Conheça a história sobre a Revolução Constitucionalista de 1932

  • Cesar Colleti
  • Publicado em 8 de julho de 2018 às 18:23
  • Modificado em 8 de outubro de 2020 às 18:51
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Mortes foram o estopim que deu início no dia 9 de julho de 1932 à Revolução Constitucionalista

Antes de falar sobre a Revolução Constitucionalista
de 1932, é preciso voltar alguns anos na história para buscar os embriões deste
que foi um dos maiores movimentos armados da história do Brasil.

Durante a República Velha (1889-1930), formou-se uma
aliança entre os estados mais ricos e influentes do país na época, São Paulo e
Minas Gerais, cujos representantes alternavam-se no posto da presidência da
república naquilo que ficou conhecido como a “política do café com
leite”.

Em 1930, porém, o presidente Washington Luís,
representante dos paulistas, rompe a aliança com os mineiros e indica o
governador de São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor, que venceu as
eleições. As oligarquias mineiras não aceitam o resultado e, por meio de um
golpe de estado articulado com os estados do Rio Grande do Sul e da Paraíba,
colocam Getúlio Vargas no poder. “Getúlio vem com uma nova
proposta de modernização do país. O grupo que chega ao poder pretende promover
essas mudanças de maneira autoritária, sem consultas eleitorais”, conta
Alexandre Hecker, professor de História Contemporânea da Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e da Universidade Mackenzie.

O novo presidente fecha o Congresso Nacional, anula a
Constituição de 1891 e depõe governadores de diversos estados, passando a
nomear interventores. As medidas desagradam profundamente as elites paulistas
tradicionais. “Esses grupos, que eram ligados ao Partido Republicano
Paulista (PRP) e haviam sido derrotados pela revolução de 1930, passam a
trabalhar em oposição ao governo de Getúlio”, diz Alexandre. Já, a partir
de 1931, se junta a essa elite deposta um “grupo mais moderno”, que
exige do governo a criação de uma carta magna que regesse a legislação do país
– algo que Vargas vinha adiando cada vez mais – além de eleições gerais para
presidente da república.

Ao mesmo tempo em que se formava esse grupo
opositor, fortaleciam-se, em São Paulo, os chamados tenentistas, constituídos
não apenas por militares, mas também de civis que agiam sob sua liderança.
“Eles se reuniam no Clube Três de Outubro e apoiavam as ações do
governo”, explica o professor. “Havia diversas brigas de rua entre os
estudantes do Largo São Francisco e esse grupo getulista, os tenentistas”.
No dia 23 de maio, essas forças se encontraram e se defrontaram nas ruas de São
Paulo, o que resultou na morte de alguns estudantes em praça pública, que
ficaram famosos como MMDC (sigla das iniciais dos quatro jovens mortos:
Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Mais tarde, adicionou-se a letra A, de
Alvarenga, ao final da sigla, de outro jovem que acabou morto por causa do
conflito).

Essas mortes foram o estopim que deu início no dia 9
de julho de 1932 à Revolução Constitucionalista. Com a ajuda dos meios de
comunicação em massa, o movimento ganha apoio popular e mobiliza 35 mil homens
pelo lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo Vargas. “Havia
uma possibilidade de que outros estados viessem em apoio ao governo do estado
de São Paulo, mas ele ficou isolado e, com isso, se desenvolveu uma série de
batalhas”, destaca Alexandre. Foram quase três meses de batalhas
sangrentas, encerradas em 2 de outubro daquele mesmo ano, com a derrota militar
dos constitucionalistas. “Moralmente, porém, em termos de denúncia
política, o movimento foi vencedor, porque logo depois do término do conflito,
o governo federal convocou eleições para uma Assembleia Constituinte, que
promulgou a Constituição do Brasil em 1934. Foi também quando, pela primeira
vez no país, as mulheres participaram do processo eleitoral”, ressalta o historiador.

O termo “revolução” para o movimento
constitucionalista não é muito adequado àquilo que se propunha fazer, segundo o
professor. “Não era uma revolução. Na verdade, desejava-se a normatização
da legislação e do processo eleitoral, e não uma mudança no sentido de
alteração das relações de poder ou qualquer coisa que significasse uma
limitação no processo de desenvolvimento capitalista”, afirma. Ele diz
que, para alguns historiadores, o movimento é considerado até conservador e
anti-revolucionário. “Era uma elite derrotada que queria voltar ao poder e
encontraram nesse movimento uma desculpa para isso”.


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