Cresce o uso de maquininhas de cartão nos pequenos negócios

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 14 de janeiro de 2019 às 12:09
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 19:18
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De acordo com o Sebrae, parcela de micro e pequenas empresas que possuem a máquina já chega a 46%

A utilização de
meios eletrônicos de pagamento vem crescendo ano após ano e, em 2018, somente
os gastos com cartões de crédito e débito devem ter superado a marca de 31% do
consumo das famílias brasileiras – em 2008, a proporção não chegava a 18%.

Nos últimos anos,
em particular, esse avanço vem sendo impulsionado pelo aumento da aceitação de
cartões em pequenos negócios, que representam a imensa maioria das empresas do
país.

De acordo com
pesquisa divulgada recentemente pelo Sebrae, saltou de 39% em 2016 para 46% em
2018 a parcela de micro e pequenas empresas que possuíam maquininha de cartão.

Entre as principais
explicações para o avanço, podemos apontar a queda das taxas de desconto – paga
pelos estabelecimentos comerciais sobre o valor de cada transação – e a
possibilidade de comprar a maquininha de cartão – e, com isso, se livrar das
despesas mensais com o aluguel.

Segundo a mesma
pesquisa, a taxa mais barata foi motivo de 78% dos entrevistados para a escolha
da maquininha – em 2016, o percentual era de 68%.

De fato, as taxas
médias pagas pelos lojistas nas vendas com cartão vêm registrando queda,
conforme apontam os últimos dados disponibilizados pelo Banco Central. No caso
do crédito, ela passou de 2,73% em 2016 para 2,63% em 2017. No caso do débito,
de 1,51% para 1,48%.

O recuo é reflexo
da entrada de novas credenciadoras no mercado e do consequente aumento da
competição. Segundo o Sebrae, 72% dos entrevistados em 2018 afirmaram comparar
as taxas antes de decidir pela contratação dos serviços, contra 67% em 2016.

Os benefícios da
entrada de novas empresas, porém, não se restringem à redução das taxas:
surgiram também novos modelos de negócios – como a venda de maquininhas –, mais
aderentes às necessidades dos micro e pequenos empresários.

Ainda de acordo com
a pesquisa do Sebrae, passou de 40% em 2016 para 63% em 2018 o percentual de
entrevistados que apontaram a compra da maquininha como motivo para escolha da
credenciadora.

Não é à toa que a
PagSeguro, pioneira no modelo de venda das maquininhas, lidera o mercado entre
micro e pequenas empresas.

Enquanto as três
maiores credenciadoras do país (Cielo, Rede e Getnet), ligadas a grandes
bancos, ainda respondem por cerca de 80% de todos os valores transacionados com
cartões no Brasil, no segmento de micro e pequenos empresas é a PagSeguro que
lidera o mercado, com 35% de participação, à frente de Cielo (27%), Rede (19%)
e GetNet (10%).

Quando são
considerados apenas os Microempreendedores Individuais (MEI), a participação da
PagSeguro é ainda maior, ultrapassando os 50%.

Em 2016, a Cielo
ainda liderava no segmento, com presença em 51% dos pequenos negócios, seguida
pela Rede (31%) e pela PagSeguro (16%). O avanço desta, assim como de outras
entrantes, como a Stone, somado à queda das taxas de descontos, resultou no
primeiro recuo nominal do lucro líquido da Cielo – a maior empresa do setor –,
que passou de R$ 3,2 bilhões nos nove primeiros meses de 2017 para R$ 2,8
bilhões no mesmo período de 2018.

Apesar do
acirramento da concorrência e da redução dos custos para os estabelecimentos
comerciais, vale ressaltar que mais da metade (54%) dos pequenos negócios do
país ainda não utiliza maquininha de cartão.

Entre estes, 80%
dos entrevistados em 2018 disseram não aceitar cartão por preferirem outras
formas de recebimento das vendas (dinheiro, cheque ou boleto bancário, por
exemplo) – em 2016, eram 79%.

Mesmo entre os que
aceitam cartão, “apenas” 30% das vendas são realizadas no crédito e 22%, no
débito.

Os entrevistados,
de maneira geral, ainda apontam os altos custos das vendas nos meios
eletrônicos – em especial nos cartões de crédito – como obstáculo ao avanço da
modalidade. Para 80%, o cartão de crédito é visto como o meio de pagamento com
maior custo, seguido por boleto bancário (10%), cheque (6%), cartão de débito
(3%) e dinheiro (1%).

Por outro lado,
mesmo entre os 54% dos entrevistados que ainda não possuem maquininha de cartão
há percepção de redução de custos. Entre 2016 e 2018, caiu de 56% para 41% o
percentual dos que apontaram a alta taxa de desconto e de antecipação de
recebíveis como motivo pelo qual não têm interesse pela maquininha.

Além disso, passou
de 54% para 36% a proporção dos que apontaram o alto custo da mensalidade ou da
compra a maquininha como motivo para não aceitação de cartão nas vendas.

Entre os que
utilizam maquininha, por sua vez, é bastante significativa a parcela dos
empresários para os quais a aceitação de cartões aumentou a segurança (66% em
2018, contra 57% em 2016), as vendas (58% em 2018, contra 57% em 2016) e a
satisfação do cliente (73% em 2018, contra 71% em 2016).

Assim, a tendência
é que os pagamentos eletrônicos continuem avançando no segmento de micro e
pequenas empresas. Até porque, ante o acirramento da concorrência, é provável
que continuemos a observar redução das taxas de desconto no caso das vendas no
cartão de crédito.

No caso do débito,
a limitação em 0,50% da taxa média de intercâmbio – parcela da taxa de desconto
paga ao emissor do cartão utilizado na transação –, imposta pelo Banco Central,
tende a reduzir as taxas pagas pelos estabelecimentos comerciais nas vendas na
modalidade.

Além dos cartões,
uma nova modalidade de pagamento eletrônico pode começar a ganhar força já em
2019: os pagamentos instantâneos (transferências monetárias eletrônicas nas
quais a transmissão da mensagem de pagamento e a disponibilidade de fundos para
o beneficiário final ocorre em tempo real e cujo serviço está disponível para
os usuários finais durante 24 horas por dia, 7 dias por semana e em todos os
dias no ano).

Na tentativa de
enfrentar a ainda elevada utilização do dinheiro em espécie para pagamentos –
que gera custos sociais relevantes associados a transporte, armazenagem e
segurança, entre outros –, as altas tarifas para realização de transferências
eletrônicas interbancárias de crédito, como a TED e o DOC, e os altos custos
para aceitação de cartões de crédito e de débito, o Banco Central deve definir
em breve as regras para a realização dos pagamentos instantâneos, o que tende a
alavancar o uso de carteiras e contas digitais.

Boa notícia para o
pequeno comércio, que deve continuar se beneficiando com a redução dos custos
associados aos meios de pagamento.


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