Conselho proíbe médicos de cobrarem por terapia experimental com ozônio

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 12 de julho de 2018 às 13:46
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Trabalhos não oferecem aos médicos e aos pacientes a certeza de que a ozonioterapia é eficaz e segura

O
Conselho Federal de Medicina determinou que a terapia com ozônio, conhecida
como ozonioterapia, só pode ser aplicada em caráter experimental, dentro de
protocolo de estudo definido pela Comissão Nacional de Ética e Pesquisa
(Conep).

Na
prática, isso significa que médicos não vão poder cobrar de pacientes em
nenhuma etapa da aplicação, o sigilo e anonimato deve ser garantido e especialistas
devem oferecer atendimento médico-hospitalar no caso de reações adversas.

A determinação do Conselho Federal de medicina foi publicada nesta
semana no Diário Oficial da União.

A ozonioterapia é uma técnica que utiliza uma mistura de gases oxigênio
e ozônio por várias vias: são aplicadas injeções ou a administração pode ser
via retal, por exemplo. A finalidade é terapêutica, mas, segundo o CFM, não há
estudos com metodologia adequada que comprovem as várias promessas da terapia.

O Conselho Federal de Medicina diz que a decisão foi tomada após análise
de uma série de estudos e trabalhos científicos sobre o tema. “Os
trabalhos são ainda incipientes e não oferecem aos médicos e aos pacientes a
certeza de que a ozonioterapia é eficaz e segura”, diz Leonardo Sérvio
Luz, médico e um dos conselheiros do CFM.

Em nota, a Associação Brasileira de Ozonioterapia (ABOZ) diz que vai
apresentar estudos com evidências ao Conselho Federal de Medicina. Já o
conselho, diz que já avaliou mais de 26 mil trabalhos a pedido da associação e
que, em geral, os estudos não apresentam metodologia adequada.

Cura para Aids?

Em algumas cidades do país é possível
encontrar médicos que efetuam a cobrança do procedimento de maneira indevida e
com falsas promessas.

No Rio Grande do Norte, um médico
cobrou R$ 16 mil para tratamento da cura da Aids. Já em São Paulo, um especialista
cobrou até R$ 5.400 para terapia contra hepatite C.

Um dos médicos consultados, Raymundo Paraná, da Universidade Federal da Bahia, explica que o ozônio não é capaz
de adentrar em células saudáveis, mas trata doenças porque consegue
“quebrar especificamente protozoários, fungos e vírus”.

Na esteira da explicação, o médico prometeu tratamento anti-HIV com o
método e cobrou R$ 16 mil para um tratamento de quatro meses.

O infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo, diz que “a explicação é muito simplória e não reflete necessariamente
o que a gente vê na multiplicação do vírus.”

Em São Paulo, um médico promoteu tratamento contra a Hepatite C. O
médico explica que o ozônio é introduzido no sangue e, com isso, provoca a
eliminação do vírus. “O ozônio, quando entra no organismo, queima tudo o
que está ácido. Tudo o que tiver inflamado, ou doído, ou com problemas de
funcionamento está ácido”, diz. A consulta com o especialista custou R$
150. E o tratamento poderia chegar a custar R$ 5.400 (20 sessões de R$ 270 cada
uma).


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