequena chácara, próxima ao Poli Esportivo. Os meninos: Guilherme (9 anos), Luciana (7) e Liliana (5) eram ótimos, cândidos, disciplinados – em nossa presença. O Gui meio retraído; a Lu inquiridora e inquieta; a Li, mais tímida e com as pálpebras meio caídas, parecia zonzona – mas era a mais“esperta” e atenta. Bastava a ausência dos pais para que as artes ocorressem².
A criatividade deles era surpreendente. ”Pra” encurtar, ortopedistas os adoravam: somente a Lu, em apenas seis meses, quebrou o braço direito TRÊS vezes: rodando dentro de um pneu, caindo da mesa da copa (sobre a qual dançava balé) e despencando do galho da mangueira.
Como ia dizendo, no dia da minha furibundice, liderados pela Luciana os meninos aprontaram. Fiquei bravo (de mentirinha). Bati o pé, sapateei, dei “pitos” e fui encontrar a Luciana, sentadinha na cama, com os olhos lacrimejando, assustada, jeitinho de arrependimento e medo… Toda encolhidinha.
–Humm… Humm… (chorinho)
−QUASE PUSERAM FOGO NA CASA! (Voz alta)
Trêmula, os olhinhos cobertos pelas mãos, a voz miudinha e em soluços veio a resposta:
— A gente somos criança… “Né”, pai !?…
Aqui uma pausa!… Quando enchemos uma bexiga, dessas coloridas que enfeitam as festas de crianças, elas adoram furá-las para ouvir o “fiiiiiiiuuuuu” e aplaudir a trajetória maluca do bólide bexigoso.
Pois é! Esvaziou-se a fúria. Engoli a “braveza” e sai “devarinho”. Adeus furibundice!…
Já dizia o poeta:
“Resistir, quem há de?!…”
…..
¹ Escolhii “furibundo e furibundice” pela comicidade. Furioso, “brabo”, são ofensivas à sensibilidade de crianças. “Furibundo” tem um traço cômico, desajeitado….
² Preferi “ocorressem” ao invés de “acontecessem”, dada à previsibilidade arteira das crianças.
*Esta coluna é semanal e atualizada às quintas-feiras.