O poder antioxidante e anti-inflamatório de dez frutos brasileiros

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 22 de maio de 2018 às 17:09
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:45
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Os compostos podem ajudar a combater doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, câncer e outros

Há na mata atlântica e na caatinga frutas que podem ajudar no
combate a doenças cada vez mais incidentes na população, como o diabetes e a
depressão.

Esse potente pomar, porém, é pouco conhecido pela ciência, admitem
pesquisadores. Na tentativa de explorá-lo, uma equipe da Escola Superior de
Agricultura Luiz Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), estuda os
potenciais antioxidantes e anti-inflamatórios de 10 frutas brasileiras — a
maioria delas também desconhecidas entre as pessoas comuns.

As frutas estudadas foram araçá-boi, cambuití-cipó, murici
vermelho, murici guassú, morango silvestre, cambuci, jaracatiá-mamão,
juquirioba, fruta do sabiá e cajá. Os pesquisadores analisaram os extratos
etanólicos das polpas das frutas para medir a capacidade de sequestro de
radicais livres — que podem causar a degradação celular, entre outros efeitos
maléficos ao corpo humano.
Das frutas mapeadas, cinco mostraram maior atividade antioxidante e/ou
anti-inflamatória: araçá-boi, cambuití-cipó, murici vermelho, morango silvestre
e cajá.  “Os animais tratados com elas apresentaram reduções no influxo de
neutrófilos”, explica Soares. Os neutrófilos são células responsáveis pela
defesa e pela imunidade do organismo — alto nível dessas estruturas no sangue
pode indicar a ocorrência de infecção ou inflamação.

A presença de compostos fenólicos, grupo de antioxidantes que
combatem os radicais livres, também foi um critério considerado pela equipe,
com destaque também nas cinco frutas. Segundo a autora, nos experimentos, elas
apresentaram importantes atividades antioxidantes e anti-inflamatória, além de
grande biodiversidade de compostos bioativos. “Entre eles, ácidos fenólicos e
flavonoides, que têm atraído grande interesse por pesquisadores de todo o mundo
devido às bioatividades e à possibilidade de prevenção de doenças crônicas
degenerativas não transmissíveis”, acrescenta.

Professora titular do Departamento de Química da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), Jacqueline Aparecida Takahashi explica que os
compostos fenólicos têm sido cada vez mais associados a benefícios para o
organismo, como proteção contra doenças coronárias e câncer. Fernanda Bassan,
professora do curso de nutrição da Universidade Católica de Brasília,
acrescenta que a presença de compostos bioativos também podem prevenir e ajudar
no tratamento de diabetes, doenças neurodegenerativas e da depressão.

Valorização nacional

Além da busca pelo potencial terapêutico das frutas, a valorização
dos produtos nacionais motivou os integrantes do estudo — que contou com a
parceria de cientistas da Faculdade de Odontologia da Universidade de Campinas
(Unicamp). “As frutas nativas são um patrimônio nacional, porém ainda pouco
valorizado pela população, principalmente pelo desconhecimento. Por exemplo,
das 20 principais frutas consumidas pela população brasileira, apenas três são
nativas: goiaba, maracujá e abacaxi”, detalha Jackeline Cintra Soares.
Fernanda Bassan compartilha da opinião da pesquisadora. “Estamos muito
acostumados a comprar frutas vermelhas, como amora, framboesa e morango, por
terem antioxidantes, achando que o que vem de fora é melhor. Mas essas frutas
acabam sendo mais caras. Há frutas aqui do Brasil que também são riquíssimas
nesses compostos”, ressalta.

Segundo os autores do estudo, incentivar o consumo de frutas
nativas também pode contribuir para o alcance da média de ingestão de frutas e
vegetais diárias no país.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que o consumo per
capita seja de 146kg ao ano. No Brasil, não chega à metade: 57kg, segundo o
Instituto Brasileiro de Frutas. “Outro ponto importante é que as indústrias vêm
buscando antioxidantes naturais para substituir os sintéticos, e as frutas
nativas são grandes fontes inspiradoras nessa questão”, complementa Jackeline
Cintra Soares.

Sem agrotóxico

Professor de tecnologia de alimentos da Universidade Católica de
Brasília, Marcus Cerqueira chama a atenção para a forma como as frutas são
cultivadas. Aquelas que crescem livres de agrotóxicos, em ambiente natural, com
muito ataque de insetos, bactérias e fungos, criam substâncias de defesa que
são passados para a fruta ou para a flor. “Quando consumimos essas substâncias
bioativas, os compostos fenólicos, elas vão ter uma ação muito parecida no
nosso organismo, agindo como antioxidante, com atividade anti-inflamatória”.

Segundo Cerqueira, outras características da
plantação também beneficiam o potencial terapêutico da colheita. Estudos têm
mostrado que, em frutas do cerrado, frio intenso, restrição hídrica, queimadas,
fungos e bactérias exigem uma capacidade maior de se defender, que chegue ao
consumidor. “Elas criam substâncias poderosas com o mesmo potencial das frutas
citadas na pesquisa da USP. O pequi, o buriti e o cajuzinho-do-cerrado tem
substâncias muito parecidas”, lista.


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