Crédito com cartão de loja cresce 22% em um mês; veja os cuidados

  • Bernardo Teixeira
  • Publicado em 20 de setembro de 2020 às 12:36
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 21:15
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As opções são as mais variadas, oferecidas até mesmo por mercados, postos de combustíveis e farmácias

Basta cruzar a porta principal para ouvir a pergunta: “Vamos fazer o cartão da loja?”. Ao chegar ao caixa: “Quer pagar as compras com 10% de desconto? É rapidinho”. A estratégia tem dado certo. Prova disto é que o mercado de crédito ensaia recuperação aos patamares anteriores à pandemia, e um dos motores do resultado é justamente o cartão de loja.

Em agosto, uma das maiores contribuições para o resultado veio da reabertura das lojas de departamento e o aumento do uso desta modalidade. As opções são as mais variadas, oferecidas até mesmo por mercados, postos de combustíveis e farmácias. 

A facilidade para obtenção do empréstimo tem seduzido muitos, mas o sistema pode mascarar riscos ao consumidor, fazê-lo perder o controle e pagar mais caro pela dívida.

Segundo o Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC), que calcula o número de solicitações de financiamentos mensais nos segmentos de varejo, bancos e serviços, houve um aumento de 22% nos pedidos de empréstimos neste tipo de comércio em relação ao mês anterior.

“A recuperação está relacionada tanto à reabertura do comércio quanto à adaptação de muitas redes para conceder o crédito online”, explica Breno Costa, diretor de Produtos da Neurotech.

O co-fundador do site Bem financeiro Adenias Gonçalves Filho alerta que é necessário ter disciplina no uso do cartão: “Esse dinheiro virtual impulsiona as compras por impulso. Promoções como ‘compre três por dois’ ou ‘só hoje’ são chamariz. Mas, muitas vezes, o gasto não cabe no orçamento”.

“A loja vende a ilusão do consumo fácil”, diz Fernando Capez, secretário de Defesa do Consumidor do Procon- SP

“A loja vende, através desse cartão, a ilusão do consumo fácil. Mas, na verdade, é um crédito caro, a juros bastante elevados. Em vez de o consumidor entrar numa financeira para pegar dinheiro, o empréstimo sofre maquiagem, sem que ele possa perceber que está contraindo um empréstimo para consumir naquele estabelecimento. E quanto mais fácil o crédito oferecido, mais caro ele é para compensar o risco da operação. No supermercado, por exemplo, o cliente tende a comprar só num local que nem sempre é o mais em conta, sendo submetido à política de preços daquele fornecedor, e ainda pagando os juros do cartão.”

Para órgãos de defesa do consumidor, a abordagem para contratação do cartão pode ser considerada abusiva, dependendo da insistência do vendedor ou se a loja não oferecer ao cliente todas as informações necessárias sobre as condições de utilização do crédito. 

A promessa é adquirir benefícios e descontos, sem burocracia. O que os vendedores não contam são as altas taxas do crédito rotativo que podem levar ao endividamento.

Quanto mais fácil o crédito, mais caro ele é, para compensar o risco da operação.

“Os juros dos cartões de loja se aproximam das taxas de rotativo do cartão de crédito. Em muitos casos, aquele consumidor não conseguiria fazer um cartão de crédito de banco, ou pegar um empréstimo. Há taxas embutidas em cada compra” explica Filipe Pires, coordenador do MBA em Finanças do Ibmec/RJ.

O cartão de loja dá poder de compra a classes mais baixas, oferecendo possibilidade de parcelamento para quem não possui outro tipo de cartão de crédito. 

Mas, se houver atraso nos pagamentos, por causa dos juros cobrados, a compra de uma blusinha pode virar uma dívida impagável. Nesse caso, a professora de Finanças nos MBAs da FGV, Myrian Lund, recomenda ter paciência para negociar:

“É preciso que a pessoa só aceite um acordo que seja capaz de honrar. O ideal é que a pessoa já diga para a empresa o valor da parcela que cabe no seu orçamento mensal. Se a empresa não ceder, não se desespere. Ligue todo mês até conseguir uma proposta que seja vantajosa para você”.


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