Consumidor deve pagar a conta do reajuste de 15% da tabela do frete

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 18 de janeiro de 2020 às 00:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 20:16
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Caso não seja revogado, reajuste entre em vigor na segunda, 20, com impacto imediato nos preços ao consumidor

Representantes da indústria, do comércio e do agronegócio acreditam que se, de fato, o reajuste da tabela de frete em até 15% determinado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não for revogado e passar a vigorar a partir da próxima segunda-feira, dia 20 de janeiro, haverá impacto imediato nos preços ao consumidor.

“O reajuste da tabela de frete deve ter reflexo imediato nos preços dos eletroeletrônicos”, afirma José Jorge do Nascimento, presidente da Eletros, associação que reúne a indústria do setor. 

Ele argumenta que no caso da variação cambial, que impacta o custo dos eletroeletrônicos por conta do uso de componentes importados, é possível postergar o aumento de preços trabalhando com os estoques remanescentes. Mas, no caso do frete, isso não é possível.

Levantamento informal feito entre os associados da entidade revela que o frete para os fabricantes de eletrônicos subiu entre 180% e 200% até hoje desde início do tabelamento, já incluindo o reajuste de 15%.

O presidente da Eletros também questiona o porcentual de reajuste. Não sei de onde tiraram 15%: a inflação está abaixo de 5%, a taxa Selic (taxa básica de juros) também está abaixo de 5%, o IGP-M um pouco acima de 5 e as margens de lucro do setor produtivo estão longe de 10%.”

Ronaldo dos Santos, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas) também diz que, se o reajuste da tabela de frete for aplicado, ele acabará sendo repassado para os preços dos produtos vendidos nos supermercados e o consumidor irá pagar essa conta. “Vamos ter que repassar para os preços”, diz.

Assim como Nascimento, Santos, da Apas, é contrário ao tabelamento de preços na economia, especialmente no governo atual que defende a liberdade econômica. “O governo do presidente Jair Bolsonaro que veio com a proposta de ser mais liberal manteve o tabelamento do frete”, lembra Nascimento, apontando que se trata de uma contradição.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antonio Galvan, também diz que o seu setor é totalmente contrário a qualquer tipo de tabelamento, inclusive do produto agrícola. 

“Tabelamento do frete envolve custo para a sociedade de uma maneira geral que o mercado não suporta e esse aumento de custo vai estourar no consumidor não apenas no produtor rural”, afirma. Ele acrescenta que o aumento do frete pode virar pressão inflacionária.

Cabotagem

Galvan diz que o governo precisa mudar o modal de transporte e que não tem lógica, no caso dos grãos, o custo do frete representar o equivalente de duas a três vezes o valor da carga. 

A colheita da soja já começou no Mato Grosso. Mas a maior parte da safra sai do campo e é escoada pelas rodovias do Estado até o porto no mês que vem.

Nascimento, da Eletros, diz que o aumento da tabela do frete rodoviário tem reflexo maior sobre as indústrias localizadas nas regiões Nordeste e Sul do País. 

No caso do Sudeste, o impacto é menor por conta da proximidade do mercado consumidor. E os eletroeletrônicos fabricados na região Norte, na Zona Franca de Manaus (AM), são escoados para o Sudeste por meio de navios de cabotagem. “Nosso medo é repetir o que aconteceu em 2018, quando houve reajuste no frete de cabotagem por causa do tabelamento do frete rodoviário e da maior demanda pelo serviço.”

Fonte: Estadão


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