Constelação Familiar já é usada em Franca na solução de conflitos do Judiciário

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  • Publicado em 25 de junho de 2018 às 18:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:49
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Técnica terapêutica é capaz de encontrar e eliminar bloqueios em uma geração ou integrante da família

Processos judiciais podem ser longos, cansativos e custosos. Quando consistem em problemas familiares, a situação envolve sentimentos e os anos de convivência, o que pode tornar tudo ainda mais difícil. Para evitar a judicialização desses conflitos e resolver os dramas na origem, a Vara do Juizado Especial Civel – JEPEC e o Centro Judicial de Solução de Conflitos de Franca – CEJUSC implantaram no final de abril o projeto “Justiça – Um Novo Olhar”, que viabiliza um olhar mais humanizado para os conflitos que são levados ao judiciário. Para isso, utiliza a Constelação Familiar Sistêmica, que visa esclarecer para as partes o que há por trás do conflito que gerou o processo judicial.

Em conformidade com a Resolução CNJ n. 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que estimula práticas que proporcionam tratamento adequado dos conflitos de interesse do Poder Judiciário, a Constelação Familiar Sistêmica vem sendo utilizada como reforço antes das tentativas de conciliação em vários estados. Em Franca, os conflitos levados para uma sessão de constelação, em geral versam sobre questões de origem familiar, como violência doméstica, endividamento, guarda de filhos, divórcios litigiosos, inventário, adoção e abandono. “Por enquanto, está abrangendo os processos no âmbito do Juizado Especial Cível – JEPEC e processos que são encaminhados para o Centro de Solução de Conflitos – CEJUSC. Por meio de triagem são selecionados os casos de difícil solução, de preferência que envolvem questões de família”, explica a advogada, terapeuta especialista em Constelação Familiar, presidente da Comissão de Direito Sistêmico da OAB Franca-13ª Subseção e idealizadora do projeto “Justiça – Um Novo Olhar”, Keila Pereira.

Em Franca, na fase inicial do projeto “Justiça – Um Novo Olhar”, a Constelação Familiar é realizada de forma individual

O primeiro caso onde foi utilizada a Constelação Familiar em Franca tramitava na Vara do Juizado Especial Cível e passou por várias tentativas de conciliação sem sucesso. “O processo estava em fase de ser sentenciado, porém a juíza Márcia Christina, titular da Vara do JEPEC e coordenadora do CEJUSC, com sua experiência e espírito inovador, acolheu e viabilizou o projeto ‘Justiça – Um Novo Olhar’, entendendo por bem encaminhar as partes para a vivência da Constelação Familiar”, comenta Keila, acrescentando que neste caso haviam quatro processos decorrentes de um mesmo problema. Ao final da sessão o casal se reconciliou,  foi feito um termo de acordo encerrando o processo e no mesmo termo constou que seria informado nos demais processos este acordo. Os advogados das partes se encarregaram de tomar as devidas providências para o encerramento dos processos. “Na maioria das vezes o resultado não ocorre de imediato, as partes necessitam de tempo para interiorizar a vivência e realizar as mudanças. Assim, para saber com efetividade o efeito da vivência é necessário aguardar o decurso de um tempo que varia de pessoas para pessoa”, explica.

Ampla atuação no Direito

Segundo a advogada, a Constelação Familiar pode ser aplicada em todas as áreas do Direito, mas por enquanto, em Franca, está abrangendo apenas os processos da Vara do Juizado Especial Cível – JEPEC e  casos que são encaminhados para o Cento de Solução de Conflitos – CEJUSC. “Nosso objetivo é expandir o projeto para outras Varas da Comarca”, afirma. Para isso, Keila adianta que o projeto deve ganhar uma equipe multidisciplinar para acompanhamento dos casos após a constelação, não só para efeito de suporte, como para apuração e levantamento dos resultados que serão todos lançados em relatório anual.

Especialista na Terapia de Constelação Familiar Sistêmica, a advogada Keila Pereira vê inúmeros benefícios da utilização da técnica

Unidades de Justiça de pelo menos 16 estados e o Distrito Federal já utilizam a técnica criada pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger, hoje com 92 anos de idade, que alicerçou seu sistema na Teoria Geral dos Sistemas, na Fenomenologia e no Psicodrama.

Na Justiça, a intenção é esclarecer as partes sobre o que há por trás do conflito que gerou o processo e abrir caminhos para a pacificação social. “A constelação  mostra qual padrão está sendo repetido, possibilita que as pessoas se olhem nos olhos e compreendam que a atitude de cada uma não é movida por uma intenção pessoal, mas que vem de vínculos ancestrais que levam a repetição de determinado padrão”, diz Keila. “Este novo olhar para o conflito possibilita o diálogo e melhora os relacionamentos, o que pode resultar em acordo no judiciário”, diz.

Benefícios para todos

A Constelação Familiar é uma técnica terapêutica breve, capaz de encontrar e eliminar bloqueios do fluxo de amor em uma geração ou integrante da família. No judiciário, tem por escopo conciliar, profunda e definitivamente, as partes, mediante o conhecimento e a compreensão das causas ocultas geradoras das desavenças, resultando daí paz e equilíbrio para os sistemas envolvidos.

No Brasil, ela começou a ser aplicada no judiciário em 2012, na Bahia, com o juiz Sami Storch. Em Franca, nesta fase inicial, a Constelação Familiar é realizada de forma individual através de bonecos para representação das partes envolvidas no processo e outros membros que estejam de alguma forma, ligados ao conflito. “É uma abordagem de amor, reconciliação e paz para os seres humanos, é um novo olhar para a mesma vida”, reforça Keila.


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